É fato público e notório o amor da esquerda pelo que o economista Paul Sweezy descreveu como economias de comando face às economias de mercado. Em termos diretos, é a opção por dar ordem unida às forças de mercado como se fosse um sargento no comando de uma companhia. Da mesma forma, a formação dos militares exige hierarquia e disciplina rígida. E não poderia ser diferente de modo a ter forças militares profissionais, e que não se envolvam em atividades políticas.
Os pais fundadores dos EUA e os nossos, Dom João VI, Dom Pedro I, Princesa Leopoldina, Frei Arrabida, Frei Sampaio e José Bonifácio, em tom menor, segundo a abalizada pesquisa do Prof. Evandro Fernando de Pontes, em seu livro "Os Pilares da Independência do Brasil", tinham um ponto de convergência bastante nítido em relação ao papel das Forças Armadas: deveriam estar sob firme controle civil. Thomas Jefferson, terceiro presidente americano, em seu discurso de posse, em 1801, afirma que a autoridade militar deve estar subordinada à civil. Princípio que os EUA mantêm, com firmeza, até hoje.
Infelizmente, só foi o nosso caso até 1889. Daí em diante, o protagonismo político, em especial do Exército, se fez sentir, inclusive se arrogando o papel espúrio de poder moderador, que foi responsável pelos descaminhos políticos impostos ao País. Pior: deixamos de ter instrumentos legais de resolução de crises, como dispunha a constituição imperial de 1824 via poder moderador. Foram 19 rebeliões militares, média de uma a cada sete anos, fora nove governos autoritários, 12 estados de sítio e duas longas ditaduras (Vargas e 1964-1985).
Curiosamente, o Exército é uma instituição anticomunista, mas na área da economia adotou na prática políticas de economia de comando. Dois terços das estatais foram criadas após o golpe de 1964. O ex-ministro Paulo Guedes, em conversa com militares, face à corrupção e desmandos nas estatais, lhes disse que elas eram seus filhos drogados, que voltavam à casa paterna com uma bagagem de ineficiência e baixas competitividade e produtividade.
Que tipo de lição podemos tirar desse tipo de situação esdrúxula em que uma instituição de Estado acabou fazendo o jogo político de quem queria combater? Na verdade, a origem vem de longa data, do positivista Augusto Comte (1798-1857), que dizia que assim como não havia liberdade em física e química (hoje contestado), também não deveria havê-la em política. Nela, deveria ser implantada uma ditadura científica. Cabe notar o parentesco próximo com a famigerada ditadura do proletariado, que deu no que deu.
O triste fim dessas aventuras militares na política resultou de dupla falha: formação profissional dos militares que desconheciam as duras leis econômicas e a reiterada opção de tentar dar ordem unida à sociedade civil. As leis econômicas, a médio e longo prazo, não se dobram ao voluntarismo de quem tenta virá-las pelo avesso. Quanto à sociedade, que lhes paga a conta, a revolta foi num crescendo até lhes retirar completamente as rédeas do poder. Ficar na frente de quartéis pedindo intervenção militar revela nossa falência institucional, que nos humilha como povo sem dispositivos ágeis para superar crises e controlar efetivamente os desmandos do andar de cima. Mãos à obra.
Nota: digite no Google "Dois Minutos com Gastão Reis: Inversão de Valores". Ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=CSpng1r_oRA.
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