Arte Coluna do KakayPaulo Márcio

Eu julgava que, após a desmoralização da República de Curitiba, não seria necessário enfrentar novamente a desastrada e criminosa Operação Lava Jato. Com o julgamento da parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro, bem como com a declaração de incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba e a consequente anulação de vários processos, o então rei do Judiciário ficou nu. Ocorre que, com a comemoração dos 10 anos da malfadada Operação, os holofotes se voltaram outra vez para a análise dos erros, dos crimes e dos acordos lamentáveis feitos pelo grupo que coordenou “o maior escândalo judicial da nossa história” e que “terminou como uma verdadeira organizadora criminosa”, nas palavras abalizadas do ministro do Supremo Tribunal Gilmar Mendes.
O relatório apresentado pelo ministro Salomão, corregedor do CNJ, sobre o que ocorreu na tristemente famosa República de Curitiba foi avassalador. O documento aponta “hipótese criminal” de desvio de dinheiro público com o suposto envolvimento dos líderes do que seria, nas palavras do ministro Gilmar, uma verdadeira organização criminosa. E apresenta, aberta e claramente, como responsáveis os nomes do ex-magistrado Sérgio Moro, do ex-procurador da República Deltan Dallagnol e de outros membros do Judiciário e integrantes da força-tarefa. 
Ao falar em “gestão caótica” levada a cabo nos processos coordenados pela República de Curitiba, o documento desnuda a articulação, inclusive com o auxílio de “autoridades americanas,” e a teratológica criação de uma fundação privada de, no início, 2 bilhões de reais. Tudo sob a supervisão da juíza que substituiu Sérgio Moro, a Dra. Gabriela Hardt.
Por muito menos, por fatos infinitamente menos graves, se apresentados aos então responsáveis pela Lava Jato, o Deltan e seus comparsas, teriam pedido a prisão de todos: dele, do Moro, da Gabriela e dos outros membros da força-tarefa. E o então juiz heroico, por coerência, teria determinado a custódia preventiva dele próprio e dos demais. Talvez até, num enredo surrealista, forçassem eles próprios a uma delação. Seria cômico, não fosse trágico. Parafraseando o poeta baiano: “A vida dá, nega e tira”.
Não podemos esquecer: o que gestou o governo do fascista Bolsonaro foi exatamente a Operação Lava Jato. Em um exemplo acadêmico de corrupção, o ex-magistrado Sérgio Moro determinou a prisão do potencial candidato à Presidência que estava em primeiro lugar nas pesquisas, Lula da Silva, e deixou aberto o caminho para a vitória de Jair Bolsonaro. É importante registrar que, em claro jogo que evidencia a trama de poder, Moro foi recompensado com o cargo de ministro da Justiça tão logo Bolsonaro ganhou. As tratativas para receber a paga ocorreram ainda com o então juiz com a toga nos ombros. Um escândalo. A confirmação de tudo que eu falei país afora em centenas de palestra, debates e artigos.
Mas, repito, a Lava Jato não acabou. O Brasil tem que se respeitar. Só venceremos esse câncer definitivamente com a responsabilização, inclusive criminal, de todos os que instrumentalizaram o Judiciário e o Ministério Público, com o auxílio luxuoso da grande mídia. Inclusive dos advogados que eram usados como força auxiliar. Como eu já dizia, desde os primórdios da Operação, tudo era um jogo de poder e eles acreditaram, por serem indigentes intelectuais, que realmente eram heróis e semideuses.
Lembrando-nos do grande Pessoa, na pessoa de Álvaro de Campos, no imortal Poema em linha reta: “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo”.