Presidente do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffmann (PR)Antonio Cruz/Agência Brasil

Com o Palácio do Planalto em silêncio sobre o ato de Jair Bolsonaro (PL) neste domingo, 25, em São Paulo, coube à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, comentar a manifestação. A dirigente petista disse que o discurso do ex-presidente foi "típico de um farsante" e afirmou que ele terceirizou para o pastor Silas Malafaia os ataques que sempre fez ao Judiciário.
Bolsonaro convocou a manifestação depois de ter sido um dos alvos da operação Tempus Veritatis (hora da verdade, em latim) da Polícia Federal (PF), no último dia 8, quando teve que entregar seu passaporte às autoridades. A PF apura a participação do ex-presidente em uma articulação para dar um golpe de Estado que impediria a realização das eleições de 2022 ou a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Não adianta amaciar discurso nem posar de vítima, o Brasil e o mundo conhecem o prontuário antidemocrático, ditatorial e fascista de Jair Bolsonaro. Continua sendo e sempre será uma ameaça à democracia, ao estado de direito e à paz. O que Bolsonaro fez foi terceirizar para Malafaia os ataques que sempre fez à Justiça, às instituições e à verdade", escreveu Gleisi, no X (antigo Twitter).
"O discurso de Bolsonaro foi típico de um farsante, do começo ao fim. Devia ter apresentado à Polícia Federal sua versão fabulosa sobre o decreto de golpe. Seria confrontado com as provas da conspiração, que previa tropas na rua e prisão de ministros e adversários", emendou a petista. Na visão da deputada, ao pedir anistia para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o ex-presidente está mirando sua própria impunidade. "Com golpista não tem que ter complacência, a começar pelo chefe de todos eles."
Após o ato deste domingo, aliados de Bolsonaro no Congresso tentam dissociar o ex-presidente dos ataques feitos por Malafaia a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Deputados e senadores de oposição ao governo Lula ressaltam que a maioria dos discursos no trio elétrico montado na Avenida Paulista foi em tom pacífico e dizem que Bolsonaro deu seu recado sem afrontar ninguém.
Um dos organizadores da manifestação, Malafaia afirmou que há uma "engenharia do mal" para prender Bolsonaro. No trio elétrico, em São Paulo, o religioso também criticou pessoalmente o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, e o ministro da Corte Alexandre de Moraes.
Malafaia começou o discurso dizendo que não estava ali para atacar o STF. Ao longo da fala, contudo, fez uma série de críticas ao Judiciário e chamou Bolsonaro de o "maior perseguido político" da história do País. "O sangue de Clécio está na mão de Alexandre de Moraes e ele vai dar conta a Deus", disse o pastor, em referência a um dos presos pelos ataques de 8 de janeiro, que morreu na cadeia.
Ao citar frase na qual Barroso afirmou que o País havia derrotado o bolsonarismo, o pastor também atacou o presidente do STF. "Isso é uma vergonha, é uma afronta ao povo", declarou, ao acrescentar que o "supremo poder da nação" é o povo. "Não tenho medo de ser preso. Vergonha é se calar, se esconder, fugir", disse Malafaia.
Bolsonaro, por sua vez, disse que é alvo de perseguição. O ex-presidente afirmou que teria muito a falar e que muitas pessoas sabem o que ele falaria, mas ponderou que busca agora a pacificação. "Passar uma borracha no passado", afirmou.
Inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro ainda declarou que não se pode concordar que um Poder da República "tire do palco político quem quer que seja". O ex-presidente pediu que seus aliados e apoiadores foquem nas eleições de 2024 e 2026 e afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como seu possível sucessor, está "consagrado na política".