'Acredito que as pessoas tenham que se ver para entender quem são' , afirma Ana Hikari
Conhecida por interpretar a personagem Tina em 'Malhação: Viva a Diferença', atriz fala sobre desafios do spin-off 'As Five' e explica importância da representatividade na mídia
Rio - Após fazer sucesso com a personagem Tina em "Malhação: Viva a Diferença" (2017), Ana Hikari, de 28 anos, tem se destacado no meio artístico. Atualmente, a atriz, que foi a primeira protagonista de ascendência asiática da televisão brasileira, dedica-se a interpretar a mesma personagem no spin-off "As Five", do Globoplay. Em conversa como DIA, a artista fala sobre os desafios da carreira artística e a importância do trabalho de conscientização da sociedade a respeito de pautas relevantes para pessoas amarelas, e ainda detalha seus planos para o futuro.
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Em "As Five", Tina passou por maus bocados após a morte da mãe, Mitsuko (Lina Agifu), e também com o cancelamento nas redes sociais, o que fez com que ela recorresse a uma clínica de reabilitação. Na tentativa de humanizar a personagem e transmitir um assunto tão sério e relevante ao público de maneira responsável, Ana Hikari optou por frequentar alguns CAPS — Centros de Assistência Psicossocial — a fim de se despir de qualquer preconceito e entender a realidade das pessoas que enfrentam problemas com dependência química.
"Os CAPS são projetos públicos que deveriam ter muita atenção do governo, porque mesmo sendo um projeto do Ministério da Saúde, nos últimos anos, foi esquecido e negligenciado", ressalta a atriz. "São projetos muito bacanas porque funcionam como uma substituição do que antigamente chamavam de 'hospitais psiquiátricos', que popularmente eram conhecidos como sanatórios ou manicômios. Lá [nos CAPs], as pessoas recebem uma atenção muito humana para tratar questões psicológicas ou de dependência química", explica a artista.
"Então, para mim, este momento foi essencial para a preparação da personagem. Foi um período de muito estudo, em que frequentei muitas reuniões, conversei com muitas pessoas, com diretores das instituições…", relembra a atriz sobre seu trabalho na segunda temporada da série. "Eu pude entender como a mente dessas pessoas funciona e isso é muito importante, já que muitas vezes temos ideias muito negativas sobre elas. Eu tentei humanizar a Tina ao máximo para que as pessoas consigam ter empatia", acrescenta.
No bate-papo, a artista ainda aproveitou para detalhar a importância de uma produção audiovisual que retrate problemáticas enfrentadas pela chamada "geração Z", que abrange indivíduos nascidos entre os anos de 1990 e 2010. "Acredito que eles tenham que se ver para conseguir entender quem são, e a série pode dar uma 'ajudinha', né? (Risos) Então, acho que essa é a importância de existir uma produção que trate desses assuntos, e em especial, que também traga o protagonismo feminino, que ainda é pouco visto", reflete Ana Hikari. "Nos anos 2000 a gente via uma representação muito pejorativa ou muito objetificada das mulheres, né? E em 'As Five' não temos isso. Não estamos servindo de objeto sexual para ninguém, não é sobre os caras acharem 'bacana', sabe? Isso é o mais legal desse projeto. A gente traz humanização e dignidade para cada uma das histórias, que muitas vezes, foram excluídas do audiovisual. Então, falamos de pessoas negras, PCDs, indivíduos racializados no geral, além de LGBTs. A gente revoluciona nesse sentido", afirma a atriz.
Em seguida, Ana também refletiu sobre a importância da representatividade de grupos étnicos. "No Brasil, temos uma grande porcentagem de pessoas amarelas, mas a sociedade não dá relevância a isso. Isso precisa ser discutido porque nosso país é composto por uma imensa diversidade racial, que não é vista dentro da mídia brasileira. Vemos diariamente na TV a representação de pessoas brancas, o que não condiz com a realidade do Brasil", pontua. "Apesar de ser um país considerado 'super miscigenado' e 'diverso', o Brasil ainda carrega uma herança muito racista. E isso gera o genocídio da população negra, além da segregação de povos não-brancos (indígenas, amarelos, marrons). Por isso, trazer a representação dessas pessoas na mídia amplia o debate e também fomenta a sensação de pertencimento em cada um", elucida a atriz.
Ao ser questionada sobre seus planos futuros, Ana Hikari garante que, apesar dos desafios enfrentados pela conquista de um espaço no meio audiovisual, pretende alçar voos cada vez mais altos.
"Eu tenho pensado como o título do grande filme do Oscar deste ano: 'Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo' (risos). Com certeza desejo trabalhar no teatro, que é a minha origem, e em obras do cinema nacional, pois vejo inúmeras produções incríveis sendo feitas no Brasil. No entanto, eu também queria me aventurar no cinema internacional, pois acho que o audiovisual estrangeiro está mais aberto às pessoas racializadas", diz. "Também sou muito fã de Marvel… Quem sabe não consiga fazer alguma super-heroína? (Risos) Eu sonho alto!", conclui Ana Hikari, bem-humorada.
Reportagem da estagiária Esther Almeida sob supervisão de Tábata Uchoa
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