“Milícia não é poder paralelo, é Estado leiloado.” Marcelo Freixo
Ninguém é dono da verdade. Mas é triste constatar que é possível conhecer o Rio de Janeiro pela leitura das páginas policiais. A milícia tomou parte de 65% do território do estado, que já tem 15% dominado pelo tráfico. Resta pouco espaço para a população trabalhadora, séria e sofrida, que vive sob o jugo do medo e da violência. Nos últimos tempos, 5 governadores foram presos e 1 afastado do cargo. Sem contar outros que respondem a inquéritos criminais e estão sob permanente investigação. Parece que uma desgraça se abateu sobre aquele lugar.
A única chance para a cidade e o estado é o voto consciente e responsável. Claro que serão necessárias muitas ações para livrar o Rio do abismo para onde a milícia e o tráfico parecem ter tragado o cidadão que mora na cidade mais bonita do mundo. Porém, tudo começa pelo voto, com a escolha de governantes que não têm compromisso com o crime, que subjugou o Rio de Janeiro. Existem muitas regiões nas quais as pessoas não podem entrar ou transitar sem pagar pedágio e sem se humilhar para os donos do espaço. Não existe saída, senão apostar em quem faz política de forma ética e, comprovadamente, honesta.
No Rio, a discussão não se dá entre esquerda e direita, partidos mais próximos de um pensamento progressista e partidos conservadores. O que deve nortear a escolha é quem é capaz de derrotar os grupos ligados às forças da milícia e do tráfico e que usam a violência como cabo eleitoral. A corrupção ali é um subproduto da violência alimentada pelo crime organizado. Os donos dos espaços em que o estado não chega conseguem impor suas normas e regras.
O turista deveria ser o grande ator propulsor da economia dessa cidade maravilhosa, mas tem medo de pegar uma viela errada, ao sair do aeroporto do Galeão, e se ver no meio de gangues fortemente armadas impondo a sua própria lei e ordem. É um horror institucionalizado. É o fim do Estado democrático de direito.
O grande ativo do prefeito Eduardo Paes é o fato de ele ter governado a cidade do Rio de Janeiro por 2 gestões - de 2009 a 2017 - e estar no cargo novamente, no terceiro mandato, eleito em 2021. A sua nova candidatura para seguir como gestor, pela 4ª vez, no pleito que se avizinha, dá-nos a certeza de que o crime não terá a chave da prefeitura. Na última eleição, o opositor Marcelo Crivella, que tentava a reeleição, colou a imagem dele ao então todo poderoso Bolsonaro - símbolo de tudo que é atrasado e perigoso na cidade e no estado. Ainda assim, Paes venceu com 64,07 % dos votos. O então prefeito Crivella apostou na não política e na linha bolsonarista, e o Rio teve a maior abstenção da sua história: 35,45% do total de eleitores deixaram de ir às urnas.
Por tudo o que significa, a chance de resgatar o Rio de Janeiro do atraso e da violência, no dia 6 de outubro, é usar a única arma da Democracia: o voto. E vamos dar uma esperança aos cariocas. Vamos derrotar novamente o bolsonarismo representado pelo candidato Ramagem. Depois, a gente cobra do Paes um governo mais alinhado às políticas sociais. Mas vamos votar contra o crime e dar uma chance à Democracia.
Lembrando-nos do poeta Leão de Formosa:
“Aperfeiçoa-te na arte de escutar, só quem ouviu o rio pode ouvir o mar.”
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.