Antonio Carlos de Almeida Castro, o KakayCarlos Humberto/STF

Quantos Lulas serão necessários para o Brasil ser ouvido no mundo? Esta tragédia indígena, especialmente a dos Yanomamis, ecoa há muito tempo na nossa realidade. A irresponsabilidade do fascista Sérgio Moro - quando era ministro da Justiça, paralisou a demarcação das terras indígenas e manietou o trabalho da Funai, o que acabou resultando na morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips - foi apenas um sinal a mais desta covardia anunciada. Não podemos nos esquecer de que o coordenador daquela fundação, que combatia a mineração ilegal em terras indígenas, foi exonerado pelo ex-ministro exatamente quando o governo Moro-Bolsonaro apresentava um projeto para liberar o garimpo em terras indígenas. Nada se deu por acaso.

Há documentos que precisam ser examinados. Nos últimos dois anos, a associação dos Yanomamis enviou 21 ofícios com pedidos de providências que foram desprezados. Urge analisar e responsabilizar as ações e as omissões praticadas pelo ministério da alucinada Damares que demonstram que ela e o chefe da quadrilha, o então presidente da República, negaram leitos de UTI, itens de higiene pessoal, produtos de limpeza e materiais para o enfrentamento do vírus e da crise sanitária, como ventiladores pulmonares para os indígenas no auge da pandemia, entre outros descalabros. Essa mulher é um verme que corrói qualquer estrutura humanista. É o que existe de mais cruel. A imagem da ignorância e do atraso. Eles são essencialmente maus, covardes, fascistas e racistas.

Os dados divulgados são alucinantes: em quatro anos de governo Bolsonaro, morreram 570 crianças indígenas. Dessas, 99, com idade entre um e quatro anos, morreram no ano de 2022 por desnutrição, contaminação por mercúrio, malária e fome; 79% das crianças estão subnutridas; 11 mil casos de malária em uma população de 30 mil índios; desvio de medicamentos e inúmeros outros casos de abuso e corrupção. Enfim, um estado de calamidade com o governo de costas para os brasileiros e escolhendo os índios como alvo de extermínio. Crime. Genocídio. Barbárie.

Como nos ensinou o líder dos Yanomami, Davi Kopenawa, no seu livro 'A queda do céu': "Os brancos dormem muito, mas só conseguem sonhar com eles mesmos". É importante resgatar o discurso de campanha do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, quando ele expressamente afirmou que “as minorias têm que se curvar para as maiorias”. E, ousada e criminosamente, complementou que, “se as minorias não se curvassem, iriam desaparecer”. É exatamente o que o governo Bolsonaro fez com os índios, especialmente com a nação Yanomami: uma definição clássica e acadêmica do que é genocídio.
Basta examinar tecnicamente o texto da Lei 2.889/1956:
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: (Vide Lei nº 7.960, de 1989)
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;

Mas há mais! Em 1998, o então obscuro deputado federal pelo Rio de Janeiro Jair Bolsonaro apresentou à Câmara um projeto de decreto legislativo que pretendia tornar sem efeito a reserva Yanomami e o discurso do fascista era assustador. Confiram:

“Até vale uma observação neste momento: realmente, a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e, hoje em dia, não tem esse problema em seu país.”

Quando em junho de 2021, em plena pandemia, comecei a gritar e a pedir o enquadramento por genocídio do fascista Bolsonaro, os acadêmicos e professores entendiam ser exagero. Hoje, milhares de mortos depois, e com a quase extinção do povo Yanomami, o mundo inteiro olha para o Brasil e se rende a uma necessidade humanitária: vamos condenar Bolsonaro e seus asseclas assassinos por genocídio para que a barbárie não se repita.

É o que a humanidade pede e espera. E é o que nós merecemos. O Brasil merece, em memória e honra dos que se foram e poderiam estar aqui. Como nos ensinou Jorge Luis Borges: “Sempre a selva, sempre o duelo. Peito a peito e face a face. Viveu matando e fugindo. Viveu como se sonhasse”.

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay