“Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!”
Discurso de posse do Presidente Lula, 1º de janeiro de 2023
O Presidente Lula volta a governar o Brasil, vinte anos depois do início do seu primeiro mandato, em um momento de muita instabilidade, não só interna, mas mundial. As eleições espanholas deixam claro que a ultradireita está cada vez mais forte no mundo todo. Há um cheiro podre franquista que saiu das urnas e demonstrou, na agressão ao Vinícius Júnior, que o racismo está arraigado pelos 36 anos de Ditadura com o Generalíssimo Franco. A reação digna e altiva do jogador e a repercussão mundial fizeram o assunto ecoar na Espanha dois ou três dias depois do fato. Na verdade, o movimento espontâneo, logo após os atos preconceituosos, foi de um apoio silencioso, mas não envergonhado.
Da mesma maneira, tenho insistido nesta tecla: os quatro anos de Bolsonaro deixaram marcas profundas na Democracia e no caráter do povo brasileiro. Ninguém convive com o fascismo impunemente. O nosso Congresso Nacional mostra isso diariamente. Agora, um senador da República fez uma confusa e ininteligível defesa do macaco ao comentar os xingamentos da torcida espanhola ao nosso jogador. Reafirmando, com certo orgulho, a posição racista no episódio, ele deixou a impressão de que teremos muitas dificuldades para manter a estabilidade democrática. Provavelmente, ele falava para alguns dos seus pares, como a Damares, o Moro e outros. Um show de horror. Parece ser o preço que teremos que pagar para vivermos em um Estado democrático de direito: aprender a conviver com a ultradireita.
Com a espetacular vitória da Democracia nas urnas na última eleição - não foi fácil derrotar um presidente em exercício e sem nenhum escrúpulo -, Lula se viu obrigado a fazer um acordo muito mais amplo do que o desejado. E, dentro do próprio governo, é possível identificar uma diversidade que quase inviabiliza avanços significativos nas áreas mais sensíveis. A oposição está sentada à mesma mesa e divide o Poder. Com uma divisão cada vez mais evidente, o Congresso Nacional resolve bancar o jogo. É importante o Presidente da República saber dar as cartas, afinal, no sistema presidencialista, é ele quem tem que ocupar um lugar que dita, no mínimo, as principais políticas sociais e econômicas. Para tanto, é necessário ter força para coordenar não só o núcleo duro do governo, mas os principais atores da política que sustentam a hipótese de um país mais justo e igual.
O terceiro mandato do Lula tem apenas 5 meses e o fascista do Bolsonaro deixou um país sucateado. Nesse duro início, o Brasil: i) enfrentou uma tentativa de golpe de Estado; ii) recolocou-se no cenário internacional; iii) voltou a sentar-se de igual para igual com os países que ditam as regras no mundo; iv) devolveu a autoestima ao povo e v) tem que lidar, no dia a dia, com as viúvas do fascismo bolsonarista e do lavajatismo. Não é pouca coisa, É preciso ter pulso e disposição para confrontar o mais reacionário Congresso Nacional e, ainda assim, fazer as mudanças para colocar em prática as promessas de campanha.
Só de vencer o fascismo nós já teríamos motivos para celebrar, mas a vida é assim: agora, já é hora de cobrar mais e de avançar para acabar com a fome de 33 milhões de brasileiros e voltar a priorizar o fim das desigualdades. O nosso voto foi para derrotar a barbárie e o fascismo, mas foi também um voto de esperança na justiça e na igualdade social.
Lembrando-nos do mestre Mia Couto, “A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos”.