Júlio (Antonio Calloni) - Globo/Raquel Cunha
Júlio (Antonio Calloni)Globo/Raquel Cunha
Por O Dia

Rio - Fazer o Júlio, de 'Éramos Seis', trama das 18h, na Globo, empolgou de cara o ator Antonio Calloni, de 57 anos. Por ser totalmente diferente do vendedor de tecidos na São Paulo dos anos 1920, patriarca machista, que traz os quatro filhos na rédea curta, bebedor no cabaré, onde tem uma amante, e cheio de dívidas. Não é à toa que o personagem tem uma úlcera que o perturba frequentemente. Calloni está bem longe de tudo isso e faz uma comparação dos problemas expostos na novela com os da sociedade do século 21.

"O machismo ainda está muito presente. Muito mais do que eu gostaria e do que as mulheres também. Mas, sem dúvida, a gente está vendo uma melhora nesse sentido, embora ainda tenha que melhorar muito. O empoderamento feminino está cada vez mais presente, ainda bem. Os homens têm dificuldade de entender isso, de assimilar. Apesar de tudo está tendo uma melhora, estamos em um caminho bom", acredita o ator.  

Júlio tem uma esposa a quem ama e uma amante que é sua confidente. O que era normal na época — e não muito diferente nos dias de hoje. "Ainda existe mulher que finge que não vê. É um resquício da nossa criação machista. A gente ainda carrega isso. Este tipo de compreensão de 'Ai, tudo bem. Ele dá umas saidinhas, às vezes', já não é mais assim. Hoje temos: 'Então, tudo bem. Você vai dar sua saidinha, e eu vou dar a minha também'. Vamos trabalhar pela igualdade. É isso que está mudando cada vez mais", observa Calloni.

Igualdade e liberdade são palavras muito usadas pelo ator, que é um otimista por natureza: "Você não pode tolher a liberdade, a arte, todas as conquistas. Não tem como! Você, momentaneamente, pode prender as pessoas, os atores, todos os homossexuais, todas as minorias... Mas vai passar, porque o senso de liberdade vai acontecer. Quanto mais você reprime, a liberdade vem com mais força. As conquistas vão ser pra sempre. Ninguém vai retroceder nisso. Somos mais fortes do que qualquer governo. Não só esse, mas qualquer um".  

Os três remakes feitos a partir do livro de Maria José Dupret foram extremamente tristes. Este quarto promete um 'Éramos Seis' mais 'leve', que pode dar esperanças aos telespectadores. "Acho que cada leitura desta novela tem que acompanhar a época em que está sendo feita, sem descaracterizar a história original. Isso é muito importante deixar claro. A gente não vai descaracterizar, mas existe o depoimento de pessoas que estão vivendo em 2019. Essa mistura é muito interessante, saudável para a arte e para a releitura dessas obras. Espero que daqui a 10 anos seja refeita 'Éramos Seis' em outro lugar, ou mesmo na Globo".

Sem dinheiro ontem e hoje

Se seu personagem não tivesse uma grande dificuldade financeira, ele seria mais doce, trataria a família melhor? "Com certeza. O peso de ser o provedor é uma coisa muito séria para o Júlio. Tem que pagar o financiamento de uma casa gigantesca, educar quatro filhos, quer ser sócio na loja... Esse peso é muito grande. Isso é outra coisa que a gente carrega até hoje. Mas ainda tem muito o que mudar. Acho que, se ele não tivesse esses problemas, talvez fosse um cara mais calmo, e não usasse o álcool como válvula de escape".  

Por falar em provedor, quase 30 milhões de mulheres são mantenedoras de suas famílias, atualmente, no Brasil... "Acho que isso também é reflexo, acima de tudo, da nossa situação econômica. É claro que existem homens e homens, mulheres e mulheres. Hoje em dia, o que está pegando é a situação econômica do país, que está desastrosa, com o desemprego altíssimo. Isso é uma pena, mas a tendência disso acontecer, se não melhorar, vai crescer ainda mais", diz.

 

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