Julia é Justina na trama das 18h
 - Globo / Cesar Alves
Julia é Justina na trama das 18h Globo / Cesar Alves
Por Leonardo Rocha

'Eu me sinto numa verdadeira missão". Foi desta forma que a atriz Julia Stockler, de 31 anos, definiu seu momento atual, ao embarcar no desafio de viver a doce Justina, uma jovem autista que, além de sofrer com os transtornos psicológicos, tem que lidar com o zelo excessivo da mãe, a poderosa Emília (Susana Vieira), na novela 'Éramos Seis', que estreia dia 30 de setembro, na Globo. "É uma menina incompreendida, porém muito sensível e afetuosa. A mãe não entende por que ela não se enquadra nos padrões sociais e comportamentais da época, já que não havia este diagnóstico nos anos 20. Teremos uma relação conflituosa entre as duas, a mãe tem vergonha dela. Trancou Justina dentro de casa por 30 anos, com o mínimo de convívio social", adianta.

Estreante em novelas, Julia Stockler é figurinha carimbada do teatro e do cinema brasileiro, o que alivia um pouco da tensão de viver uma personagem tão complexa e, de cara, contracenar com Susana Vieira. "Ela é uma atriz maravilhosa, foi extremamente generosa comigo. Eu, por ser uma atriz jovem na Globo, tive muito medo de como ela iria reagir a isso, mas foi muito parceira", declarou a artista, adaptando-se ao ritmo acelerado dos folhetins. "Estou muito feliz de estar aqui nesse momento e, principalmente, nesta novela. 'Éramos Seis' mexe com uma memória interna da minha família, da minha avó... É uma novela de sonho. Não da família tradicional brasileira, porque dessa eu tenho a maior preguiça. É do lugar do afeto e das relações. Acho isso muito bonito".

Para dar veracidade aos dramas da personagem, Julia frequentou grupos de pessoas autistas, leu livros e assistiu a documentários relacionados ao transtorno. Visto como um assunto intocável na sociedade, ela deseja trazer luz ao tema através da arte. "Quero que as pessoas pensem: 'Qual é o problema de ser diferente?'. É uma personagem que fala sobre a diferença, da maneira como a gente olha para o desconhecido", diz.

O BRASIL NO OSCAR

Se Julia é praticamente uma 'new face' da teledramaturgia, no teatro ela carrega uma carreira de 15 anos. Mas foi no cinema que ela ganhou de vez os holofotes da fama. Não é à toa que a atriz está representando o Brasil no Oscar, ao lado de Carol Duarte, com o filme 'A Vida Invisível'. O longa, do cearense Karim Aïnouz, teve participação de Fernanda Montenegro, ganhou o Prêmio do Júri do Festival de Cannes, na França, e, agora, concorre na categoria Melhor Filme Internacional do Oscar, desbancando o aclamado 'Bacurau' da competição.

"É muito emocionante! É um filme sensível que fala sobre a mulher. Do empoderamento, das dificuldades e da invisibilidade que as mulheres tinham nos anos 50 — que não é muito diferente do cenário que a gente vive hoje, apesar das leis que nos apoiam e dos movimentos que nos representam. O Oscar tem uma potência mundial abrangente. O que é maravilhoso, ainda mais nesse momento para a gente entender que o mundo quer ver cinematografia brasileira. É um tapa na cara de quem está fazendo nosso movimento audiovisual retroceder. Me sinto como uma lutadora", comemora Julia.

Com estreia prevista para o dia 31 de outubro, 'A Vida Invisível' conta a história das irmãs Eurídice (Carol Duarte), uma jovem talentosa, mas bastante introvertida, e Guida (Julia Stockler), aventureira e extrovertida. Ambas vivem em um rígido regime patriarcal, o que faz com que trilhem caminhos distintos. Para Julia, mais do que a felicidade de ser premiada, o Oscar trará um novo respiro ao cinema nacional.

"Eu não fico pensando em ser vencedora, porque tenho uma vida normal: limpo a casa, levo o cachorro para passear... Enfim, tudo é uma consequência de muito trabalho. Acho lindo estar no jornal, na novela, no Oscar, só que o mais legal disso tudo é representar as mulheres e mostrar que o nosso cinema dá visibilidade ao Brasil e gera emprego para caramba", destaca.

HORA DE SE JOGAR

Trabalhar na TV nunca foi um desejo de Julia. Tanto que a atriz levou 15 anos para encarar o novo desafio em sua trajetória. Apesar do longo espaço de tempo, ela jura que está amando a nova fase. "Nunca fui deslumbrada, acho que por isso demorei tanto para fazer novela. Eu sonhava em viver da profissão, porque televisão sempre me deu muito medo. Existe muito ego, uma pegada esquizofrênica do trabalho. Mas as coisas aconteceram no momento certo", avalia ela, que está preparada para o assédio dos fãs e ter a vida particular, de certa forma, invadida. "A relação com o fã é de pura gratidão. Acho que vou entender qual é o limite disso. Quando começarem a me invadir, eu saio do Instagram, porque tudo tem limite", conta ela, aos risos, que namora, há três anos, o iluminador de teatro Gabriel.

 

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