Rio - Um sucesso que virou tragédia. E uma história embalada por temas atuais como racismo, machismo, guerra ideológica e fake news. O espectador que for a partir de hoje ao cinema assistir a 'Simonal', cinebiografia do cantor Wilson Simonal (1938-2000), dirigida por Leonardo Domingues, vai se assustar com a atualidade dos temas nos quais a história do cantor toca.
"A grande dificuldade é que o nome 'Simonal' até pouco tempo era tabu. Tratar esse assunto era esbarrar na polarização que acabou condenando-o ao ostracismo. Ninguém o defendeu. Após atingir o topo do sucesso com seu talento, ele viu tudo desmoronar. Cometeu um erro, e acabou sendo acusado e condenado por um crime que não cometeu. E ninguém defendia um dedo-duro na época. Essa foi a notícia falsa espalhada pela imprensa", comenta o diretor Leonardo.
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O filme enfoca Simonal (Fabrício Boliveira) desde a época em que se lançou na música, sempre ladeado pela esposa Tereza (Isis Valverde), e sendo ajudado por nomes como Miéle (João Velho), Elis Regina (Lilian Menezes), Erasmo Carlos (João Sabiá) e Carlos Imperial (Leandro Hassum). A roda-viva que envolveu o cantor surge na tela: Simonal vira sucesso nacional, rege um imenso coral no Maracanãzinho em 1969, é acusado em 1972 de delatar colegas de esquerda e, em total decadência, torna-se um "fantasma" na música brasileira, como o próprio artista costumava dizer.
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"Eu percebia que Simonal, para muitos, ainda era um assunto confuso. Por isso, achei importante focar na ascensão e queda. Para quem não soubesse quem foi ele pudesse conhecer sua trajetória de sucesso e entender e se emocionar com sua história", conta o diretor, que foi bastante ajudado pelos filhos de Simonal, Wilson Simoninha e Max de Castro. "Eles entenderam a proposta de mostrar o Simonal por trás da fama. Levar o espectador para além do Simonal músico, dos shows, dos discos, do palco e ver como era este homem dentro de casa na sua relação com a família os amigos".
Violência
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Uma das ideias do filme era que o drama de Tereza, mulher de Simonal, "saísse das sombras" e aparecesse mais na telona. Isis Valverde, que interpreta a primeira esposa do cantor, conversou com ela por telefone, e se baseou nos relatos dos filhos Max, Simoninha e Patricia para compor a personagem. O filme traz uma cena fortíssima em que o cantor, já em decadência, agride fisicamente a esposa, jogando-a no chão.
"Foi uma cena forte e tivemos todo o apoio da equipe para fazer, além de um cuidado nosso na hora de representar aquela cena. Tudo foi conduzido da melhor forma", conta Isis. "Ela é uma mulher forte, sensível, que teve que lidar com muitas questões".
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Dublando
Na trilha do filme, vários clássicos de Wilson Simonal, como 'Sá Marina', 'Tributo a Martin Luther King' e 'Balanço Zona Sul' - os próprios filhos do cantor colaboraram na escolha das músicas.Fabrício Boliveira não canta no filme, só dubla os sucessos de Simonal. "Mas ele fez aula de canto e, nas filmagens, projetava a voz cantando as notas corretas. Ele chegou a ficar rouco!", recorda o diretor.
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Boliveira conta que, além do lado musical, precisou estudar bastante o corpo do cantor para conseguir reproduzir o "suingue" original dos gestos de Simonal. "A gente entendeu o que era aquele 'suingue', naquele instante político, naquele país, representando o que é ser um homem negro nesse país. E tem a interseção sobre coisas que eu carrego no meu corpo, e que todo mundo também conhece como 'suingue', e que eu acho que é uma interseção com Simonal", relata ele.
O ator, por sinal, já havia formado par com Isis no filme 'Faroeste Caboclo', inspirado na música da Legião Urbana. "Em 'Simonal', Isis está maravilhosa e fez um trabalho super difícil. Ela me dizia sempre que, fazendo a personagem, tinha uma sensação de ter uma maçã entalada na garganta. Acho que essa imagem fala muito da dificuldade dela e do grande acerto que ela teve nesse filme", complementa.
