A descoberta de uma nova espécie sem ferrão, batizada de Abelha-Limão (Lestrimelita chacoana) no entorno da Usina binacional de Itaipu mostra o quanto ainda existe a ser pesquisado neste segmento no Brasil. Habitando o mesmo parque foram encontrados outros sete tipos já conhecidos pelos cientistas provenientes tanto do Paraná quanto de outras áreas do Brasil e de países da América do Sul.
O estado vizinho, Rio Grande do Sul, já identificou 23 variedades nativas de meliponíneos, como são cientificamente chamados esses indivíduos. Porém, nada se compara a Amazônia Legal que reúne aproximadamente 51% de toda biodiversidade de abelhas nativas já descritas pela ciência em todo mundo. Estima-se que existam mais de 240 espécies sem ferrão no Brasil.
Biodiversidade
Independente da produção de mel para consumo humano, essas abelhas desempenham um papel crucial na conservação da biodiversidade. São fundamentais a polinização de plantas, sem as quais não se reproduziriam e chegariam a extinção. Outra importante aplicabilidade é a utilização de enxames inofensivos como bioinsumos, atuando de forma orgânica no controle de pragas, substituindo agrotóxicos que, além de poluírem, contaminam alimentos e podem provocar desaparecimento de espécies, entre elas, as próprias abelhas. O inventário no Refúgio Biológico de Itaipu foi realizado em parceria com a Embrapa Florestas, o Parque Tecnológico da região e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
"Esse conhecimento é fundamental para preservar essas espécies e, consequentemente, para a conservação da biodiversidade no Refúgio Biológico e em nossa região. Também tem grande importância, por exemplo, para subsidiar outros trabalhos de pesquisa, para a educação ambiental e capacitação técnica" justifica Guilherme Schnell, pesquisador da Embrapa Florestas e doutor em Ciências Biológicas.
A iniciativa estabeleceu protocolos de manejo e desenvolveu módulos protetores para as caixas das espécies, permitindo a instalação de colmeias em áreas abertas e protegendo as abelhas de predadores.
Mito sem Ferrão
Embora sejam, definidas desta forma, a maioria delas possui ferrões, porém atrofiados o que faz com que não possam ser usados para defesa e, consequentemente, são inofensivas para os humanos. Por isso, estão sendo usadas como formas de cultivo mais segura e com maior facilidade de ser desenvolvida em áreas urbanas.
"Amostras de todas as espécies encontradas nos ninhos naturais, nas colônias capturadas, nas iscas artificiais e nas colônias instaladas em caixas térmicas foram coletadas, organizadas e identificadas conforme a taxonomia", explica Edson Zanlorensi, supervisor do projeto desenvolvido pela Itaipu.
Meliponicultura
Termo usado para a criação desse tipo de inseto, tem crescido em cidades, sendo possível até mesmo cultivá-las em varandas e janelas de apartamentos. No entanto, há riscos e desafios associados à prática, como o comércio ilegal de colônias e a introdução de espécies em novos ambientes sem os devidos cuidados, podendo causar desequilíbrios ambientais.
Para evitar tais problemas, é necessário seguir a Resolução 496/2020 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que restringe a criação de abelhas-nativas-sem-ferrão à região geográfica de ocorrência natural das espécies e exige autorização ambiental para a comercialização.
A Embrapa disponibiliza uma cartilha completa sobre como escolher a espécie, o local ideal para colocar as caixas, o tipo de alimentação e a produção de mel. O Guia ainda apresenta plantas mais adequadas, entre as herbáceas, arbustivas, arbóreas e trepadeiras. Para cada uma delas são apresentados os recursos que oferecem para as abelhas, a distribuição espacial, período de floração, fotos e outros dados de identificação.
Mel mais saudável Embora as abelhas sem ferrão produzam menos mel em comparação com as outras, possuem além da vantagem da segurança, a possibilidade de oferecerem um produto mais saudável por conter menos açúcar. O alimento ainda é mais líquido e com cores e sabores diferenciados dependendo da espécie e da florada. Um litro pode custar entre 80 a R$ 800. Diferente das abelhas com ferrão, que produzem o mel em favo, as nativas depositam em pequenos espaços, que artificialmente podem ser incentivadas em potes.
"Muitas pessoas ainda têm a ideia de que mel é tudo igual, mas, antes de chegar às prateleiras, existe um longo processo a ser desenvolvido", explica Daniel Cavalcante, doutor em Tecnologia de Alimentos e CEO da empresa Baldoni.
Venda ilegal pela Internet
O comércio de abelhas pela internet chamou a atenção dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. As autoridades ainda não desenvolveram um protocolo para o combate a esse tipo de irregularidade. Policiais baianos rastrearam uma quadrilha que negociava uma colmeia por até R$ 700. Os indivíduos mais raros chegaram a ser negociados até R$ 5 mil.
Já foram registrados casos de envios ilegais de insetos, principalmente as valorizadas abelhas-rainhas, enviadas em envelopes porosos através dos Correios, causando sofrimento do animal por até sete dias.
Impacto Ambiental
Além da venda irregular tem ainda o risco do manejo indiscriminado e os impactos negativos ao meio ambiente. A falta de legislação e fiscalização adequados abre brechas para que sejam manipuladas fora das delimitações ética e responsável. No Brasil, onde há um vasto potencial para a apicultura e meliponicultura, é fundamental promover políticas e ações que incentivem a criação sustentável, contribuindo para a conservação da natureza e o desenvolvimento socioeconômico das comunidades de criadores.
A produção, em geral de mel, não apenas contribui para a economia, mas também destaca o valor econômico das abelhas na agricultura. Em 2023, o Brasil produziu mais de 28 toneladas de mel, de acordo com dados fornecidos pela Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (ABEMEL). Essa produção, envolve um processo detalhado desde a coleta do néctar até o armazenamento nos favos pelas abelhas operárias, ressalta ainda a importância do trabalho desses insetos na agricultura e na preservação dos ecossistemas.
Por meio de pesquisas, parcerias e iniciativas de educação ambiental, é possível valorizar e preservar as abelhas sem ferrão, garantindo que continuem desempenhando seu papel vital nos ecossistemas e na produção de alimentos. É fundamental conscientizar sobre a diversidade e importância das abelhas sem ferrão, tanto para a conservação da biodiversidade quanto para a produção agrícola. A educação ambiental desempenha um papel essencial nesse sentido, promovendo o entendimento dos benefícios desses insetos e incentivando práticas sustentáveis de manejo.
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