Violoncelista brasileiro Antonio MenesesReprodução
Nascido no Recife e criado no Rio, Meneses mudou-se ainda cedo para a Europa, onde estudou com Antonio Janigro e venceu as duas competições mais importantes da cena clássica, o Concurso de Munique e o Concurso Tchaikovsky. Em seguida, gravou com Herbert von Karajan e a Filarmônica de Nova York, dando início a uma carreira que fez dele referência em seu instrumento.
O músico deixa uma série de gravações, que refletem a multiplicidade de seu talento - além de atuar como solista à frente de grandes orquestras, fez da música de câmara sua especialidade, tocando e gravando com artistas como Maria João Pires e Menahem Pressler. Foi também grande defensor da música brasileira, inclusive encomendando obras que ampliaram o repertório do instrumento.
Meneses nasceu no Recife, em 1957, mas ainda na infância mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. O pai, João Gerônimo, era trompetista e, no Rio, passou a integrar a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal e encaminhou os filhos para a música: acreditando que faltavam instrumentistas de cordas nas orquestras do País, deu a João o violino e a Antonio, o violoncelo.
Meneses estudou com Nydia Otero e aos 12 anos começou a tocar na orquestra jovem do Municipal e na Orquestra Sinfônica Brasileira Quando o grupo recebeu como convidado o violoncelista Antonio Janigro, Meneses se apresentou para ele e recebeu do experiente músico a promessa de recebê-lo como aluno na Europa quando ele se formasse na escola. Mas a família resolveu não esperar e, aos 16 anos, ele partiu para a Europa, estabelecendo-se na Alemanha
Em 1977, Meneses ganhou o Concurso de Munique. E, em 1982, foi o primeiro colocado no Concurso Tchaikovsky de Moscou. Mais tarde, ele saberia de um dos jurados que a decisão de dar a um prêmio a um brasileiro foi antes levada ao governo soviético - e só anunciada após a confirmação de que não havia disputas diplomáticas entre o Brasil e a União Soviética.
As vitórias deram a ele enorme visibilidade. Com Herbert von Karajan e a Filarmônica de Berlim, gravou dois discos, um com Don Quixote, de Strauss, e outro com o Concerto duplo de Brahms, tendo ao seu lado outro nome que então despontava no cenário internacional, a violinista Anne-Sophie Mutter. Em seguida, partiu em turnê pelos Estados Unidos com a Orquestra Sinfônica de Londres e Claudio Abbado.
Ele se lembrava com bom humor da audição feita para o maestro italiano. "Eu estava sozinho no palco e ele, sentado na plateia escura, lá no fundo. Eu conseguia perceber que ele tinha alguém do seu lado, com quem conversava. Depois fiquei sabendo que era o Carlos Kleiber. Ainda bem que não soube antes, imagina o nervosismo que seria saber que estava tocando para ele também!"
Enquanto seguiu atuando como solista com grandes orquestras e maestros - em 2022, fez turnê com a Orquestra do Maggio Musicale de Florença e o maestro Zubin Mehta -, Meneses foi direcionando sua carreira para a música de câmara. Ele integrou o Trio Beaux-Arts, uma das mais importantes formações da segunda metade do século 20 e começo do século 21, ao lado do pianista Menahem Pressler e do violinista Daniel Hope.
Claudio Cruz foi um dos principais parceiros e amigos de Meneses Os dois gravaram juntos, com a Orquestra Jovem do Estado e a Northern Sinfonia, da Inglaterra, concertos de Shostakovich, Dvorák, Elgar e Schumann, entre outros autores.
A música brasileira teve enorme importância em sua trajetória. Ele não apenas se dedicou ao registro das principais obras do repertório nacional, como encomendou peças que ampliaram o número de obras disponíveis para o instrumento.
Meneses gravou três vezes as suítes de Bach: o primeiro registro, do início dos anos 1990, foi lançado apenas no Japão e logo se tornou ítem de colecionador; no início dos anos 2000, lançou as peças novamente, agora pelo selo Avie Records, com lançamento no Brasil pelo selo Clássicos, da Revista CONCERTO; e, no ano passado, o terceiro registro, para o selo Azul Music.
"A questão para o músico é sempre encontrar a técnica com a qual vai se transmitir a expressão. E isso leva muito tempo. É comum ver músicos com grandes ideias mas incapazes de realiza-las por completo. É preciso passar por um processo mental e musical até chegar ao ponto em que se consegue traduzir as ideias, usar a ferramenta certa para expressá-las. Isso leva muito tempo, muito E só o estudo, o trabalho que traz isso", disse no livro Arquitetura da Emoção, biografia publicada em 2011.
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