Pessoas com mais de 60 anos têm uma diminuição na sensibilidade dos receptores corporais que induzem à sedeReprodução / Internet

No inverno, as temperaturas baixam, transpiramos menos e, como consequência, bebemos menos água. Essa mudança, para a maioria das pessoas, não representa um problema grave, mas na terceira idade ela requer cautela.
À medida que envelhecemos, o mecanismo do corpo que nos faz sentir sede fica naturalmente mais lento e o risco de desidratação, mais expressivo. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, a cada dez internações por desidratação, quatro são de pacientes idosos.
"É contraditório pensar em desidratação no inverno, mas esse deve ser um ponto de atenção para mantermos o idoso da maneira mais saudável e equilibrada possível", afirma o geriatra Felipe Vecchi, diretor clínico do Cora Residencial Senior.
Para evitar a desidratação, o médico ensina estratégias para estimular a ingestão de líquidos - em todas as estações do ano.
O que é desidratação e quais os sinais?
A sede é responsável por indicar que o nível de hidratação no organismo está abaixo do ideal, nos impulsionando a buscar água. Se ignorada, ela pode evoluir para a desidratação, quando a perda de água no corpo é maior do que a ingestão.
A condição tem entre seus sintomas urina escura e com cheiro forte, boca seca, saliva espessa, olhos sem lágrimas e, especialmente em idosos, alteração do nível de consciência.
Vecchi argumenta que, com o avançar da idade, sentir sede se torna um sinal de alerta maior, exigindo atenção imediata - "assim como a luz piscando no painel de um carro indica a necessidade urgente de reabastecer o veículo", compara.
Por que os idosos correm mais risco de desidratação?
Esse grupo é mais vulnerável ao problema devido a uma série de características. Em primeiro lugar, como mencionado, pessoas com mais de 60 anos têm uma diminuição na sensibilidade dos receptores corporais que induzem à sede. Assim, a tendência é sentir menos vontade de beber água, mesmo quando o corpo necessita de líquidos.
Além disso, a utilização de alguns medicamentos pode levar o idoso a urinar mais vezes e perder um volume maior de líquido. Por fim, com o envelhecimento, o organismo naturalmente passa a ter mais dificuldade para absorver líquido.
Para os idosos, quais os riscos de não beber água?
O principal risco relacionado à baixa ingestão de água está associado ao funcionamento dos rins. "Os idosos têm uma falsa sensação de saciedade e, assim, bebem menos água, fazendo com que o rim trabalhe mais e causando alteração em suas funções", explica Vecchi.
A desidratação também pode provocar sintomas menos óbvios, como confusão mental e problemas de memória, às vezes confundidos com doenças neurodegenerativas, incluindo Alzheimer.
Segundo Vecchi, o problema ocorre devido ao prejuízo das funções dos rins, afetando a filtragem do sangue e aumentando o número de toxinas na circulação, interferindo no funcionamento do cérebro.
Nesses casos, as alterações podem ser resolvidas, no entanto, o médico faz uma ressalva: a avaliação cognitiva deve ser realizada por um profissional especializado, considerando outros diagnósticos possíveis.
Além disso, a baixa ingestão de água também compromete funções como a lubrificação da boca e a coordenação motora, aumentando as chances de infecções, quedas e engasgos.
Imagine um dia escaldante de verão. Você está suando muito, e a sede aperta. Com o sol no rosto, também vem a vontade de beber algo gelado para se refrescar. Nos dias frios, esses desejos diminuem, no entanto, a ingestão hídrica continua importante. "Mesmo sem a transpiração, nós perdemos 'água' durante o dia, seja pela urina, nas evacuações ou demais tipos de perda que chamamos de 'insensíveis'", diz Vecchi.
Além disso, quando o inverno chega, traz consigo o aumento da incidência de doenças respiratórias, e é importante se armar com uma boa ingestão de líquidos para encarar o período com segurança.
De acordo com o médico, sem a hidratação adequada, o idoso fica mais suscetível a se contaminar e ter um quadro de infecção grave. Isso ocorre porque a água contribui para o funcionamento de mecanismos de proteção contra infecções. Um exemplo é a formação das secreções nasal e pulmonar, o "pigarro". Elas são barreiras que dificultam a entrada dos vírus no organismo e, em caso de desidratação, ficam mais secas e espessas, com funcionamento prejudicado.
Também nesta época a pele tende a ficar mais seca. Nesse cenário, os idosos que não estão adequadamente hidratados ficam vulneráveis à formação de feridas na pele e nos lábios. Para piorar, as lesões podem fazer com que bebam ainda menos água.
Como beber mais água?
Vecchi dá algumas dicas para estimular a hidratação. A primeira é quantificar a ingestão diária de água usando um recipiente de um litro como referência.
"Às vezes, achamos que a pessoa está bebendo muita água e ela só tomou um gole, então é importante indicarmos um número objetivo do quanto realmente foi ingerido de água ao longo do dia", explica o geriatra.
Outros conselhos são deixar uma garrafinha de água sempre por perto e incluir na dieta mais frutas e legumes ricos em água, como melancia e laranja, além de preparar saladas de tomate e cenoura, e carnes com caldo.
Águas saborizadas também são uma dica. Segundo o médico, por serem agradáveis ao paladar, elas podem ter uma melhor aceitação entre pessoas com dificuldade de beber água. Para fazê-las, basta adicionar ao líquido uma rodela de fruta, como laranja ou limão, ou ainda algumas ervas, como hortelã.
O geriatra ressalta que idosos acamados demandam atenção maior ainda, pois têm acesso mais restrito à água, cabendo ao cuidador estimular e controlar a ingestão hídrica, e lembra que as orientações devem ser seguidas não só no inverno ou no verão. A hidratação adequada precisa ser um ponto de atenção em todas as estações.