Trânsito de SP tem o maior número de mortes em 8 anos Fernando Frazão/Agência Brasil

A cidade de São Paulo atingiu, em 2023, o pior patamar de mortes no trânsito desde 2015, primeiro ano em que dados do tipo foram coletados pelo Infosiga, sistema de monitoramento de acidentes do Estado.
Segundo o levantamento, 987 pessoas morreram no trânsito paulistano em 2023, uma média de 2,7 mortes por dia. A maioria das vítimas são homens, jovens e motociclistas. Em 2015, foram 1 129 mortes nas vias da cidade.
O valor registrado pelo Infosiga no ano passado é 7,6% maior que o de 2022, que teve 917 mortes em acidentes nas ruas de São Paulo. É também 13,1% superior ao patamar pré-pandemia - 873 mortes em 2019. No período de maior isolamento social, em 2020 e 2021, as mortes caíram: 752 e 741, respectivamente.
A gestão Ricardo Nunes (MDB) tinha a redução do número de óbitos no trânsito como uma de suas metas. Em seu plano de governo inicial, constava "reduzir o índice de mortes no trânsito para 4,5 por 100 mil habitantes". Considerando que a população de São Paulo está estimada em 11,96 milhões, o número idealizado pela Prefeitura seria de 538 mortes por ano, em torno de 45% do valor real de 2023.
Em abril de 2023, porém, houve atualização do plano de metas da Prefeitura, que deixou de mirar redução específica do número de mortes no trânsito. O objetivo passou a ser "realizar 18 ações para a redução do índice de mortes no trânsito". Procurada para comentar os dados recentes, a Prefeitura disse que implanta "uma série de medidas para evitar acidentes de trânsito".
Vítimas
Os dados do Infosiga apontam que, entre as vítimas fatais do trânsito, a maioria são homens (81%), têm entre 18 e 24 anos (15,2%) ou 25 e 29 anos (13,5%) e estavam em motocicletas (43,2%). Cerca de 50% dos óbitos são de condutores de veículos e 36% são de pedestres. A parcela de passageiros de veículos corresponde a 9%. Ao todo, 1,3 milhão de motos circulam todo dia pela cidade, segundo a Prefeitura.
Entre principais políticas de trânsito implementadas pelo Município nos últimos anos estão as Faixas Azuis, exclusivas para motocicletas, em algumas das principais avenidas da cidade, como a Bandeirantes e a 23 de Maio. A medida "reduziu para zero o número de mortes de motociclistas que usam os 89 km de sinalização", diz a Prefeitura. A meta é chegar a 200 km de Faixas Azuis em vários eixos viários da capital até o fim de 2024. Por não estar prevista no Código Nacional de Trânsito (CTB), a nova sinalização precisa do aval da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) para ser implantada de forma experimental Nos últimos meses, entre as vias que receberam a Faixa Azul estão as avenidas Sumaré, Paulo VI e Faria Lima, na zona oeste; do Estado, no centro; e Luiz Dumont Villares e Zaki Narchi, na zona norte.
Medidas ainda são insuficientes, dizem especialistas
Para o engenheiro mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP Sergio Jzenberg e o arquiteto, urbanista e consultor de engenharia de tráfego Flamínio Fichmann, a Faixa Azul é um ponto positivo, mas as medidas tomadas até então para resolver o problema de mortes no trânsito de São Paulo são "insuficientes"
"Imagina que a gente tem uma epidemia de mortes no trânsito e fizemos uma vacina, que é uma ótima vacina, a Faixa Azul, mas ela depende de duas doses e só chegou para uma parcela mínima da população", afirma Jzenberg. "As Faixas Azuis são muito eficientes e poderíamos implantar em cerca de 400 km em 1 ano", diz Fichmann. Para ambos, porém, uma fiscalização mais eficiente da velocidade das motocicletas é primordial.
A Prefeitura destacou que, além de instalar Faixas Azuis, proibiu a circulação de motos nas pistas expressas das marginais e implementou as chamadas áreas calmas (intervenções urbanas com diminuição de velocidade, sinalizações específicas e, em alguns casos, alargamento de calçadas).