Operação apura suposta tentativa de golpe de Estado e assassinato de Lula, Alckmin e Moraes pelas Forças ArmadasDivulgação

A Operação Contragolpe, iniciada em novembro de 2024, apura uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, com planos para impedir a posse e assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSDB) e também o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Dos 37 indiciados por participação no suposto plano de golpe de Estado, 25 são militares, incluindo integrantes do antigo governo e do Comando de Operações Especiais, uma unidade de elite do exército brasileiro apelidada de ''kids pretos''.
Alguns dos investigados já haviam sido citados e presos na Operação Tempus Veritatis, iniciada em fevereiro após a delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid. Na ocasião, a PF investigava planos do governo e militares para interferir nas eleições e garantir a manutenção de Bolsonaro no poder.
A investigação da Polícia Federal revelou um lado obscuro das Forças Armadas. Nas fileiras militares, os adeptos do golpismo se movimentavam, dispostos a manter o poder atrelado aos quartéis. O traço autoritário dos fardados parecia ter sido contido com a redemocratização, em 1985, e a promulgação da Constituição, em 1988. Mas, durante o governo Bolsonaro, ele ressurgiu com força.
Quem são os principais investigados
General Walter Braga Netto
General Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e ex-ministro da Defesa  - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
General Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e ex-ministro da Defesa Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O general da reserva Walter Souza Braga Netto, 65 anos, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi preso preventivamente no dia 14 de dezembro por obstrução de Justiça. Considerado um dos principais líderes dos planos golpistas, que visavam a impedir a posse de Lula e Geraldo Alckmin, o militar possui histórico de apoiar atos antidemocráticos. Ele fez ameaças e condicionou as eleições de 2022 ao voto impresso e celebrou o golpe militar de 1964, que seria, segundo ele, um "marco histórico da evolução política brasileira".
Em 2018, Braga Netto comandou a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) no Rio de Janeiro. Ele assumiu o comando da intervenção federal na segurança pública do Estado em 16 de fevereiro de 2018, decretada pelo então presidente Michel Temer. Como interventor, ficou responsável pelas forças de segurança do Rio de Janeiro, incluindo a Polícia Militar, a Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros.
Durante o governo Bolsonaro, Braga Netto ocupou o cargo de ministro da Casa Civil em 2020, em que foi responsável por coordenar a resposta do governo à pandemia de covid-19.  Em 2021, assumiu o Ministério da Defesa.
Braga Netto foi citado 98 vezes no relatório da PF que investiga o golpe.
General Augusto Heleno
General Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência  - Arquivo/Agência Brasil
General Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência Arquivo/Agência Brasil
O general da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira, de 77 anos, também é apontado como uma das principais figuras por trás dos planos antidemocráticos. Ele, junto com Braga Netto, chefiou um "gabinete" ligado à Presidência da República para apoiar Bolsonaro na implementação de um decreto golpista após a consumação do golpe.
Declaradamente apoiador da ditadura militar, Augusto Heleno foi capitão do Exército e membro da linha dura durante o período, ala que se posicionava contra uma abertura no regime. Em 2023, alegou que ''o movimento de 64 salvou o Brasil de virar um país comunista”.
Em 2004, General Heleno se tornou comandante de paz da ONU no Haiti. No ano seguinte, sob suas ordens, as tropas realizaram uma operação na maior favela da capital Porto Príncipe, Cité Soleil, que teria terminado com dezenas de pessoas assassinadas e feridas. O caso fez com que a ONU solicitasse ao Brasil uma alteração no comando da missão. O Exército negou mortes civis durante a operação.
No governo Bolsonaro, o general da reserva exerceu cargo de Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de janeiro de 2019 a dezembro de 2022. 
Jair Bolsonaro
Ex-presidente Jair Bolsonaro - Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
Ex-presidente Jair BolsonaroFábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
O ex-presidente e capitão da reserva Jair Messias Bolsonaro seria a peça central dos planos de golpe de Estado. Segundo o relatório da PF, ele "tinha plena consciência e participação ativa" nas tratativas que visavam impedir a posse de Lula e Geraldo Alckmin e mantê-lo no poder. De acordo com a polícia, ''o fato não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade''.
Bolsonaro teria convocado reuniões entre comandantes para planejar os atos e tentar convencer militares que não apoiavam ações antidemocráticas. 
O ex-presidente já declarou seu apoio ao período da ditadura militar diversas vezes, como na ocasião em que homenageou o coronel e torturador do regime Carlos Brilhante Ustra. Durante o seu governo, questionou e atacou o sistema eleitoral, o resultado de eleições e as urnas eletrônicas.
Em 2022, compartilhou um vídeo nas redes sociais questionando a veracidade do resultado das eleições presidenciais. Devido a postagem, o ex-presidente foi chamado para depor na PF, e alegou estar sob efeitos de remédio que o levaram a publicar o vídeo por engano. 
Confira a lista dos outros 22 militares indiciados
Ailton Gonçalves Moraes Barros
O major reformado do Exército foi candidato a deputado estadual pelo PL no Rio de Janeiro em 2022, se intitulando como o “01 de Jair Messias Bolsonaro”. Foi preso na operação que apurava as fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente.

