A última coroa foi conquistada pela baiana Martha, a Miss Universo 1968. Cinco anos antes, foi a vez da gaúcha Ieda se tornar a Miss Universo 1963, título até então inédito para o País.
Relembre abaixo um pouco mais sobre as conquistas do Brasil no Miss Universo.
Ieda Vargas, a Miss Universo 1963
A brasileira Ieda Maria Vargas venceu o concurso de Miss Universo 1963 realizado em Miami, nos Estados Unidos, na madrugada de 21 de julho de 1963. Ao todo, eram 50 competidoras
Ela superou a Miss Dinamarca, Aino Korva, vice-campeã, e a Miss Irlanda, Marlene McKeown. A vencedora do desfile de melhor traje típico foi a Miss Israel, Sherin Ibrahim, e os fotógrafos escolheram a 3ª colocada como a mais fotogênica.
Em Brasília, Ieda Maria Vargas conheceu o presidente João Goulart e desfilou em carro do corpo de bombeiros pelas ruas da capital. Quando passou em frente à Esplanada dos Ministérios, recebeu uma 'chuva' de papel picado.
A primeira-dama Maria Teresa Goulart pediu desculpas por não ter decorado o palácio com flores. O motivo era o luto vivido pela recente morte da mãe do presidente.
No Rio Grande do Sul, recebeu as chaves da cidade do prefeito e um banquete em sua homenagem no Palácio Piratini por parte do governador.
Também passou por outros Estados, como o Espírito Santo e o Pará, onde, em Belém, foi recebida por cerca de 3 mil pessoas.
Em 15 de agosto, passou pelo Rio de Janeiro, onde teve que interromper uma entrevista por conta da invasão de parte do público ao local onde falava com jornalistas.
Ieda Maria Vargas desfilou na Exposição Norte-Americana da Quinta da Boa Vista. Após a apresentação, foi para um camarim seguida por um fotógrafo, que acabou levando bronca de um funcionário, dando origem a uma discussão.
O fotógrafo entrou no pequeno espaço do camarim, acompanhado por outros três colegas. Por conta disso, o funcionário deu um soco no fotógrafo, fazendo com que fosse necessária a ação da Polícia Militar, com golpes de cassetete.
A Miss Universo, então, chorou por conta da situação e precisou sair às pressas, desmaiando ao entrar em um carro.
Martha Vasconcellos, a Miss Universo 1968
Em 1968, Martha Vasconcellos conquistou a segunda coroa da história do concurso para o Brasil. Ao todo, foram 65 participantes àquele ano.
À época com 20 anos de idade e natural de Salvador, a candidata chegou a levar um cabeleireiro diretamente da Bahia para ajudá-la no concurso. Antes, já havia se sagrado Miss Bahia e Miss Brasil.
A brasileira foi a 2ª colocada na etapa com roupas de banho do concurso, vencida pela Miss Estados Unidos, Didi Anstett, chegando à derradeira noite com boas chances. O desfile de trajes típicos foi vencido pela Miss Colômbia, Luz Elena Restrepo.
O 'título' de Miss Fotogênica, dado por fotógrafos, ficou com a Miss Iugoslávia, Dalibirka Stojsic.
A noite contou também com alguns acidentes. Lucienne Kier, Miss Luxemburgo que tinha 18 anos à época, teve um sangramento no nariz e precisou desfilar com algodão. Já a Miss Malta, 22, desmaiou no palco e só voltou após alguém abaná-la com um jornal
Pouco depois da meia-noite (horário de Brasília) do domingo, 14 de julho de 1968, Martha Vasconcellos se viu diante de Anne Marie Braafheid, a Miss Curaçao, jovem negra da cidade de Willemstad, como uma das finalistas.
"O mestre de cerimônias tentara aumentar a tensão em torno do nome da vencedora, mas a Miss Curaçao começou a rir e apontou a Miss Brasil como a vencedora. Um pouco desconcertado, o apresentador não teve outro remédio senão proclamar Martha a vencedora", informou o Estado na ocasião.
Questionada sobre o que pensava do título, respondeu, emocionada: "Não posso falar".
Martha Vasconcellos recebeu um prêmio de 10 mil dólares (equivalente a 32 mil cruzeiros novos na época), um contrato de publicidade de 10 mil dólares e um casaco feito com pele de chichila, avaliado em 7,5 mil dólares, além de outros prêmios menores.
Apesar da euforia, ela só conseguiu contato com seus pais e familiares horas depois, por telegrama: "Tentei muitas vezes [por telefone], mas as telefonistas do hotel respondiam sempre: 'impossível'. Por favor, compreendam que me sinto muito só. Esta é a primeira vez que me separo da minha família".
À época, a escolha trouxe críticas de jornais de Hong Kong e da Venezuela, que consideraram que a eleição de Martha Vasconcellos, uma brasileira, teria ocorrido por conta de "razões políticas" (clique aqui para ler mais).
O Hong Kong Standard insinuava que a "vitória selaria a amizade" entre o presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, e o governo brasileiro.
Já o "Ultimas Noticias", de Caracas, afirmou que a "a superioridade da venezuelana sobre a brasileira foi evidente demais para que os juizes ignorassem", e que a questão da Miss Curaçao como 2ª colocada teria sido "influencia da política racial".
Questionada em Nova York por repórteres sobre o que achava da guerra do Vietnã, Martha Vasconcellos foi impedida de responder por parte do relações públicas que a acompanhava.
"Nada de perguntas políticas. Nossas misses são todas apolíticas", afirmou.
Em sua primeira viagem na volta ao Brasil passou pelo aeroporto de Viracopos. Após uma mudança de planos (iria para o Rio de Janeiro em seguida), passou por São Paulo pouco depois.
Martha também trouxe presentes para algumas personalidades do Estado, como um berimbau para o prefeito Faria Lima. Ela também andou de helicóptero a convite do então governador Abreu Sodré.
À época, Martha contou ao Estado que "nunca acreditou na sua eleição" como Miss Universo, já que Ieda havia sido eleita havia poucos anos e "não esperava outro título para o mesmo País".
"Ganhei 30 vestidos, várias malas e joias, só tinha que ter excesso de bagagem", explicou no desembarque, ao citar o pagamento de uma taxa de 300 dólares pelo peso do que trouxe em seu retorno.