O publicitário Marcos Valério, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como operador do Mensalão, é alvo de uma operação deflagrada, nesta terça-feira (2), contra um esquema de sonegação de ICMS e lavagem de dinheiro no setor atacadista e varejista de Minas Gerais. O grupo teria desviado mais de R$ 215 milhões em tributos ao longo dos últimos anos.
Marcos Valério é apontado como um dos articuladores de um esquema de sonegação entre atacadistas e supermercados. Até o momento, não há mais detalhes sobre o envolvimento dele. Procurado, o advogado de Valério, Carlos Alberto Arges Júnior, disse que aguarda ter acesso aos autos para poder comentar.
"Acompanhei as buscas, mas não tive acesso ao processo que determinou as buscas. Já fiz o pedido de habilitação nas cautelares e estou aguardando", informou ao Estadão.
A ação também apura os crimes de organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
"Para executar essa sonegação eles constituíam empresas de forma fraudulenta, com sócios que não têm capacidade financeira para atuar. São operações simuladas que se traduzem nessa omissão, nessa sonegação", explicou
"Gera um prejuízo muito alto para o Estado, um dano irreparável para a concorrência."
Durante a operação, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na Região Metropolitana de Belo Horizonte e no Centro-Oeste de Minas Gerais. As sedes de empresas, bem como as residências de empresários e funcionários envolvidos nas fraudes e na lavagem de capitais ilícitos, foram alvos da ação.
Os agentes apreenderam celulares, equipamentos eletrônicos, documentos e outros elementos de interesse para a investigação, além de veículos de luxo utilizados pela organização para a lavagem de dinheiro. O Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos de Minas Gerais (CIRA-MG) também obteve a indisponibilidade de bens dos investigados, totalizando R$ 476 milhões.
A Operação Ambiente 186 tem como objetivo desarticular um esquema estruturado de fraudes tributárias envolvendo atacadistas, redes de supermercados e empresas ligadas ao setor varejista no estado.
Operador do Mensalão
O Mensalão foi um escândalo político brasileiro revelado em 2005, no primeiro governo Lula. O caso envolvia um esquema de compra de apoio parlamentar: partidos da base aliada receberiam pagamentos regulares em troca de votos favoráveis a projetos de interesse do governo.
A ampla investigação do caso levou à condenação de políticos, assessores e empresários por crimes como corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, tornando-se um marco no combate à corrupção no país.
Marcos Valério Fernandes de Souza, de 64 anos, era sócio das agências de publicidade DNA e SMP&B Comunicação e Propaganda. Por meio dessas empresas, passou a atuar como operador de esquemas de financiamento político e de manobras financeiras ligadas a campanhas e ao uso de recursos públicos.
Assim como outros empresários e políticos envolvidos no Mensalão, Marcos Valério foi condenado em 2012 pelo STF. Ele foi responsabilizado por peculato, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro. A pena totalizou 37 anos, 5 meses e 6 dias de reclusão em regime fechado.
Após cumprir parte da pena em regime fechado, Marcos Valério passou para o regime semiaberto por decisão do STF e, posteriormente, graças ao bom comportamento, avançou para o regime aberto, que acabou sendo cumprido em prisão domiciliar.
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