Projeto Revida Mariana estabelece regras de responsabilidade social do empreendedor Isis Medeiros/CUT
"O Brasil não tem hoje um macro regulatório que diga quem são os atingidos e como eles serão reparados. E essa é uma das grandes lutas que a gente tem pautado nos últimos dias", destaca o dirigente do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Francisco Kelvim.
A campanha Revida Mariana foi lançada em setembro pelo MAB. A iniciativa busca cobrar justiça e apontar os limites do processo reparatório do rompimento da barragem da mineradora Samarco localizada em Mariana (MG). Nesse domingo, 5, completaram-se oito anos desde que o episódio aconteceu. Estão sendo divulgados vídeos que dão visibilidade a histórias pessoais envolvendo tragédia. "É hora de estancar a lama da mineração irresponsável no Brasil. Essa tragédia só acaba com justiça. E você? Aguentaria esperar oito anos se perdesse tudo?", diz a chamada de um deles.
Junto à campanha, foi organizada uma jornada de lutas para marcar os oito anos do rompimento da barragem. Nesse domingo, um ato foi realizado em Brasília. As atividades se estendem até terça-feira, 7, quando haverá uma audiência pública na Câmara dos Deputados, para discutir a possibilidade de uma repactuação do processo reparatório.
Há duas semanas, envolvidos na campanha chegaram a ser recebidos pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin. O PL 2.788/2019 foi uma das pautas em discussão. De acordo com Francisco Kelvim, o projeto é fruto do processo de luta e da organização das populações atingidas ao longo das últimas décadas.
De acordo com o PL, podem ser considerados atingidos aqueles que sofrem perda de propriedade ou de posse de imóvel, desvalorização de seu imóvel e ainda perdas de capacidade produtiva, de atividade pesqueira ou de manejo de recursos naturais, de acesso à água de qualidade, de fonte de renda ou mudança de modo de vida.
São definidas diretrizes para a reparação, que podem ser dar pela reposição, pela indenização e pela compensação. O PL também assegura o direito de os atingidos contarem com assistência técnica e fixa regras para o processo de reassentamentos. Outra medida prevista é a criação de um órgão para acompanhar os trabalhos da reparação. Ele deve ser composto por representantes do poder público, dos empreendedores e dos atingidos.
Além da aprovação da lei, o MAB defende a criação de um fundo específico para custear a reparação em cada contexto. A proposta é que os recursos sejam de diferentes origens – públicos, privados e também de doações internacionais – e o seu uso seja determinado com a participação dos atingidos.
Reparação
Mas, passados oito anos, o processo é marcado pela insatisfação e acumulam-se milhares de ações judiciais. Há contestações dos atingidos, do Ministério Público e da Defensoria Pública sobre a atuação da Fundação Renova e sua falta de independência perante as mineradoras. Os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, bem como o governo federal, também já manifestaram incômodo com o andamento da reparação.
A campanha Revida Mariana também busca sensibilizar a comunidade internacional, o que poderia fortalecer os atingidos na ação movida na Inglaterra. Um manifesto cobrando a reparação dos danos e uma repactuação que dê voz às vítimas e à sociedade civil foi lançado, obtendo apoio no Brasil e fora do país. Diversas instituições internacionais assinaram o texto, entre elas o Greenpeace e a Amis de la Terre.
O manifesto aponta que o rompimento da barragem da Samarco é o maior desastre ambiental do mundo, mas as propostas de repactuação do processo de reparação têm envolvido quantias bem inferiores aos gastos pela petroleira BP após o derramamento de óleo no Golfo do México, ocorrido em 2010.
Em nota, a Fundação Renova, afirma que, até agosto de 2023, foram destinados R$ 32,66 bilhões às ações de reparação e compensação. "Desse valor, R$ 13,17 bilhões foram para o pagamento de indenizações e R$ 2,55 bilhões em auxílios financeiros emergenciais, totalizando R$ 15,72 bilhões para 431,2 mil pessoas", sustenta a entidade.
Por sua vez, a Samarco disse estar comprometida com a reparação integral dos danos, garantindo total suporte para o desenvolvimento das ações previstas no acordo firmado em 2016. A Vale afirmou que vem prestando apoio à Fundação Renova. A BHP também manifestou suporte à entidade e acrescentou que está disposta de buscar coletivamente soluções que garantam uma reparação integral.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.