Atraído pelo megafone do (nem tão) garoto-propaganda que anunciava, aos berros, "oportunidade única, os produtos estão pela metade do dobro do preço. É promoção", entrei numa drogaria popular do Méier, sem sequer saber ao certo o que procurava. Foi quando encontrei o Brederodes, um velho e velho amigo dos tempos em que o Barbosa era o goleiro do Vasco e da Seleção Certo, eu também sou antigo.
– Amigo, quanto tempo! O que você faz por essas bandas? – Perguntei.
– O que toda pessoa nascida na primeira metade do século passado faz: resisto! – Brincou o amigo, para acrescentar:
– Depois de uma certa idade, se vintém ainda tiveres, não corras para as apostas, mas para as promoções, sejam estas quais forem, mas preferencialmente, as da farmácia – disse.
Brederodes sempre foi o companheiro ideal do velho guarda-chuva. Faça sol, faça chuva, nunca largou o equipamento, um hábito que ele mantém desde os tempos de rapazola. Ou quem sabe seja essa a sua arma de defesa?
A esposa dele, a Aletusa, nunca se incomodou com o fiel companheiro, vamos assim dizer, do marido. Aliás, ele me confessou que, quando distraído, sai desprevenido, ela o alerta: “esqueceu o apoio”?
Mas o amigo não perdeu a pose. Sempre foi um homem bem-vestido, pintoso, gravata borboleta, sabia usar as roupas para cada momento. Um fidalgo, eu diria.
Ele lembrou que naquela época eram poucas as drogarias na cidade. Agora, fecham postos de gasolina e abrem drogarias. - É, amigo, a população está envelhecendo e as drogarias prosperando - disse, meio triste.
Gozador como sempre, ele contou que vai fazer uma plaquinha para andar com ela no peito:
“Sou aposentado, senhor ladrão, poupe-me!”
Claro que para botar a conversa em dia demoramos horas, já na saída da loja. Afinal, eu, com muito gosto, convidei o casal para participar de uma churrascada lá na caverna. Ele sabe onde é. Apenas, o tempo nos distanciou, mas não a boa e velha amizade.
Brederodes contou que comprou um pequeno apartamento num antigo bairro chamado Boca do Mato, que a exploração imobiliária batizou de Grande Méier, mas ele chama apenas de Méier. Bairro esse que eu considero uma cidadezinha ao lado. Aliás, Água Santa poderia ser até um condado do Méier. Ou vice-versa. No Méier, amigos, moram ricos e pobres. Já em Água Santa, só moram pobres. Mas tem muito mais moradores em Água Santa do que no vizinho. Portanto, estou no lado mais habitável ou habitado.
Incrível, acreditem, o casal não usa celular. Vocês conhecem alguém que ainda não usa?
Passei, então, o número do meu telefone fixo para ele.
Concordamos que as drogarias são os locais onde as classes sociais se encontram e até se confundem. Todos atrás de promoções.
Esperto, ele jamais pede remédio por telefone, vai pessoalmente atrás dos melhores preços:
– Telefone é pra preguiçoso e para os mais doentes. Afinal, cobra que não anda, não engole sapo.
Maravilha, está bem lúcido.
Então ficou combinado que o próximo encontro seria em outra drogaria. Vamos aguardar as promoções para escolher em qual delas. Medicamentos nos movem.