MC Carol - Reprodução
MC CarolReprodução
Por Juliana Pimenta

Rio - Atração do Palco Favela do Rock in Rio, a funkeira MC Carol canta amanhã no festival ao lado de Tati Quebra Barraco e do grupo Heavy Baile. "Eu nunca fui ao Rock in Rio, mas sempre via pela TV. Nunca imaginei que seria convidada, mas fiquei muito feliz. Já estava muito feliz de ter qualquer funkeiro lá, porque onde um funkeiro entra, fortalece o movimento. E, de saber que eu estaria lá também, fiquei sem chão", comemora a jovem, de 25 anos.

Polêmica por natureza, a cantora afirmou que aproveitaria o show no festival para se aproximar do rapper canadense Drake, que se apresenta no mesmo dia que ela, no Palco Mundo. Em entrevistas, Carol disse que apertaria "o p... dele". Desta vez, ela pondera sobre o encontro. "É brincadeira, gente. Eu não tenho coragem disso, não. Eu acho, né? Não sei se eu tenho coragem de fazer ou não. Acho que não tenho coragem, mas só se ficar um monte de gente colocando pilha", brinca, em meio a gargalhadas

Racismo e gordofobia

O festival marca o auge da carreira da funkeira, nascida na periferia de Niterói, que, desde cedo, foi alvo dos preconceitos da sociedade.

"Difícil viver quando se está totalmente fora dos padrões", diz. "Quando sofri racismo pela primeira vez, voltei da escola sem saber o porquê de estar sofrendo aquilo tudo. Meu avô me explicou que era porque eu sou negra e muitas coisas aconteciam com quem é negro. Ele me disse tudo o que eu precisava fazer e me passou o código de como viver sendo negro: meu avô me falava que eu não podia ficar perto da bolsa de ninguém, por exemplo. Se eu vir algum pertence de alguém no chão, devo me afastar e chamar alguém. E, conforme fui crescendo, fui aprendendo a ser uma mulher negra".

Carol também foi vítima simplesmente pelo fato de ser gorda. Mas, até nesses momentos, ela se preocupou em lembrar dos ensinamentos de infância.

"Entrei no funk em 2010/2011, na época das mulheres frutas, e vi que não tinha nenhuma mulher gorda. Comecei a fazer shows e o pessoal jogava latinhas e garrafinhas de água em mim. Meu avô já era morto, mas eu lembrava dele falando que não deveria me importar com nada da porta para fora. Nem com o amor, nem com ódio de ninguém. Ele falava que eu era bonita do jeito que era e que eu não podia deixar ninguém se sentir mais importante", conta a cantora, que se candidatou a deputada estadual no ano passado, mas desistiu da política por medo da vulnerabilidade que acompanha o cargo. Vale lembrar que a cantora era amiga da vereadora Marielle Franco, executada em março de 2018.

Relacionamentos

Distante da política, MC Carol não deixou de fazer sua parte como ativista social. As suas músicas não se resumem ao universo sexual comum ao funk, mas também falam sobre empoderamento feminino e casos de violência sexual. "Acho importante cantar coisas que eu não consigo conversar com ninguém. Porque a música é um instrumento que você desabafa, e as pessoas não sabem se você passou por aquilo ou não. A arte tem isso de poder ser ficção. Ter colocado para fora foi bom para mim e algumas pessoas ouvem e veem que podem se abrir também", destaca.

A funkeira presenciou muitos casos de violência. "Quando era pequena, vi um homem dando um soco na cara de uma mulher da minha família. Determinei que eu não seria como aquela mulher. Mas a outra opção era ser como ele. E, por muito tempo, me comportei como um homem agressor. Porque reproduzia com os caras a forma como eu via os homens tratarem as mulheres. E vi o que o machismo fez comigo e pode fazer com as crianças. Hoje, tento dar um exemplo de empoderamento, independência e feminismo", diz a cantora.

 

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