Superintendente do Cuidado da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, Michelle GitahyMaurício Bazilio/SES-RJ/Divulgação

Michelle Gitahy, fisioterapeuta com especialização em pediatria e em neurociências, há 20 anos se dedica à reabilitação de crianças e adolescentes. Mestranda em neurociências com dissertação sobre a "Construção da Linha de Cuidado Estadual para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista", é docente de cursos de graduação e pós-graduação em saúde e educação. A experiência ultrapassa fronteiras, tendo atuado em vivências nas Escolas de Reggio Emilia, Itália, além de mediadora do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) no Feuerstein Institute, em Jerusalém, Israel. Atualmente, é superintendente do Cuidado da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista na Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.

SIDNEY: Quais os principais sintomas do autismo?

MICHELLE GITAHY: Existem características básicas para o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA), seguindo os critérios do DSMV, que é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, como déficit persistente na comunicação e na interação social, pouca reciprocidade socioemocional, prejuízo na linguagem verbal, não verbal ou na interação em formas de comunicação, assim como iniciar e manter as relações. Além de padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades como as estereotipias motoras/vocais, insistências na rotina e em rituais, inflexibilidade devido aos interesses restritos com foco e intensidades e hiper ou hiporreatividade sensorial ao ambiente também são alterações sensoriais significativas. Importante ressaltar que nem todas as pessoas com o diagnóstico TEA vão apresentar as mesmas e/ou todas as características com igual intensidade, por isso, a avaliação precisa ser criteriosa e feita por profissionais especialistas.

Quantas pessoas já foram diagnosticadas com autismo no Rio de Janeiro?
Pesquisa do IBGE divulgada recentemente mostra que o estado do Rio é o terceiro com mais pessoas diagnosticadas com autismo no Brasil: 214.637 pessoas, 1,3% da população fluminense do total de 2,4 milhões no país. Por isso, o Estado inaugurou o Centro de Diagnóstico Estadual para o Transtorno do Espectro Autista (CedTEA) em 5 de abril de 2024, um marco importante para a população fluminense. A unidade oferece atendimento multidisciplinar de avaliação diagnóstica para crianças e adolescentes de 18 meses a 17 anos, 11 meses e 29 dias que possuem encaminhamento clínico com sinais de alerta para o diagnóstico de Autismo. O Centro conta com avaliações médicas e terapêuticas com equipe composta por médicos neuropediatra/psiquiatra, assistente social, fonoaudióloga, psicóloga, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, neuropsicóloga e nutricionista. Pela urgência do cuidado, temos uma dinâmica com 12 atendimentos até a emissão do laudo, dentro de um fluxo de aproximadamente seis idas à unidade, considerando as necessidades e particularidades de cada caso. Os responsáveis recebem orientações e participam de rodas de conversa. No caso de avaliações inconclusivas, é feito reagendamento. Os dados do IBGE são fundamentais para o planejamento e fortalecimento das políticas públicas voltadas para pessoas com TEA. As informações constituem base técnica estratégica para dimensionar com precisão a demanda, orientar a regionalização de serviços especializados e estabelecer metas para a estruturação da linha de cuidado no SUS. Além disso, os dados reforçam a legitimidade da atuação da Superintendência, que trabalha no fortalecimento da articulação intersetorial, na capacitação dos profissionais e na expansão da rede de cuidado com foco na equidade, integralidade e garantia de direitos.

Como procurar atendimento no CedTEA?

Para que as famílias tenham acesso aos serviços é preciso que procurem um Centro de Saúde ou Clínica da Família mais próximo da residência, para que seja feito agendamento por meio de regulação, que pode ser via Sistema Estadual de Regulação (SER) ou Sistema Nacional de Regulação (Sisreg).

Quantos atendimentos o Centro já realizou? Diante da demanda, está prevista a ampliação dos serviços?

Já foram realizados mais de 5,1 mil consultas de abril de 2024 a abril de 2025. Nosso planejamento inclui expansão na Terapia Ocupacional e Neuropsicologia. Também avaliamos a ampliação da equipe multidisciplinar com profissionais de Odontologia. Para pessoas com mais de 18 anos, existe o CATEA, um projeto do Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro, na Gamboa. Para a realização de exames de eletroencefalograma com sedação, contamos com o Espaço TEA, no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha.

O trabalho é realizado em outros municípios do estado?

São atendidos pacientes nos 92 municípios do estado. Uma das ações da Superintendência é a realização de visitas técnicas aos municípios e seus gestores com o objetivo de fortalecimento da rede de cuidado para os dados corroborarem os planejamentos e as ações locais. Os dados nos dão força técnica e política para a implementação de programas estruturantes em saúde, educação e assistência social. É importante destacar que o Centro realiza exclusivamente o diagnóstico de TEA. O tratamento é oferecido pelos municípios.

Pela sua experiência, é melhor autistas interagirem com outras crianças em escolas convencionais para ajudar na inclusão social ou receberem atendimento em unidades especializadas que podem atender melhor suas necessidades?

Esse é um tema que necessita ser mais bem detalhado pelo tamanho desafio. Para compreendermos as reais necessidades do aluno é necessária uma avaliação para posteriormente construir o Plano de Ensino Individualizado com a participação da família. Mas existe algo de maior relevância que é compreender que esse aluno precisa de um sistema inclusivo que está além de uma escola inclusiva. Temos que pensar na diversidade, nas necessidades individualizadas dos processos e de um ambiente preparado. Estamos falando de um espectro que é amplo e cada indivíduo é único.