Alexandre Castilho Bittencourt
O coronel da ativa foi um dos militares que assinou a carta que pressionava pela realização de um golpe de Estado.

Almir Garnier
O almirante comandou a Marinha durante o governo Bolsonaro. Assinou nota em defesa dos acampamentos em frente a quarteis do Exército depois da derrota nas eleições e foi citado na delação premiada de Mauro Cid.

Anderson Lima de Moura
O coronel da ativa foi um dos autores da carta que pedia por um golpe de Estado.
Angelo Martins Denicoli
O major da reserva do Exército foi diretor de monitoramento e avaliação do Sistema Único de Saúde (SUS) durante o governo Bolsonaro. Na época, publicou informações falsas sobre o uso do medicamento hidroxicloroquina para o tratamento de Covid-19. 

Corrêa Netto
O coronel preso na operação Tempus Veritatis é acusado de integrar um grupo que incitava militares a aderirem a um plano de intervenção militar para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Obteve liberdade provisória após depor sobre o suposto plano de golpe de Estado e colaborar com a investigação.

Carlos Giovani Delevati Pasini
O coronel da reserva foi um dos militares responsável pela carta enviada ao comandante do Exército pedindo um golpe de Estado.
Cleverson Ney
O coronel da reserva e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres foi alvo da operação Tempus Veritatis.

Estevam Theophilo
O general e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres também liderava o Comando de Operações Especiais, conhecidos como “kids pretos”. Foi alvo por suspeita de envolvimento em um plano golpista que pretendia assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. É acusado de oferecer tropas a Bolsonaro em apoio a um golpe de Estado.

Fabrício Moreira de Bastos
O coronel já foi condecorado por Lula e serviu como adido de defesa na embaixada do Brasil em Tel Aviv, Israel.

Giancarlo Gomes Rodrigues
O subtenente do Exército foi alvo da operação da PF que investigou o caso da “Abin paralela”. É suspeito de monitorar advogado próximo a adversários de Bolsonaro sem autorização.
Guilherme Marques de Almeida
O tenente-coronel foi alvo da operação Tempus Veritatis. Ficou conhecido por desmaiar e precisar de socorro após os agentes da Polícia Federal baterem à sua porta.
Hélio Ferreira Lima
O tenente-coronel da ativa do Exército foi alvo de uma operação da PF que investigava reuniões sobre planos golpistas entre militares após a derrota de Bolsonaro na eleição.

Láercio Vergílio
Coronel reformado do Exército também foi um dos alvos da operação Tempus Veritatis após ter um áudio de sua autoria apreendido pelo STF.
Marcelo Costa Câmara
O coronel do Exército trabalhou como assessor especial da Presidência da República durante o governo de Jair Bolsonaro.

