Ministério Público de São Paulo denunciou 29 pessoas, incluindo sócios das empresas de ônibus Transwolff e UPBus, por suspeita de envolvimento com o PCCReprodução Globo News
Garagem era QG do PCC e advogado sugeriu instalar 'salinha' para blindar buscas da polícia
Primeiro Comando da Capital (PCC) montou esquema para lavar dinheiro do crime por meio de contratos públicos de transporte
"Cebola", "Arrepiado" e "Equador". Esses são alguns dos codinomes de Silvio Luis Ferreira, um dos pivôs da investigação que colocou o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) no rastro do esquema montado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavar dinheiro do crime por meio de contratos públicos de transporte.
Em 2012, ele foi preso na garagem de uma cooperativa de ônibus. No endereço, os policiais apreenderam meia tonelada de maconha. Anos depois, o espaço foi convertido na sede da empresa UPBus, uma das investigadas por suspeita de ligação com o PCC.
"Já àquela época, (Silvio) era a pessoa que, de fato, comandava os negócios relacionados ao transporte público sobre rodas", diz um trecho da denúncia oferecida pelo MP na Operação Fim da Linha
O local tem uma garagem com espaço para o estacionamento da frota de ônibus, serviço de manutenção dos veículos e o setor administrativo.
O inquérito do Ministério Público aponta que o imóvel era usado para reuniões do tráfico. De acordo com a investigação, Silvio fez parte da "Sintonia Geral do Progresso", célula formada pela cúpula do PCC, e chegou a gerenciar todo o tráfico de drogas da facção.
O advogado Ahmed Hassan Saleh, o "Mude", teria sugerido a instalação de uma "salinha" no imóvel para tentar blindar o espaço no caso de operações policiais, apontam interceptações telefônicas. Isso porque escritórios de advocacia são invioláveis, ou seja, não podem sofrer busca e apreensão, salvo em situações excepcionais e a partir de decisões judiciais devidamente fundamentadas.
"As conversas travadas entre Silvio e Ahmed mostram que o segundo fez tábula rasa do compromisso ético assumido junto à Ordem dos Advogados (OAB), intermediando o pagamento de propina a policiais e chegando a adquirir cocaína do 'cliente' na atual sede da UPBus", indica a investigação.
Os promotores de Justiça também descobriram que a mulher de Silvio Ferreira tem cotas da UPBus. Ela faria parte de uma rede de laranjas, formada sobretudo por parentes, usada pelo PCC para se "infiltrar" no setor de transportes.
Silvio foi solto por uma decisão liminar assinada no plantão do Tribunal de Justiça de São Paulo, em 2014, e está foragido desde então. O desembargador responsável foi aposentado compulsoriamente por suspeita de usar o cargo para beneficiá-lo indevidamente. As últimas notícias sobre seu paradeiro indicam que ele chegou a circular com uma identidade falsa. Mesmo fugindo da Justiça, continuou dedicado ao crime, segundo o MP. "Sua condição de procurado, no entanto, não foi empecilho para que Silvio continuasse com as atividades ilícitas até os dias atuais."
A UPBus mantinham contratos de transporte com a Prefeitura de São Paulo desde 2015. O Ministério Público ainda investiga se agentes públicos foram cooptados no esquema. Até o momento, 29 pessoas foram denunciadas à Justiça, incluindo dirigentes da empresa de ônibus.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.