Thaynara OG no Chita Carpet do São João da Thay, em São Luís, no MaranhãoLeo Franco / Ag. News

São Luís - É impossível falar do Maranhão sem lembrar da influenciadora digital e apresentadora Thaynara OG. Apaixonada por seu estado, Thaynara, de 31 anos, sempre faz questão de exaltar a cultura maranhense por onde passa e é a responsável por um evento que já se tornou tradição no calendário junino não só de São Luís, mas também do Brasil inteiro: o São João da Thay, que este ano aconteceu na última quarta-feira (07). Além de levar entretenimento ao público — este ano a festa teve shows de Alcione, Ivete Sangalo, Léo Santana e muito mais —, o evento é beneficente e sua renda é revertida para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do qual Thay é embaixadora.
A influenciadora ficou conhecida em 2016, quando seus vídeos no Snapchat começaram a viralizar. Incomodada com a forma como o Maranhão é retratado na mídia, sempre atrelado a pobreza e baixos índices econômicos, Thay usou sua voz, que já estava alcançando não mais apenas o Nordeste, para mostrar as belezas de seu estado na internet. 
"Eu tinha um incômodo, que com certeza não existe só em mim, mas em cada maranhense dessa faixa etária, que cresceu vendo o Maranhão na TV, na mídia, geralmente associado a uma notícia negativa, falando da pobreza, do IDH. Isso pra gente, que é desse lugar e sabe da potência e da riqueza que o nosso estado tem pra mostrar e explorar, dói num lugar muito, muito lá no fundo", afirma a apresentadora, que decidiu então mostrar ao restante do Brasil o Maranhão que muitos ainda não conheciam. 
"Então, eu surgi lá no Snapchat, em 2015, 2016, e foi muito genuíno eu já pegar o celular, perceber que eu tinha seguidores do Brasil todo e mostrar: 'Gente, olha onde eu moro'. Ter esse orgulho dessa identidade regional, falar dos Lençóis Maranhenses, mostrar o Bumba Meu Boi... Pra mim aquilo era uma ferramenta poderosa para quebrar vários preconceitos que a gente sabe que a galera tem", relembra.  
Mudança de vida
Quando ficou famosa na internet, Thaynara viu sua vida se transformar radicalmente. Na época, ela era uma advogada recém-formada, que estava estudando para concursos públicos para tentar conquistar a independência financeira. Assim que percebeu que estava tendo reconhecimento nacional, Thay decidiu tentar compartilhar os frutos que estava colhendo com o povo maranhense. 
"Quando o Snapchat entrou na minha vida, mudou a minha vida de uma forma muito repentina. Eu era uma estudante, concurseira de Direito. Quando eu me formei, que acabou a bolsa de estágio, eu não tinha dinheiro pra nada. Eu estava estudando todo dia e naquela situação de voltar a depender dos pais, de procurar independência financeira, naquele processo solitário de estudar pra concurso público... E a internet transformou tanto a minha vida de uma forma rápida, que eu preciso ser grata de alguma forma e retribuir pros meus", diz a influenciadora. E foi desse desejo que surgiu o São João da Thay. 
"Tudo começou de uma forma muito tímida. Eu queria fazer uma festa no período de São João para mostrar nossas manifestações da cultura popular maranhense, que vão além do Bumba Meu Boi: tem Tambor de Crioula, tem Cacuriá, tem muitos patrimônios imateriais que estão dentro dessas manifestações. E aí surgiu esse desejo de fazer uma festa pequena, dentro do período junino, pra divulgar o São João e arrecadar algum valor pra gente doar pra uma instituição local", afirma. 
