Festival de Arte e Cultura da Agroecologia, no Passeio Público, no centro do Rio de JaneiroReprodução/Agência Brasil
A coordenadora participou nesta terça-feira (21) de uma roda de conversa do Barracão Contra Agrotóxicos e Transgênicos Tenda Rachel Karlson, no Festival de Arte e Cultura da Agroecologia, no Parque do Passeio Público, centro do Rio de Janeiro.
O local é um dos oito barracões dos saberes montados no evento, que reúne cerca de 350 expositores e expositoras de povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais, em 150 barracas. De hoje até quinta-feira das 8h às 18h, serão vendidas peças de artesanato e produtos de alimentação saudável.
A participação da agricultura familiar dentro da produção agrícola do Brasil, segundo Maíra, apesar de ter registrado um crescimento ao longo da vida do MST, representou um desafio.
“Nos últimos sete, oito anos deixamos de acessar muitas políticas públicas que são direitos dos agricultores familiares, e aí fez com que o que a gente vinha conseguindo de avançar na produção de alimentos saudáveis e fazer com que esses alimentos sejam vinculados, de fato, às populações, retrocedesse. Retrocedeu tanto que hoje a gente tem 33 milhões de pessoas que não comem [no país] e outros milhões com insegurança alimentar”, pontuou.
Um avanço no período, de acordo com Maíra que também é uma das coordenadoras no país do Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, foi o aumento da conscientização de agricultores familiares na produção mais saudável.
“Na pandemia, a gente conseguiu, não só o MST, mas a agricultura familiar como um todo ter o que é crucial na existência humana que é a solidariedade. Diante de uma complexidade tão grande que a sociedade passava e a fome tão presente a gente conseguiu vincular territórios à produção de alimentos que estava sendo distribuído para comunidades urbanas periféricas das cidades. Com isso, a gente conseguiu a ampliação dessa nossa produção de alimentos saudáveis”, observou.
O Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, lançado em 2020, tem a perspectiva de plantar 100 mil árvores até 2030 em todas as áreas de assentamento e acampamento em todo Brasil.
“Queremos ampliar isso para outros territórios com a sociedade, nas cidades, nos parques para o plantio de árvores. Para isso acontecer, trabalhamos estratégias diferentes de coletas de sementes e construção de viveiros, hoje temos mais de 300 viveiros no Brasil todo que produzem mudas”.
Indígenas
Produção
Para Mateus André, que divide a barraca com Francisco, o grande gargalo do pequeno produtor continua sendo o transporte. “Infelizmente não temos no Brasil uma forma de escoamento democrática. É distância, frete sempre tem esse empecilho todo. Eu faço entrega a domicílio e participo também de feiras patrocinadas pela Abio [Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro] do Circuito Carioca de Feiras, onde tenho uns pontos e escoo um pouco desses produtos”, conta.
Segundo o agricultor, participar da Feira é uma forma de dar mais visibilidade aos produtos de pequenos produtores.
“É importante que a sociedade de uma maneira geral reconheça o trabalho do pequeno agricultor porque somos nós, na verdade, que produzimos o alimento são e sem agrotóxicos, sem importações, utilizando aquilo que temos aqui. Não é só orgânico, mas a característica principal que é a sustentabilidade e o respeito pela terra”.
Marcos André, que produz mel a partir de abelhas nativas sem ferrão, está satisfeito de poder apresentar o seu produto na Feira que considera muito qualificado. De acordo com ele, essas abelhas têm origem no Brasil e ao longo dos anos ajudaram a polinizar florestas do país. Ele destacou ainda a importância desta abelha em áreas reflorestadas.
“As árvores não são grandes o suficiente e não têm oco para as abelhas nativas, então o meliponicultor, quando cultiva a abelha nativa ele está oferecendo um espaço para que exista esta abelha em áreas recém florestadas”, explica.
Marcos André conta que a produção na Fazenda São Marcos ainda é pequena, mas tem avançado, e espera em breve chegar a uma quantidade maior de mel produzido no local. “Estou trabalhando com três espécies e à medida que a gente for expandindo vai aumentando o número de espécies”, comentou, completando que o valor agregado no mel dessas abelhas é maior do que de a do tipo apis .
“A abelha jataí [um tipo de nativa], por exemplo, produz de meio a um litro de mel por ano, então elas têm um valor agregado maior e também para a saúde. Elas desenvolveram vários antibactericidas. O mel e o própolis delas são antibióticos naturais. Ela tem uma produção bem menor, mas a gente cobra um valor maior por todo benefício que traz para as pessoas e para o meio ambiente”, disse.
O produtor explicou que é chamado de apicultor quem produz a partir da abelha apis, que tem origem na Europa e África.
Isabela Santos Gonçalves Costa, da Firmeza Hub, empresa que organizou a feira, disse que o papel do evento é trazer a diversidade dos produtores para se encontrar com os consumidores de uma forma mais próxima. “Além da feira voltada à venda de produtos populares e de alimentos a gente tem os barracões dos saberes, que são espaços acadêmicos, de fala e de compartilhamento”, completou, destacando a presença de alunos de escolas públicas que visitam a feira no Parque do Passeio
Além disso, a escolha do Parque do Passeio Público, no centro do Rio, local que já teve muita representação no passado e atualmente é pouco aproveitado por moradores e visitantes da cidade, foi intencional.
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