Vereadora Monica Benicio (PSOL)Divulgação
Nascida e criada na favela da Maré, no Rio, Monica Benicio é vereadora lésbica e feminista, militante de direitos humanos e ativista LGBTQIAP+. Arquiteta urbanista, é mestra em Arquitetura em "Violência e Direito à Cidade". Desde a execução da companheira, Marielle Franco, em 2018, se dedica na justiça pelo crime. Eleita vereadora em 2020 pela primeira vez, preside a Comissão Municipal de Defesa dos Direitos das Mulheres, atuando em defesa da cultura e seus trabalhadores, além dos direitos da população LGBTQIAP+.
Por que a senhora é contra o armamento da Guarda Municipal?
A ideia que uma Guarda Municipal armada fazendo policiamento ostensivo irá reduzir crimes contra o patrimônio, roubo de celular, carros, carga e bicicletas não é real. Sem combate às redes econômicas que demandam esses assaltos e furtos, os roubos irão migrar de uma região para outra. Foi o que ocorreu com a implementação das UPPs na cidade do Rio de Janeiro, que fez explodir os indicadores de violência na Baixada Fluminense. Eduardo Paes, para turbinar sua campanha ao Palácio Guanabara, manipula a sensação de insegurança da população. Mais armas em circulação não é resposta à violência, e as mulheres, em especial, sabem bem disso. Só entre janeiro e março de 2025, 80% dos feminicídios no Rio foram praticados por agentes de segurança, segundo dados do Fogo Cruzado.
O Programa de Enfrentamento ao Feminicídio virou lei há 3 anos, mas o número de assassinatos de mulheres cresce a cada dia. De que trata efetivamente o Programa? O que falta para ser implantado?
O programa trata da prevenção a toda forma de violência contra as mulheres, assistência e garantia dos direitos a elas e seus dependentes. O feminicídio é um crime hediondo, e envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Os números na cidade do Rio são alarmantes: foram registradas 117 tentativas de feminicídio e 51 mortes de mulheres em todo o ano de 2024, segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública). Estes números poderiam ser melhores se o programa já tivesse sido implementado.
O STF aprovou mudanças na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635, a ADPF das favelas, que discute a atuação das forças de segurança pública em comunidades do estado. Em quais pontos a senhora discorda e por quê?
O objetivo da ADPF era o reconhecimento das graves violações de direitos humanos cometidas pelo Estado nas favelas e medidas para reduzir a letalidade policial, que em 2019 vitimou 1814 pessoas. Infelizmente, não tivemos a plenitude das reivindicações atendidas, mas houve avanços, como a obrigatoriedade do uso de câmeras nas fardas e viaturas das polícias. Mas não proibir operações nas imediações de escolas e postos de saúde e a possibilidade de serem usados como base de apoio, assim como a permissão de helicópteros como base de tiro, foram derrotas amargas. O STF perdeu a oportunidade de proteger vidas.
Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, assassinos confessos da vereadora Marielle Franco, foram julgados pelo crime, porém os irmãos Brazão, acusados de serem os mandantes, ainda não. O que a senhora tem a dizer?
Há muito o que dizer, assim como ainda há um longo caminho na luta por justiça para Marielle e Anderson. Entre os executores, Ronnie e Élcio foram julgados e condenados, mas ainda há o julgamento do Maxwell, acusado de ocultar elementos do crime. Os ritos e a tramitação no STF estão sendo cumpridos. Rivaldo Barbosa, Domingos Brazão e Chiquinho Brazão irão a julgamento. A concessão de prisão domiciliar ao Chiquinho Brazão por motivos humanitários é desconfortante, mas, como defensora dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito, reconheço a medida. Espero que este episódio fomente celeridade ao STF, e que o julgamento dos acusados seja marcado em breve. É indecoroso Domingos Brazão não ter perdido seu assento no Tribunal de Contas do Estado. Como podemos ver, e como nos mostra o relatório da Polícia Federal, que aponta a existência de um ecossistema criminoso no Rio de Janeiro, há muitas lutas a serem travadas.
O número de vereadores do PSOL nas últimas eleições para a Câmara Municipal caiu de sete para quatro. O PSOL vem perdendo força no Rio?
As eleições de 2024 foram muito duras para o PSOL. Ficamos espremidos entre Paes e a máquina da prefeitura, e a extrema-direita, representada pela candidatura de Ramagem com sua máquina de proliferar mentiras turbinada pelo uso das emendas parlamentares. O fantasma da gestão Crivella foi manipulado por Paes para provocar medo no eleitor. E nós não conseguimos chegar ao coração das pessoas. Não conseguimos ser a alternativa capaz de convidar a população à ousadia. Perder Paulo Pinheiro, Mônica Cunha e Luciana Boiteux é doloroso para o PSOL e para a população carioca - são lutas históricas e vitais para a nossa cidade - que perderam representação. Mas o PSOL consolidou sua inserção na Zona Oeste com a grande votação do Willian Siri. Rick Azevedo chega com a luta contra a jornada 6x1. E Thais Ferreira, nossa líder e grande articuladora das demandas das crianças e adolescentes, com minha ajuda, vai dar muito trabalho ao Paes.
A senhora é pré-candidata ao governo do estado do Rio de Janeiro?
Não sou pré-candidata ao governo do estado neste momento. Meu foco está no mandato de vereadora, na luta por justiça para Marielle e Anderson e na construção de um Rio mais justo, inclusivo e solidário. O PSOL terá candidatura própria porque acredita que o povo do Rio merece muito mais do que governos que servem ao mercado, fazem alianças com as milícias e desprezam a vida nas favelas. A decisão sobre o nome que representará o partido será tomada a partir de um processo coletivo e democrático, que ainda está em curso. Tenho total confiança nesse debate, e sigo comprometida com o fortalecimento do nosso projeto político — dentro e fora das instituições.
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