"A Preta Gil, que foi uma das pessoas que eu conheci logo quando eu surgi na internet, estava comigo nos Lençóis, e depois que a gente fez o passeio eu fui contando minhas ideias. Falei do São João, que queria alugar uma sala em um hotel pra fazer um jantar com apresentação de Boi e que iria pedir para os convidados doarem algo para uma instituição. Ela, com pensamento grande, me disse: 'Por que você não faz isso aberto ao público? Faz um grande show, vende ingresso, da bilheteria você já arrecada algum valor. Eu venho te ajudar, cantar, faço contato com outros artistas'. No ano seguinte, a gente já fez o primeiro evento. Por isso sou muito grata a ela. Preta acompanhou o crescimento do São João da Thay e também o meu amadurecimento. Tive muitos conselhos dela, ela sempre com muita sabedoria, experiente, sempre me aconselha, me orienta. Sou muito grata de ter essa história com a Preta e de ter ela tão presente nesse projeto que é um projeto da vida", comemora Thay.  
Nadando na contramão
Reservada, Thaynara acredita ser possível exercer a influência digital de forma a ajudar outras pessoas e não apenas com intenção de conseguir curtidas. "Na internet, eu sei que nado contra a maré, porque eu sei que o que faz crescer é polêmica, é ostentação, conteúdos para gerar like pelo like... Eu amo consumir conteúdo divertido na internet, amo consumir fofoca, sigo todos os portais, mas eu acho que pra além disso dá pra fazer muita coisa… Então, é por isso que eu nado contra a maré, pra provar isso em vários aspectos, provar que a gente é capaz, provar que dá pra ser um influenciador que vai impactar outras vidas e isso vai me motivando todos os dias", analisa. 
E o impacto que Thay traz para a economia maranhense é grande. "A gente tem alguns feedbacks ao longo da nossa trajetória. Desde 2017, a gente impacta na economia criativa, na cultura, no turismo. Eu faço questão de todo evento provocar os convidados a estudar um pouco mais da nossa cultura pra fazer um look pra reverenciar a cultura maranhense e isso movimenta todas as lojas de artesanato lá do Centro Histórico. Os artesãos me falam que quando olham o trabalho deles num vestido que eu e outros convidados estão usando, eles ficam muito felizes. O artesanato ainda é associado a algo simples, então eles ficam muito felizes e orgulhosos. E isso gira a economia toda".  
Além disso, Thaynara está feliz por ver o Maranhão sob os holofotes. Ela está na torcida para que os Lençóis Maranhenses sejam reconhecidos pela UNESCO como patrimônio natural da humanidade. "A gente está em um ano muito importante pra gente. Estamos concorrendo ao título da UNESCO de patrimônio natural da humanidade. A gente sabe que se tivermos esse reconhecimento, que é internacional, ajuda muito a economia, o turismo daqui", explica. 
Motivação
Thaynara revela que considera o São João da Thay uma missão e que fica muito orgulhosa quando as pessoas se espantam ao descobrirem que a equipe que faz o evento acontecer é majoritariamente maranhense e nordestina. 
"O que me motiva é que eu acho que quando a gente tem uma vida muito mecânica — se formar, casar, ter um trabalho e pronto —, você fica em um lugar que você perde a vontade de viver. Se eu não tiver uma coisa que me deixe inquieta, que me faça todos os dias levantar com aquele fogo nos olhos, pra mim acabou a vida. A gente precisa ter um propósito, a gente não precisa só ter objetivos num checklist. A gente tem que ter um propósito. Essa inquietação, o desafio, não saber se vamos conseguir ou não realizar mais uma edição do São João da Thay... Esse desafio me dá sangue nos olhos pra lutar e ter um propósito na vida", explica. 
"A gente sabe que, enquanto nordestino, a gente é subestimado. E isso também dói num lugar diferente. Pra mim é uma honra ver as pessoas que estão vindo pra cá e falarem: 'Nossa, mas vocês produziram aqui? A equipe é toda daqui?’. É muito legal ver as pessoas terem essa reação. Quero incentivar outras pessoas a terem orgulho da sua identidade regional. Quero mostrar que minha equipe é majoritariamente maranhense, nordestina, e a gente sabe fazer acontecer. São Luís pode sim entrar nesse circuito de cidades que podem receber grandes eventos. Não são só Rio de Janeiro e São Paulo não. Quem sabe um dia a gente não está recebendo a Renaissance Tour (de Beyoncé), não é não? Eu sonho grande", finaliza.
*A repórter viajou ao Maranhão a convite da produção do São João da Thay.