Como as relações entre as grandes companhias e os revendedores se transformaram ao longo das décadasDivulgação
Uma das maiores memórias da minha infância são as visitas dos assessores comerciais da Esso ao posto do meu pai. Era o dia especial do mês. Até a roupa que eu tinha que vestir para ir ao posto era escolhida com cuidado. A nossa família, que se dedicava integralmente e diariamente à administração do posto, via aquele momento como um marco mensal.
Havia um sentimento de parceria. Talvez fosse um olhar ingênuo, mas ajudava muito a motivar nosso trabalho diário.
Estávamos nos anos 80. Havia tabelamento de preços de combustíveis, e as grandes companhias não enfrentavam concorrência significativa. Com o tempo, porém, os preços foram liberados, os postos bandeira branca surgiram, a concorrência se fortaleceu, e a Esso deixou de operar no Brasil.
Contudo, o que realmente parece ter mudado foi a postura das grandes companhias em relação ao revendedor. Projetos como o “Projeto 2000”, de uma dessas empresas, e atitudes agressivas ou beligerantes contra os revendedores se tornaram comuns.
A percepção de parceria foi substituída. Em vez de aliados, os revendedores passaram a ser tratados quase como funcionários terceirizados. Quando a classe sobreviveu a essas investidas, foi colocada em uma nova “caixinha”, muitas vezes a de inimigo.
Contratos complexos, financiamentos sufocantes, pressões psicológicas e muita desinformação: essa sempre pareceu ser a aposta.
E agora, vivemos tempos ainda mais desafiadores.
Hoje, infelizmente, facções criminosas vêm utilizando o mercado de revenda para lavar dinheiro do crime organizado. Esse problema afeta profundamente o setor, mas, curiosamente, não parece ser uma pauta prioritária para as grandes distribuidoras.
Recentemente, tomei conhecimento de um caso que me deixou perplexo. Um grande e tradicional revendedor, parceiro de longa data de uma grande companhia, perdeu o direito de ostentar a bandeira da marca. A justificativa? A companhia ingressou na Justiça alegando dúvidas sobre a origem de 100% do combustível comercializado pelo posto, apesar de décadas de vínculo.
Ao mesmo tempo, é notório que facções criminosas estão operando postos com bandeiras de grandes marcas, muitas vezes sem adquirir quase nenhuma gota de produtos dessas companhias. Pior, esses postos frequentemente são flagrados pela fiscalização vendendo combustível fora de especificação.
E o que fazem as grandes companhias? Nada. Não denunciam, não tomam atitude alguma. Optam, ao contrário, por perseguir e prejudicar o verdadeiro revendedor – aquele que, na maioria das vezes, dedicou anos de sua vida para defender a marca.
Diante dessa situação bizarra, resta apenas o saudosismo.
Que saudades da época dos assessores da Esso.
Ricardo Magro é empresário, advogado e filantropo brasileiro reconhecido por sua expertise em tributação e sua atuação no mercado de petróleo e combustíveis. Defensor dos direitos de postos independentes e distribuidores menores, Magro se destaca por promover concorrência e equidade, tendo vencido várias batalhas em defesa de seus clientes. Sua paixão pelo esporte, especialmente artes marciais, o levou a criar o projeto "Usina de Campeões", beneficiando centenas de jovens do Rio de Janeiro.
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