Vilma Melo enaltece o poder da mulher preta na peça Mãe de SantoDivulgação/ Guga Melgar
Atriz Vilma Melo enaltece poder da mulher preta com monólogo 'Mãe de Santo'
Peça fica em cartaz até domingo (1º), no Teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio
Rio - Sucesso como Olímpia na série "Encantado's", do Globoplay, Vilma Melo está em cartaz com a nova temporada da peça "Mãe de Santo". Com direção geral de Luiz Antonio Pilar e texto de Renata Mizrahi, o espetáculo traz um posicionamento firme e de orgulho das histórias contadas e passadas de geração em geração. No monólogo, escrito a partir de argumento criado pela filósofa e pesquisadora Helena Theodoro, Vilma ressignifica e enaltece o poder da mulher preta na sociedade.
"São várias mulheres dentro de uma só. A gente coloca a nossa personagem dentro de um TedX, palestrando sobre os assuntos que são pertinentes a ser uma mulher preta no Brasil. Todas as mulheres que a gente conta dentro do espetáculo existem e passaram por histórias que vão perpassar, de alguma forma, muitas pessoas. Não só mulheres negras, mas, sobretudo, as mulheres negras", começa.
"Nós ainda ocupamos os lugares menos privilegiados da sociedade. Nós, mulheres e, sobretudo, nós mulheres pretas, que estamos mais ainda abaixo dessa pirâmide. Porque quando uma mulher branca sai para trabalhar, são as mulheres pretas que, geralmente, cuidam dos seus filhos. Então, falar sobre mulheres pretas e a importância disso, é falar sobre a construção da nossa sociedade nos dias de ontem, de hoje e ainda nos dias que virão", conclui.
Em novembro, "Mãe de Santo" vai estar no Festival Mindelact, em Cabo Verde, na África. A peça também foi convidada a participar de apresentações em Angola, Portugal e Moçambique. Vilma relata a importância de viajar com o espetáculo para lugares como esses.
"A África é continente mater, né? Eu nunca fui. Eu tenho esse encontro de alguma forma com a minha ancestralidade. Então, a minha expectativa de chegar a esse solo, sem dúvida nenhuma, é muito grande. Reconhecer meus pares, ver de onde eu vim, poder ver rostos parecidos com o meu", analisa.
"Sem contar que viajar levando esse espetáculo para esse lugar específico, onde a gente está falando de mulheres negras, para mim é como se fosse um prêmio. Então, a expectativa é muito grande de levar para essas pessoas histórias nossas e, sem dúvidas nenhuma, um paralelo com pessoas que estão lá e vivem isso fora do seu país, e talvez, também vivam isso dentro do seu país", finaliza.
Primeira atriz preta a vencer o Prêmio Shell de Teatro
Vilma foi a primeira mulher preta a vencer o Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro, em 2017, na categoria de "Melhor Atriz", por sua personagem no espetáculo "Chica da Silva - O Musical". A artista revela que achou que nunca fosse ganhar uma premiação como essa e pontua como sua conquista reflete em toda uma geração.
"É um marco. Quando eu ganho o Prêmio Shell, não é a Vilma que ganha, é toda uma categoria que estava assim, com nó na garganta, e eu nem me dava conta disso. Eu falo isso no meu discurso, que eu achava que aquele lugar não era para mim. Eu nunca me vi subindo naquele palco. E, quando eu recebo o prêmio, é uma alegria indescritível. E aí você saber que você está influenciando pessoas, que aquelas meninas pretas como eu, suburbanas, podem sonhar e dizer: 'Se ela está ali, eu também posso estar'", afirma.
A atriz ainda ressalta a falta de atores pretos sendo premiados por seus trabalhos e pontua a necessidade de um olhar mais apurado dos jurados. "Do ponto de vista coletivo, eu não posso deixar de dizer que é pensar que, em 29 anos do Prêmio Shell, nenhuma pessoa preta tinha ganhado na categoria de ator, atriz e direção. É muito triste. Isso não é por falta de pessoas pretas em lugar de protagonismo dentro do teatro, porque a gente está falando do premio Shell de Teatro. Isso, na verdade, é falta de um olhar apurado do júri, porque eu mesma já tinha feito vários outros protagonistas antes de Chica da Silva. E não só eu, mas uma geração enorme que vem antes de mim", conta.
Ela não para
Além de "Mãe de Santo", Vilma está gravando o primeiro filme da Globo, chamado "Ritmo de Natal", um especial natalino que também conta com Taís Araujo e Clara Moneke no elenco. A atriz também vai estrear a segunda temporada da série "Encatado's", da Globoplay, "Amar é Para Os Fortes", da Amazon Prime Video e outras produções no teatro. "Consigo fazer muita coisa ao mesmo tempo. Um dom, assim. Então, eu não paro. São 24 horas sem sair do ar", afirma.
Apesar disso, Vilma, que se intitula como "workaholic" ("viciada em trabalhar", em português) revela que após sua temporada na África com a peça pretende tirar férias.
"Na pandemia eu trabalhei muito e continuo (trabalhando), graças a Deus. Mas eu estou sem férias eu acho que há uns cinco ou seis anos, mais ou menos, que eu não paro nem 15 dias. Gosto de trabalhar, sinto prazer em trabalhar, mas tem uma hora que a máquina pifa. O corpo é uma máquina, e a minha máquina está pifando um pouco, sabe? Então, eu acho que é isso. Acho que em dezembro, quando a gente voltar da África, eu acho que eu vou ter que me refazer um pouco. Mas se surgir um outro trabalho, claro que eu vou fazer, né?", avisa.
"Mãe de Santo" fica em cartaz até dia 1º de outubro, no teatro Glauce Rocha, no Centro do Rio, com sessões de sexta e sábado, às 19h, e domingo, às 18h. A classificação é 12 anos. Os ingressos custam a partir de R$ 20 e estão à venda no site Sympla.
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