Mário Fernandes
O general da reserva do Exército e ex-chefe substituto da Secretaria Geral da Presidência foi preso preventivamente no dia 19 de novembro. É suspeito de planejar o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. 
Mauro Cesar Barbosa Cid
O tenente-coronel do Exército foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Preso durante as investigações sobre a suposta venda de joias presenteadas ao ex-presidente, Mauro Cid firmou acordo de delação premiada.

Nilton Diniz Rodrigues
O general do Exército era comandante do 1º Batalhão de Forças Especiais e do Comando de Operações Especiais em Goiânia na época da suposta tentativa de golpe.
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
O general da reserva comandou o Exército e foi ministro da Defesa na gestão de Jair Bolsonaro.

Rafael Martins de Oliveira
O tenente-coronel da ativa do Exército, conhecido como “Joe”, fazia parte do grupo “kids pretos” após as eleições de 2022. 
Ronald Ferreira de Araújo Junior
O tenente-coronel do Exército é acusado de se envolver em discussões sobre o plano golpista.

Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros
O tenente-coronel do Exército, segundo a PF, integrava o "núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral" durante o governo Bolsonaro.
Recusa de alguns membros das Forças Armadas impediu a execução do golpe
Apesar de orquestrado em sua maioria por militares, incluindo alguns de alta patente, a recusa de alguns generais a fazer parte do golpe impediu a sua execução. O general de Exército Marco Antônio Freire Gomes teria sido uma das principais ''pedras no sapato'' dos articuladores do golpe. O militar teria se recusado em mais de uma reunião a participar do movimento, além de chegar a ameaçar prender Jair Bolsonaro caso tentasse consumar o ato antidemocrático.
General Freire Gomes, comandante do Exército brasileiro - Divulgação/PR
General Freire Gomes, comandante do Exército brasileiroDivulgação/PR
O então do comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos de Almeida Baptista Jr., também foi um grande obstáculo que impediu a execução dos atos que impediriam a posse de Lula. De acordo com relatório da Polícia Federal, Baptista Jr. disse que ''não admitiria sequer receber o documento e que a Aeronáutica não admitiria um golpe de Estado". Sua recusa teria assustado Bolsonaro, que não assinou o decreto golpista devido a falta de apoio dos comandantes do Exército e da Força Aérea.
Retaliação
Após não cederem a pressão de colegas e aliados e manterem a postura contra uma tentativa de golpe e a assinatura do decreto, os generais teriam sofrido retaliações dos conspiradores. se tornando alvos de ataques difamatórios e de desinformação, orquestrados por Braga Netto. O comandante do Exército Freire Gomes chegou a ser chamado de ''cagão'' pelo general e ex-ministro da defesa, conforme consta no relatório da PF. 
De acordo com o relatório da Polícia Federal, os golpistas se referiam aos generais como "melancias". Esse termo surgiu após a recusa em apoiar as ações golpistas. O termo "melancia" fazia referência à ideia de que, apesar de vestirem a farda verde, esses generais seriam, na verdade, "vermelhos" por dentro, associando-os à ideologia da esquerda.
Ex-comandante da Força Aérea Brasileira, Carlos de Almeida Baptista Júnior - Reprodução / Internet
Ex-comandante da Força Aérea Brasileira, Carlos de Almeida Baptista JúniorReprodução / Internet
Confira a lista completa dos militares que recusaram fazer parte dos planos golpistas
Marco Antônio Freire Gomes - Comandante do Exército
Carlos de Almeida Baptista Jr. - Comandante da Força Aérea Brasileira (FAB)
Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva - Comandante Militar do Sudeste
Richard Nunes - Comandante Militar do Nordeste
André Luís Novaes de Miranda - Comandante Militar do Leste
Guido Amin Naves - Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia da Força Terrestre
Valério Stumpf - Comandante do Estado-Maior do Exército
 
*Matéria do estagiário Diego Cury, sob supervisão de Marlucio Luna