Rio,16/05/2019 - CADERNO D - Rede  Record de Televisão- . Na foto, Apresentador de TV, Tino Junior. Foto: Cléber Mendes/Agência O Dia - Cléber Mendes/Agência O Dia
Rio,16/05/2019 - CADERNO D - Rede Record de Televisão- . Na foto, Apresentador de TV, Tino Junior. Foto: Cléber Mendes/Agência O DiaCléber Mendes/Agência O Dia
Por Juliana Pimenta

Rio - Tino Junior vai deixar o 'Balanço Geral'? Se depender do apresentador mais badalado da Record no momento, a resposta é sim. E o motivo é o mesmo que preocupa os milhões de cariocas: a violência. "Eu sei que a gente não está livre. É angustiante saber que teu filho foi pra escola e não saber quem ele vai encontrar no caminho ou se vai ser vítima de bala perdida. Se eu recebo um convite para sair do Rio de Janeiro, de repente para São Paulo, eu vou com certeza. Isso pela violência, porque ninguém aguenta mais e acho difícil que as coisas se resolvam em pouco tempo", confessa.

Mas Tino garante que não há insatisfações com a Record. "Eu tenho muita liberdade aqui. É uma empresa na qual eu tenho muita facilidade e um trânsito muito bom. E isso não tem preço. Eu gosto muito de ficar aqui, de trabalhar aqui".

Popularesco

A grande marca de Tino Junior é a coleção de bordões desfilados no programa. 'Que isso, fera', 'Não me abandona, não' e 'Posso ser o tempero do almoço' são os mais famosos. A origem dos bordões? Foi aqui no DIA. "Tudo começou na antiga sede do jornal. Eu trabalhava de madrugada e tinha muita liberdade para criar. E eu acho que bordão é isso. Bordão que pega é o que surge de repente. Ninguém me pediu, aconteceu. Tem dias que a gente tá mais inspirado e acaba falando algumas coisas que pegam", explica.

O jeito brincalhão, a pinta de galã e o jeito simples de comunicar transformaram Tino e o 'Balanço Geral' em campeões de audiência. Mas para o apresentador, isso não importa tanto. "Eu não fico ligado em audiência. Não é o meu perfil. Televisão é um grande exercício coletivo e nosso jornalismo é um jornalismo popular. Então a minha grande preocupação é falar de maneira simples e você consegue se comunicar melhor fazendo assim. Então é apenas um reflexo de um trabalho em equipe que a gente tem feito e é muito legal".

Trabalho com a violência

Tino reconhece que trata de temas bem delicados no trabalho e, em alguns dias, fica mais difícil trabalhar. "Semana passada, eu dei a morte cerebral de um menino de 11 anos de idade que foi baleado. Cai tão mal, sabe? Eu mostrei a foto do menino, com a sua camisa da escola, com um sorriso. E eu sou pai há pouco tempo e olhei o sorriso daquela criança e falei 'caramba, quantos sonhos têm ali?'. Uma criança que teve a vida abreviada por causa dessa nossa violência"

Mas, apesar da temática complicada, o apresentador acredita que não é um alvo de retaliações. "Eu não cultivo nenhuma inimizade. O bandido que eu mostro aqui, ele é bandido e sabe que ele é bandido. Então ele não se importa em ser chamado dessa forma. Eu também não gosto de fazer pré-julgamentos e eu não gosto de ficar esculachando ninguém. Então existe ética no meu trabalho. Mas bandido tem ética? Acho que não, mas como eu também acredito que Deus existe, sigo a minha vida", defende.

Para completar, o apresentador ainda conta que as mães dos bandidos também podem, possivelmente, simpatizar com o seu trabalho. "Tem um caso de um bandido muito famoso que acabou morrendo e que a mãe dele era minha fã. E isso foi marcante. Depois a mãe dele entrou em contato comigo por Facebook e eu tive essa noção que, de repente, a mãe do bandido pode ser minha fã. Por isso que eu preciso respeitar todo mundo. Nenhuma mãe cria um filho para ser bandido. Isso não existe", comenta.

Interatividade

Além de toda a equipe de reportagem, grande parte do conteúdo dos programas vem da participação do público pelo celular. "Eu peço para as pessoas me mandarem denúncias. Um morador de comunidade não vai ligar para o 190 porque ele tem medo e, de repente, não vai adiantar. Isso aconteceu recentemente no Jardim Catarina (São Gonçalo). As pessoas mandaram mensagens e nosso helicóptero foi para lá. Ao mesmo tempo, eu estava com o comandante do 7° BPM, que disse que a área estava policiada. Mas eu estava mostrando na televisão que não era verdade e que os moradores tinham razão", relembra.

Improviso do rádio

Para quem vê Tino tão confortável na TV, nem imagina que às vezes o programa não está saindo como o planejado. "Todo dia eu passo um perrengue no ar. A gente trabalha com o teleprompter (equipamento acoplado às câmeras que exibe o texto que deve ser lido pelo apresentador), e não são raras as vezes que você muda alguma coisa e aí o TP apaga", explica.

A experiência no rádio, no entanto, acaba servindo para esses momentos. "Aí você estende um comentário e chama de cabeça. Mas faz parte, o lado bom de ter trabalhado em rádio e que você acaba desenvolvendo o improviso. E quando você tem uma equipe que está jogando contigo fica fácil".

Tempo livre

Apesar de preocupado com sua segurança e com o futuro do filho Miguel, de dois anos, Tino garante que é apaixonado pelo Rio de Janeiro. "O que eu mais gosto no Rio é o carioca. Eu acho que o nosso povo tem uma alegria incrível. A gente tem uma força de viver impressionante, porque apesar de todas as dificuldades que a gente tem, é um povo que continua sorrindo e brincando. Eu não sei nem se essa é a maior qualidade ou se esse é o maior defeito do carioca. Talvez a gente devesse se indignar mais para cobrar mudanças", comenta.

Juntando com a rádio, Tino fica mais de seis horas ao vivo em dias normais, fora a pré e pós-produção dos programas. Para ele, isso é normal. "Nada demais. Nada que me canse ou que me atrapalhe. Mas quando eu tenho uma folga, o que eu mais curto é deixar um tempo para ver meu filho crescer e conviver com a minha esposa. Eu me vejo um homem completamente diferente depois que eu tive filho, porque você acaba medindo mais a consequência de todas as suas atitudes", completa.

 

Você pode gostar
Comentários