Alexandre Nero - Globo/Paulo Belote
Alexandre NeroGlobo/Paulo Belote
Por Gabriel Sobreira

Rio - Mulheres ganhando menos do que os homens. Racismo explícito ou velado. Corrupção nas suas mais diferentes formas. Poderia ser 2019, mas é 1930, período em que é ambientada a segunda temporada da série 'Filhos da Pátria', que estreia hoje, na Globo. "Se continuarmos como estamos, 1930 está aí. 2030 será 1930, isso está claro", alerta Alexandre Nero, que vive o funcionário público Geraldo Bulhosa na série.

Ao contrário da primeira temporada, que foi ambientada em 1822, a família Bulhosa dá um salto no tempo e surge na Era Vargas (1930). Mas todos eles mantêm sua essência de alguma forma, mesmo com pontuais adaptações. "Geraldo está mais inteligente. Antes, ele era levado pela inocência no jogo de interesses dos poderosos. Agora, ele sabe que está errado, mas faz falcatruas porque o dinheiro é bom", explica Nero, que classifica o personagem como "canalha" e "covarde".

"Ele joga a culpa nas pessoas dizendo que só cumpre ordens. Como se ele não tivesse responsabilidade nenhuma. Os estúpidos são perigosos. Os estúpidos que se acham inteligentes são mais perigosos ainda. Há exemplos ocupando altos cargos na nossa política. Eles colocam a vida das pessoas em risco", provoca o ator de 50 anos.

CORRUPÇÃO

Nero diz que é comum o brasileiro achar que corrupção tem a ver apenas com dinheiro. Segundo ele, um juiz que burla a lei para favorecer um dos lados, isso é corrupção. Ele não rouba dinheiro, mas o ato dele é corrupto. "Tem muita gente que não se acha corrupta, mas burla a lei de outras formas", diz. "Essa segunda temporada deixa isso muito claro, além de entrar na coisa dos costumes da sociedade brasileira, do dito cidadão de bem. A gente se divertiu muito fazendo. Cada vez mais, o cidadão de bem mostra que é do mal completamente", destaca o curitibano, aos risos.

DIFICULDADE

Questionado sobre a dificuldade na produção, Nero cita a personagem de Fernanda Torres, sua parceira em cena, que vive Maria Teresa, mulher de Geraldo. "Ela (Maria Teresa) é a típica pessoa que saiu de um armário brasileiro, que a gente achava que não existia, e está aí assustadoramente expondo o orgulho de sua ignorância. A gente tem que contar essa piada, mas essa piada não pode fazer eles (pessoas como Maria Teresa) rirem. Essa piada é para mostrar como eles são patéticos", pontua.

FAMÍLIA

Pai de Noá, 4 anos, e Inã, 1 ano, frutos do relacionamento com a consultora de moda Karen Brusttolin, Nero enfatiza que tem esperança de dias melhores. Afinal, sem ela, ninguém levantaria da cama e nem faria nada. "Mas ler um livro de história e ver as coisas se repetindo, caindo no mesmo lugar, a gente se pergunta como estamos nisso há 500 anos", desabafa ele, que no tempo livre foca na família.

"Adoro quando estou trabalhando na Globo, porque meu trabalho é bem menor do que com eles. Pode ter certeza de que trabalho muito mais em casa", confessa, em tom de humor. Alexandre é daquele tipo de pai que faz trabalho com filho, leva para escola, judô, natação. "Nesse momento sei mais deles do que minha mulher, que está trabalhando", entrega, aos risos.

MÚSICA

Quando questionado sobre a carreira musical, Nero diz que ainda está pensando. A ideia é lançar algo em 2020. "Depois de passar seis meses no sertão gravando a série 'Onde Nascem os Fortes' foi que voltei a compor algumas coisas. Chegando aqui (no Rio) me deu vontade de gravar. Estou começando a engatinhar para o ano que vem", avisa.

 

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