Tarcísio MottaPaulo Carneiro/Parceiro

O PSOL definiu esta semana em plenária que o deputado federal Tarcísio Motta é o nome do partido para concorrer às eleições para a Prefeitura do Rio em 2024. Em entrevista à coluna, o pré-candidato falou sobre os pontos em destaque em sua campanha. Entre eles, está a tarifa zero para o transporte público. “Queremos tirar o sistema da mão da máfia que sempre lucrou em cima da passagem paga pelo trabalhador. A cidade precisa tratar o seu sistema de mobilidade da mesma forma que trata seus serviços de coleta de lixo, de poda de árvore e de reforma de praça. Isso irá reduzir o custo de vida na cidade, dinamizar a economia urbana e ampliar o acesso de todos os cariocas aos equipamentos públicos e bens comuns da cidade, como praias, parques e praças. Várias cidades no Brasil e no mundo já estão adotando políticas de tarifa zero. Basta ter coragem pra mudar”, disse.
O senhor é pré-candidato do PSOL à prefeitura do Rio. Quais serão seus carros-chefes de campanha?
Nossa candidatura vai representar o desejo de mudança na cidade do Rio. Vamos provar que os problemas dos cariocas não serão resolvidos por aqueles que estão no poder há décadas, pois não vamos sair desse buraco insistindo na mesma turma que nos levou ao fundo do poço. A cidade precisa de uma verdadeira revolução urbana com saúde pública de qualidade, trabalho digno, moradia popular e um sistema de mobilidade urbana gratuito que garanta ao carioca a liberdade de circular pela cidade sem ter que pagar tarifa ou passar por uma roleta. A cidade também precisa de educação integral inclusiva articulada à cultura, onde nenhuma criança ficará sem escola, nenhuma escola sem estrutura e nenhum profissional de educação sem direitos. Por fim, o Rio precisa urgentemente se adaptar diante da crise climática que já nos assola e proteger os cariocas que vivem em áreas sujeitas a inundações e deslizamentos. Aprendi com a experiência da CPI das Enchentes o que a Prefeitura deve fazer diante das chuvas cada vez mais severas e recorrentes. Continuar do jeito que está nos levará a tragédias cada vez mais dramáticas. Chegou a hora de governar com as pessoas que lutam todos os dias para sobreviver nessa cidade. O Rio tem jeito e tem muita gente cheia de vontade de fazer isso acontecer. É com essas pessoas e movimentos que vamos tecer um novo amanhã.
O senhor acredita que o governador Cláudio Castro terá um papel importante na disputa para a prefeitura da capital?
Cláudio Castro venceu a eleição para governador e tem uma máquina poderosa. Pode influenciar nas eleições municipais. Mas não é de hoje que Castro se embola no personagem que ele mesmo criou para si. Como se explica um aliado fervoroso de Bolsonaro acenando alegremente para Eduardo Paes? No final, o que interessa a todos eles é manter o poder, custe o que custar, doa a quem doer. E, em geral, quem “paga o pato” é o povo carioca. Nós vamos provar que não precisa ser assim.
O bolsonarismo é forte no Rio de Janeiro. Como vencê-lo?
Vamos lembrar à população que o bolsonarismo deu à cidade sua pior gestão em décadas e que os cariocas não podem errar de novo. Crivella foi incapaz de resolver os problemas deixados pelo Paes e ainda aprofundou muitas injustiças. Para piorar, agora eles estão juntinhos, lado a lado, confabulando! E o vereador Carlos Bolsonaro? O que fez pela cidade? Ele vive às custas do dinheiro público desde os 17 anos e só pensa nos próprios interesses. Já o derrotei quando disputamos as eleições em 2020 para Câmara de Vereadores. Agora vamos derrotá-los de novo. Para isso, iremos construir uma frente de esquerda junto com movimentos sociais e partidos progressistas que acreditam que outra cidade é possível.
O senhor é professor. Por que a educação integral em todas as escolas é tão difícil de ser implantada?
Aqueles que governam a cidade há décadas alegam que educação integral exige um recurso orçamentário muito alto. Acham que educação é custo. Por isso, eles sempre cortam o dinheiro das escolas para fazer obras eleitoreiras e garantir seus cabos eleitorais. Mas nós sabemos que educação é investimento. Apostamos na escola como instrumento para transformar nossa realidade. Queremos uma educação integral inclusiva que articule as políticas de esporte, arte e cultura aos programas de educação e envolva toda comunidade escolar – alunos, pais, funcionários e professores – na construção de programas educativos. Pois não basta aumentar o horário da criança na escola. Mais do que o tempo em sala de aula, é a educação que deve ser integral. É preciso um currículo diversificado com profissionais valorizados e uma escola aberta à comunidade.
O senhor é crítico à atuação da Guarda Municipal no trato com os camelôs, entregadores de aplicativos, sem tetos e artistas de rua. O que está errado?
A gestão do Paes trata trabalhador como bandido. É preciso entender que os camelôs estão ali tentando levar o pão de cada dia para dentro de casa. A organização do comércio informal é uma questão para a Secretaria de Trabalho resolver e não para a Guarda Municipal. O ambulante quer licença e dignidade, mas a prefeitura só sabe jogar bomba. Da mesma forma, é preciso organizar a cidade para que ela seja um espaço de acolhimento para entregadores, com pontos de apoio e descanso, por exemplo. Por fim, uma política que dê conta de ter arte pública por toda cidade torna o espaço urbano muito melhor para todo mundo, além de gerar emprego e renda. Enfim, basta conversar com os servidores para saber que a própria Guarda não aguenta mais ser reduzida a vilã de camelô, entregador, sem teto e artista de rua. Violência não assegura ordenamento urbano para ninguém. A Guarda precisa garantir direitos e promover a liberdade. Sua função deveria ser defender o cumprimento da Lei Orgânica e do Plano Diretor do Rio, utilizando técnicas preventivas de mediação de conflito para a resolução pacífica de problemas e a gestão inteligente do espaço público.
Falemos de transportes: o que significa "luta por tarifa zero"?
Significa transformar o sistema municipal de ônibus, vans e bicicletas em um serviço gratuito e direito universal. Queremos tirar o sistema da mão da máfia que sempre lucrou em cima da passagem paga pelo trabalhador. A cidade precisa tratar o seu sistema de mobilidade da mesma forma que trata seus serviços de coleta de lixo, de poda de árvore e de reforma de praça. Isso irá reduzir o custo de vida na cidade, dinamizar a economia urbana e ampliar o acesso de todos os cariocas aos equipamentos públicos e bens comuns da cidade, como praias, parques e praças. Várias cidades no Brasil e no mundo já estão adotando políticas de tarifa zero. Basta ter coragem pra mudar.