Mobilidade urbana é prioridade em qualquer metrópole, certo? Quando se aborda esse tema, faz todo sentido dar preferência ao transporte público, em detrimento do uso de carros, que têm capacidade para levar menos gente de um lugar para outro. A questão, no entanto, é: quais modelos e intervenções urbanísticas devemos adotar, para evitar que nossas escolhas resultem em colapso do trânsito?
Essa discussão faz todo sentido diante do caos, na última semana, que o carioca presenciou na Avenida Brasil. A cidade registrou, na manhã da última quarta-feira, um engarrafamento de 184km. Reflexo direto da operação do BRT Transbrasil, esse número representa mais do que o dobro da média (138%) em relação ao mesmo horário das três quartas-feiras anteriores. Motoristas levaram até 4 horas para atravessar a via expressa.
O fato é que as intervenções implantadas pela Prefeitura do Rio, nos últimos meses, impactaram fortemente nesse fluxo da via expressa. A faixa mais à esquerda das pistas centrais se tornou exclusiva para o BRT. Uma segunda faixa passou a funcionar como seletiva e se tornou exclusiva para ônibus, táxis e veículos de serviço. Ou seja, duas pistas da já engarrafada Avenida Brasil se tornaram proibidas para o fluxo de carros e caminhões.
Mas aí vocês vão me questionar: “Poxa, Pedro. É o início de um trabalho. Quando o BRT estiver funcionando totalmente, isso vai melhorar”. Será mesmo? Vamos fazer aqui uma rápida reflexão: já parou para pensar que o trajeto de carro ou ônibus/BRT da Central do Brasil até Campo Grande é muito parecido com o trajeto do trem da Supervia? Ou seja, independentemente da forma que você se locomove, o traçado no mapa é quase o mesmo.
Então, se já temos uma linha de trem interligando esses dois pontos, por que precisamos do BRT? É simples: o poder público não priorizou o transporte sobre trilhos ao longo das últimas décadas; o sistema foi abandonado e sucateado. Na década de 80, o trem chegou a transportar mais de 1 milhão de pessoas, por dia. Atualmente, somente metade disso circula diariamente pelo sistema ferroviário.
Nesse sentido, a Transbrasil possui 25 quilômetros de extensão de via expressa, ligando o Terminal Deodoro ao Terminal Gentileza. Porém, não seria melhor ampliar a capacidade e a operação das Linhas Santa Cruz e Japeri (Supervia), que ligam a Central do Brasil à Estação Deodoro, e, consequentemente, desafogar a Avenida Brasil?
A Avenida Brasil é uma artéria de entrada da cidade, com muito transporte de carga e, após as últimas mudanças, dedicamos duas faixas exclusivas para usuários que poderiam estar nos trens. Para tentar amenizar seu próprio “erro”, a prefeitura anunciou a antecipação do funcionamento integral, para esta semana, do BRT Transbrasil, que passa a operar com mais ônibus de 4h às 0h.
Está mais do que claro que o caminho da recuperação da Avenida Brasil e do trânsito da nossa cidade passa pela valorização do nosso verdadeiro transporte de massa. Prefeituras e governo do estado deveriam trabalhar juntos, com a implantação de uma Autoridade Metropolitana, para recuperar e ampliar o transporte que de fato desafoga nossas vias: o sobre trilhos, seja trem ou metrô.
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