A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) criticou neste final de semana o apoio do Partido Liberal (PL) a uma eventual candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (PSDB) ao governo do Ceará. A atitude irritou os filhos do ex-presidente e expôs um racha na família.
Ao participar do evento de lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo-CE) para o cargo de governador, Michelle afirmou que houve uma precipitação na decisão de apoiar Ciro Gomes, criticando o deputado federal André Fernandes (PL-CE), responsável pela articulação.
"Homens que fazem alianças com o mal, entendendo que nós não podemos mais aceitar isso, chega. Eu não faço parte, se o meu presidente apoia outro candidato é ele, ele não me representa, ele não fala por mim. Eu sou presidente, tenho autonomia do meu movimento feminino que se tornou o maior da história, cabe a gente dar o direcionamento", disse Michelle.
"É sobre essa aliança que vocês se precipitaram em fazer. Adoro o André [Fernandes], passei em todos os estados falando sobre o orgulho que tenho dele, do Nikolas [Ferreira, deputado federal], do Carmelo [Neto, deputado estadual], da esposa dele que foi eleita, tenho orgulho de vocês, mas fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá! Isso não dá. Nós vamos nos levantar e nós vamos trabalhar para eleger o Girão", acrescentou.
A fala repercutiu nas redes sociais, fazendo com que os próprios filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), se pronunciassem sobre o assunto.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi o primeiro a reagir publicamente. Ao portal Metrópoles, ele afirmou que Michelle "atropelou" a orientação do pai e classificou a postura como "autoritária".
"A Michelle atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma com que ela se dirigiu a ele, que talvez seja nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora", apontou.
Em seguida, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) endossou o irmão e reforçou que o acordo com Ciro havia sido conduzido com aval do ex-chefe do Executivo.
"(...) Foi injusto e desrespeitoso com o André o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo. Foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder", publicou no X (antigo Twitter).
Na sequência, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) também comentou o ocorrido, defendendo uma união pela liderança de Bolsonaro.
"Temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças", citou.
Meu irmão @FlavioBolsonaro está correto. Foi injusto e desrespeitoso com o @andrefernm o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo, foi uma posição definida pelo meu pai.
Na madrugada desta terça-feira (2), Michelle publicou uma nota de esclarecimento.
"Eu jamais poderia concordar em ceder o meu apoio à candidatura de um homem que tanto mal causou ao meu marido e à minha família", escreveu Michelle, atribuindo a Ciro responsabilidade por "implantar a narrativa" que "rotulou" Bolsonaro como "genocida".
"Como ficar feliz com o apoio à candidatura de um homem que xinga o meu marido o tempo todo de ladrão de galinha, de frouxo e tantos outros xingamentos?", completou a ex-primeira-dama.
Michelle ainda opina que "não basta derrotar o PT e a esquerda", mas fazê-lo preservando a coerência com os valores defendidos. Ela faz uma comparação: "seria o mesmo que trocar Joseph Stalin por Vladimir Lenin."
Após a contextualização, a ex-primeira-dama esclarece: "foi por isso, e apenas por isso, que me manifestei no Ceará. Não podia ficar calada diante desses acontecimentos. Meu marido tem um coração bom (bom até demais!) e, por isso, tenho o dever de defendê-lo e de me manifestar contra situações que eu sei, serão prejudiciais a ele. Ciro Gomes não é e nunca será de direita. Nunca defenderá os nossos valores. Sempre será um perseguidor e um maledicente contra Bolsonaro".
Ao final, Michelle pede perdão a seus enteados. "Não foi minha intenção contrariá-los. Eu, assim como eles, quero apenas o melhor para o nosso herói, seu pai, meu esposo e o maior líder que esse país já teve - Jair Messias Bolsonaro", terminou a nota.
A cúpula nacional do PL decidiu marcar terça uma reunião com Michelle, o presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, e os senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para alinhar discursos sobre disputas estaduais do ano que vem.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.