Mauro Cid alega que teve autorização da Comissão de Ética da Presidência para ficar com presentesLula Marques/Agência Brasil
Cid também vendeu relógios e outros presentes avaliados em US$ 10 mil; veja
PF chegou aos objetos após analisar os dados encaminhados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos via cooperação internacional
Fora os R$ 6,8 milhões em joias e presentes que teriam sido desviados em benefício do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid vendeu dois relógios, uma caneta e um conjunto de abotoaduras que ganhou, enquanto ex-ajudante de ordens da Presidência, em viagem oficial ao Oriente Médio, em outubro de 2019. Os itens vendidos por Cid foram avaliados em mais de US$ 10.150,00.
A Polícia Federal chegou aos objetos após analisar os dados encaminhados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos via cooperação internacional. Segundo o delegado Fábio Shor, que assina o relatório final do inquérito das joias sauditas, o delator confirmou ter recebido os presentes e os vendido nos Estados Unidos. Cid narrou que a Comissão de Ética da Presidência da República autorizou o servidor a ficar com os presentes. A PF não menciona a data de tal decisão.
Com base no acordo de auxílio jurídico com os EUA, a Polícia Federal pode analisar trocas de e-mail entre Cid e a loja BOB's Watches. O ex-ajudante de ordens da Presidência negociou com a empresa a venda de um relógio Ebel Sport Classic, modelo 1216432, avaliado em US$ 4,150,00. Segundo a PF, Cid ganhou o relógio em outubro de 2019, na mesma viagem em que o então presidente Jair Bolsonaro ganhou o "kit de ouro branco" — um dos conjuntos de joias no centro do esquema investigado.
Os diálogos entre Cid e a BOB's Watches ocorreram em dezembro de 2019, após Cid preencher um formulário na página da empresa para interessados em venderem relógios. Segundo a Polícia Federal, ao preencher o formulário, Cid usava um endereço de IP - espécie digital de um dispositivo que acessa a internet — "associado às redes vinculadas ao Palácio do Planalto".
No entanto, nas mensagens, o tenente-coronel diz que o bem está em Temecula, na Califórnia. A Polícia Federal suspeita que Cid levou o relógio para os EUA em uma viagem realizada entre 21 de novembro e 8 de dezembro de 2019, deixando o objeto na casa de seu irmão.
A PF ainda acessou as negociações entre Cid e a loja Crown and Caliber para a venda de um kit relógio Girard Perregaux Earth to Sky Edition. Nos e-mails, Cid diz que recebeu o conjunto, formado por um relógio, caneta e abotoaduras, durante uma viagem ao Oriente Médio. A loja estimou o preço da venda do conjunto em US$ 5,5 mil a US$ 6 mil.
Tais negociatas ocorreram às vésperas do Natal, em 23 de dezembro de 2019. Nos e-mails, a loja diz que recebeu a solicitação de venda do relógio e faz uma oferta pelo conjunto. De acordo com a PF, o ex-ajudante de ordens chegou a fazer avaliações de preço em outras lojas.
O sistema da empresa registra o negócio com Cid em 18 de dezembro de 2019, confirmando que o tenente-coronel foi pago. O valor em dinheiro pela venda teria sido de US$ 3,6 mil.
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