Aniversário de um aninho da filha, GabriellaDivulgação
Um dos sinais mais preocupantes foi o impacto emocional em sua filha mais velha, Maria Júlia, de 9 anos, que começou a apresentar crises de nervosismo e choro.
“A Maria Júlia ficava muito nervosa, chorando muito, e inclusive eu a levei ao psicólogo. Mas, graças a Deus, não teve sequelas. Mesmo assim, era algo incontrolável, porque não tinha respeito. Discutíamos muito, e ele era bastante ciumento também”, explica.
Diante desse cenário, Deiviane percebeu que a separação era necessária, não só para seu bem-estar, mas também para a saúde emocional de suas filhas.
“Eu fui vendo que, para mim e para as minhas filhas, o melhor seria a separação. E foi mesmo, porque hoje estamos muito mais em paz. Consigo organizar minha rotina muito melhor, ter mais concentração no que eu preciso e mais foco. A nossa vida é muito mais tranquila”, conta.
Apesar das dificuldades enfrentadas durante a crise no casamento, ela ressalta que o processo de separação foi amigável e trouxe benefícios para todos.
“Apesar de toda a crise, o processo de separação foi muito tranquilo. Ele foi de acordo, foi uma separação amigável. Ele paga a pensão em dia, e hoje estamos em paz. Ele vive a vida dele, eu vivo a minha, e cada um segue o seu dia a dia, correndo atrás para proporcionar tudo de bom para as nossas filhas”, afirma.
Mesmo não sendo pai biológico de Maria Júlia, o ex-companheiro mantém o carinho e a responsabilidade construídos durante a convivência.
“Eu falo ‘nossas filhas’ porque a Maria Júlia, apesar de não ser filha dele, ele também fez parte dessa convivência.”
O impacto de viver em um ambiente conflituoso
A psicóloga Bárbara Couto, mestre em psicologia clínica e saúde, explica que, quando há constante hostilidade em casa, o melhor para os filhos pode ser a separação dos pais. Segundo ela, os efeitos de viver em um ambiente repleto de discussões, brigas e tensões são devastadores para o desenvolvimento emocional das crianças. “A exposição prolongada ao estresse, com altos níveis de cortisol, prejudica o desenvolvimento do cérebro das crianças, afetando áreas como o hipocampo e o córtex pré-frontal, responsáveis pela memória e regulação emocional”, explica a psicóloga.
Ela explica que esse ambiente gerado por constantes conflitos prejudica diretamente o bem-estar das crianças. “É mais saudável para as crianças que os pais se separem, oferecendo a elas dois lares saudáveis e estruturados, do que continuar em uma casa onde o estresse é constante”, orienta.
O impacto do distanciamento dos pais
Mesmo quando os filhos não presenciam brigas, eles são capazes de perceber mudanças no relacionamento dos pais. A psicóloga enfatiza que as crianças são altamente sensíveis e captam sinais de desarmonia, como silêncios tensos e distanciamento emocional ou físico entre os pais. “O comportamento de uma criança pode ser um reflexo do que acontece no ambiente familiar, mesmo quando ela não tem capacidade de verbalizar o que está acontecendo”, diz Bárbara. Como resultado, as crianças podem desenvolver problemas como ansiedade, dificuldades no sono, e mudanças no comportamento, como regressão ou agressividade.
Além disso, quando as crianças testemunham abusos emocionais, seja em relação à mãe ou ao pai, há o risco de internalizarem esses padrões, repetindo-os em seus próprios relacionamentos ou desenvolvendo dificuldades em se relacionar de forma saudável. A psicóloga também alerta para as consequências de ter autoestima baixa e dificuldades em expressar emoções. “O impacto do abuso psicológico observado pelos filhos tem repercussões no seu desenvolvimento emocional e neurológico, influenciando suas habilidades sociais e cognitivas”, completa.
O exemplo dos pais: um reflexo nos filhos
A psicóloga também destaca que os pais são os primeiros modelos de comportamento para seus filhos. Quando as crianças crescem observando um relacionamento marcado por brigas e desrespeito, elas tendem a considerar esse comportamento como algo normal. “O que essas crianças aprendem em casa acaba sendo repetido em suas próprias vidas, perpetuando padrões de relacionamentos tóxicos e dificultando a formação de vínculos saudáveis no futuro”, afirma Bárbara.
Outro ponto ressaltado por ela é que, muitas vezes, os pais que continuam em um casamento conflituoso acabam projetando nos filhos a responsabilidade pela manutenção da relação, o que pode gerar sentimentos de culpa nas crianças. “Embora o gesto pareça ser altruísta, essa decisão de manter o casamento pode causar danos irreparáveis tanto para os pais quanto para os filhos”, conclui a psicóloga.
Os danos emocionais a longo prazo
O impacto de viver em um ambiente familiar desestruturado não se limita à infância. Crianças que vivenciam conflitos constantes podem carregar essas experiências para a vida adulta, dificultando a construção de relacionamentos saudáveis e equilibrados. Estudos demonstram que a exposição ao estresse na infância pode aumentar a probabilidade de a pessoa desenvolver distúrbios psicológicos, como ansiedade e depressão, além de comprometer a habilidade de lidar com emoções e tomar decisões em situações de conflito. Essas crianças têm mais chances de reproduzir, em sua vida adulta, os padrões de relacionamentos disfuncionais que presenciaram em seus pais.
O bem-estar infantil
Portanto, se a separação dos pais for uma decisão inevitável, o mais importante é garantir que os filhos tenham acesso a um ambiente calmo e saudável, seja nos dois lares, ou em um ambiente único, mas com menos conflitos. Garantir o bem-estar emocional das crianças, mesmo diante da separação dos pais, deve ser uma prioridade. A psicóloga enfatiza que um lar sem brigas e sem abusos emocionais oferece a chance para que as crianças cresçam mais equilibradas emocionalmente e com uma maior capacidade de lidar com os desafios da vida.
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