Rio - Filha de uma ex-freira e um ex-padre, Sara Antunes terá o desafio de interpretar, a partir da semana que vem, Márcia, uma aluna evangélica da série 'Segunda Chamada', da Globo. "Meu pai foi padre por 30 anos, mas foi exilado durante a ditadura porque ficou ao lado dos operários. Minha mãe, freira por nove anos, foi trabalhar com psicologia. Eles começaram a namorar sem saber a história um do outro, mas os dois já estavam bem descrentes com a religião, e isso influenciou na minha formação. Tanto que eu e meu irmão nem fomos batizados", revela a atriz.
A construção de uma personagem super-religiosa, no entanto, gerou grandes reflexões para a atriz. "Falar sobre religião é muito delicado, principalmente por esse momento político que estamos vivendo, e quando comecei a estudar para a Márcia, eu me vi com vários preconceitos que nem deveria ter. Sou muito crítica a religiões até por causa da história dos meus pais, mas fiz questão de conhecer uma igreja pequena de periferia até para fazer uma interpretação realista para que as pessoas acreditem e se identifiquem. A nossa intenção é fugir dos estereótipos e do preconceito", atesta Sara.
Maternidade
A preocupação em fazer com que Márcia fosse o mais fiel possível à realidade levou a atriz e diretora a tomarem cuidados além dos habituais usados nesse tipo de produção. "A Márcia começa a série grávida, e nós gravamos a cena do parto. Eu mesma passei pela experiência do parto duas vezes e foi parto natural, sem anestesia, como o dela. Então, a gente queria que tivesse, durante a gravação, uma pessoa especialista em parto porque a intenção era mostrar uma coisa que acontece de verdade e não reforçar o lugar comum que muitas vezes é retratado na ficção", argumenta a atriz, que viveu uma experiência diferente ainda relacionada à maternidade.
"Gravei com alguns bebês, e todos eles mamaram de verdade em mim. Eu não tenho mais leite porque meus dois filhos pararam de mamar há muito tempo. Mas foi muito natural, eles usaram meu peito como chupeta e falar sobre amamentação também é muito importante. Porque é um ato que só traz benefícios para a mãe, para o bebê, e nós temos que ajudar a desconstruir o tabu de colocar o peito pra fora", afirma.
Cumplicidade
Além das surpresas da personagem e da capacidade de relacionar algumas cenas com sua vida pessoal, Sara teve como companheiro de cena seu marido, Vinícius de Oliveira, que ficou nacionalmente conhecido pelo papel do menino Josué, em Central do Brasil. "Há sete anos, a gente se conheceu enquanto fazia um longa ('Se Deus Vier Que Venha Armado') e agora estamos fazendo um casal de novo. Passa muita coisa na cabeça na "hora h" até porque ele também esteve comigo nesses momentos de parto e amamentação. A família dele é evangélica, e a mãe de criação dele é professora. Todos os assuntos que a gente tratava ali ecoavam na nossa história. Ter essa série como registro é bem importante para nós dois", diz a atriz.
