Bolsonaro e o seu ex-ajudante de ordens, Mauro CidReprodução: redes ociais

A Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no inquérito que apura a falsificação de certificados de vacinas de covid-19. Além de Bolsonaro, foram indiciados o tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante de ordens do ex-chefe do Executivo, e o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ). Caso o Ministério Público Federal acate, eles vão responder à Justiça pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público.
A PF, no caso de Cid, também aponta crime de uso indevido de documento falso. Ele confessou ter fraudado não só o próprio cartão de vacinação, como o da esposa, dos filhos, de Bolsonaro e da filha do ex-presidente, Laura. 
O ex-ajudante de ordens confirmou que os dados falsos de Bolsonaro e de Laura foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde por servidores da prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em 21 de dezembro de 2022, nove dias antes de o ex-presidente viajar para os Estados Unidos. Naquela época, as leis norte-americanas exigiam que os viajantes comprovassem a imunização contra a covid-19.
"Está evidenciado que Mauro Cesar Cid, no exercício das atividades de chefe da Ajudância de Ordens da Presidência da República, por determinação de seu superior hierárquico, solicitou a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em benefício do ex-Presidente e de sua filha Laura Firmo Bolsonaro", escreveu o delegado Fábio Alvarez Shor no relatório final da Operação Verine, tornado público nesta terça-feira, 19.
Bolsonaro, que sempre disse nunca ter se vacinado contra covid, nem autorizado a aplicação do imunizante na filha, nega ter pedido Cid para fraudar um cartão para ele e Laura. Assim como o ex-chefe do Executivo, Cid e outros ex-assessores próximos dele atacaram as vacinas contra covid-19. Chegaram a dizer inclusive que elas, em vez de proteger, "deixavam sérias sequelas, principalmente em crianças".
Nas redes sociais, o advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, reclamou da divulgação da informação, mas não comentou o teor do indiciamento.
"É lamentável quando a autoridade usa a imprensa para comunicar ato formal que logicamente deveria ter revestimento técnico e procedimental ao invés de midiático e parcial", escreveu.
O irmão de Reis, Washington Reis, declarou que é uma covardia o que estão fazendo com o deputado e que ele recorrerá à justiça. “"O Gute nunca se meteu em vacina (...) O deputado Gutemberg não tem nada com esse assunto, ele não fazia parte do governo. Estava totalmente longe de tudo. O assunto vacina é política”, afirma.
Ao todo, 17 pessoas foram indiciadas:

- Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Mauro Barbosa Cid, coronel do Exército e ex-ajudante de ordens da Presidência da República;
- Gabriela Santiago Cid, esposa da Mauro Cid;
- Gutemberg Reis de Oliveira, deputado federal (MDB-RJ);
- Luis Marcos dos Reis, sargento do Exército que integrava a equipe de Mauro Cid;
- Farley Vinicius Alcântara, médico que teria emitido cartão falso de vacina para a família de Cid;
- Eduardo Crespo Alves, militar;
- Paulo Sérgio da Costa Ferreira
- Ailton Gonçalves Barros, ex-major do Exército;
- Marcelo Fernandes Holanda;
- Camila Paulino Alves Soares, enfermeira da prefeitura de Duque de Caxias;
- João Carlos de Sousa Brecha, então secretário de Governo de Duque de Caxias;
- Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro;
- Max Guilherme Machado de Moura, assessor e segurança de Bolsonaro;
- Sergio Rocha Cordeiro, assessor e segurança de Bolsonaro;
- Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, servidora de Duque de Caxias;
- Célia Serrano da Silva.
Passo a passo da fraude
No relatório final da investigação, a Polícia Federal detalha o passo a passo da fraude: desde a ordem, de Bolsonaro, para que Cid providenciasse não só sua carteira de vacinação falsificada, mas também o documento da filha Laura; até a tentativa de acobertar o caso, com a destruição dos certificados que haviam sido impressos dentro do Palácio do Alvorada e a exclusão de dados do sistema do Ministério da Saúde.

Segundo a corporação, o modus operandi das fraudes era o seguinte: "a partir da solicitação da pessoa que queria se beneficiar com o certificado de vacinação ideologicamente falso, Cid encaminhava o pedido de inserção dos dados falsos para Ailton Gonçalves Barros, ex-major do Exército; este, então, encaminha os dados do beneficiário e o pedido para o Secretário Municipal de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha que, mediante suas credenciais de acesso, executava a inserção dos dados falsos no Sistema do Ministério da Saúde".

Os investigadores puxaram as informações dos computadores a partir dos quais foram inseridos os dados falsos, requisitando os dados cadastrais dos endereços de IP (uma espécie de RG do aparelho eletrônico) que operacionalizaram as fraudes.
Com isso, chegaram a celulares e e-mails de investigados e cruzaram tais dados com cadastros do Conecte SUS. Assim, conseguiram traçar o histórico de interações entre investigados e detalhar as ações dos supostos responsáveis pela operacionalização das fraudes nas carteiras de vacinação.
*Com informações do Estadão Conteúdo