Junior lança seu novo álbum, intitulado SoloBreno Galtier / Divulgação

Rio - Para a alegria dos fãs, Junior, de 39 anos, resgata suas raízes musicais como cantor pop no álbum "Solo", lançado neste domingo. O artista mergulha dentro de si e mostra todo seu íntimo neste trabalho, incluindo alegrias e frustrações. Acostumado a sempre estar acompanhado, o músico se diverte ao comentar a nova fase profissional, em entrevista exclusiva ao DIA, e vibra com o novo desafio. 
"Todos os projetos desde o início da minha carreira, de Sandy e Junior, foram em parceria. E é peculiar, depois de tanto tempo de experiência, me ver com novidades, me ver passando por uma situação inusitada, nova, onde me sinto um pouco desconfortável até. Na gravação do clipe, no ensaio fotográfico, entrevistas, sempre tem um serzinho que fica aqui dentro: 'olha que louco'. É interessante, gera uma atenção a mais do tipo 'Deixa eu me ajeitar aqui, porque agora estou sozinho'. Tenho 30 e poucos anos de carreira, mas tem uma novidade muito grande na minha vida", celebra ele, aos risos. 
Após o fim da dupla com Sandy, em 2007, o filho de Xororó e Noely trabalhou como produtor musical, integrou a banda Nove Mil Anjos, entre 2008 e 2009, além de participar de grupos de música eletrônica. De 2017 a 2019, comandou o programa "Pipocando Música", com Bruno Bock. Com a chegada da pandemia, em 2020, o músico revela que ficou com seu emocional bem abalado. Ele, então, se mudou para seu sítio, em Campinas, e depois de um certo tempo voltou a ter inspiração para criar. 
"É muito importante na hora de criar você ficar na sua verdade, na sua essência. Não tem nada que me inspire mais que minha própria vida, história, as coisas que estou vivendo intensamente. E quero colocar isso para fora. Acho que tem um acumulo de sentimentos e assuntos que ficaram guardados nesse período todo que não fiz isso, que não criei, não fiz música. Não tinha como ser de outra forma, eram coisas que eu precisava fazer", reflete ele, que tem no repertório a canção "De Volta para Casa".  
"Essa música não é à toa. Apesar de ser uma coisa nova para mim, já que é a primeira vez que estou fazendo um trabalho solo, que resolvi abraçar essa ideia. Tem uma sensação de conforto, de sofá de casa ao me embrenhar no pop de novo. E de me colocar nesse lugar de cantor ali na frente, porque em outros projetos, acabei assumindo outras funções. Não por acaso, eram coisas que estava a fim de fazer. Mas ao longo do tempo me liguei que estava me distanciando muito da minha essência musical, artística. Então, rola essa sensação de voltar para casa e descobrir uma casa redecorada", avalia. 
Sua família foi grande fonte de inspiração nesta nova fase. "Meus filhos, Otto e Lara, mais que tudo (me inspiram a ser a pessoa que sempre quis ser). Minha mulher (Mônica Benini) também me coloca a maior pilha nesse sentido, meus pais. A vida tem me inspirado cada vez mais. As escolhas que fiz, que não me arrependo, mas que talvez não tenham sido tão coerentes comigo, só me ajudaram a perceber quem eu sou para eu poder voltar para mim", dispara o artista. 
"Fui muito fiel às minhas vontades, fui leal ao meu coração. Sou muito coração, muito mais que cabeça. Foram escolhas que naquele momento faziam sentido para mim. Muitas vezes foram escolhas que hoje em dia assumo que foram para me esconder, me esquivar, de receios, traumas, medos e fantasmas que existiam na minha cabeça em relação ao meu trabalho e carreira. Mas foram buscas muito profundas de aprendizado, de me aprofundar em estilos que eu gostava, admirava e queria conhecer melhor, mais de perto. Foi tudo muito válido para eu poder fazer esse disco. Me deu uma certeza, bagagem, que não teria tido se eu tivesse realizado esses outros projetos", destaca.
Ao longo do processo de produção de 'Solo', 54 músicas foram escolhidas, até chegar às 10 que compõe o primeiro volume. "Foram 54 que compus e levantei como um repertório possível. Saí filtrando um monte. No fim, serão 21 músicas, mais dois interlúdios, dando um total de 23 faixas. E tem, sim, uma mistura de ritmos neste trabalho. E essa pluralidade de estilo se amplia no segundo volume. Acabei abordando todas as minhas influencias, passeando por tudo o que me inspira, que me agrada, as coisas que eu gosto e tenho vontade de fazer", diz Junior. 
Uma das faixa se chama "Fod*-se". O cantor brinca que se sente dessa maneira neste momento de sua vida. "Tenho ligado cada vez mais (o fod*-se). Inclusive, fazer esse trabalho é uma ligada de fod*-se na minha vida. É um ato de coragem. Por muito tempo eu fiz isso. Eu tinha tudo para continuar me escondendo em outras coisas, ideias, projetos. E decidi encarar. É uma sensação de vou saltar, me jogar", comenta. "É intenso tudo isso. E é o que eu poderia estar fazendo de mais legal. Estou muito feliz com essa fase, esse projeto todo, é um momento muito especial que consegui construir". 
Empurrãozinho de Xororó
Junior contou com um empurrãozinho de Xororó para se reaproximar da música quando passou por um período difícil da vida pessoal. Ele ganhou a canção "Sou" do pai, que tem um trecho que diz "Hoje eu consigo perceber / Tudo o que vivi não foi em vão, aprendi que posso escrever uma nova história". 
"Foi muito interessante. Foi um gatilho para eu mergulhar de cabeça no projeto do disco. Início da pandemia, no primeiro semestre, o mundo estranho, todo mundo sofrendo, e eu não estava diferente. Foi bem puxado para mim psicologicamente. Estava em uma fase distante da música, estressado, cuidando de obra. Meu pai olhando para tudo isso, acho que até inspirado em conversas que a gente tinha tido durante minha turnê com a Sandy, em 2019, me mandou essa música. Mexeu comigo, porque ele falou muito com a minha verdade", relembra o cantor, que deixou a canção com seu estilo, ajustando a letra e as harmonias.
Declaração para os filhos
Junior também declara todo o seu amor aos filhos, Otto e Lara, frutos de seu casamento com Mônica Benini, nas músicas "Dom" e "Nosso Olhar". "Ser pai é um dom. Não sei se é meu dom. Sinto que sou um bom pai. Tenho uma presença massa com eles. A gente tem uma relação muito bonita, legal. Não sou o pai perfeito, estou aprendendo também. Tem sempre uma coisa nova, desafiadora. Ser pai vai ser uma vida de aprendizados. Tenho dois filhos em fases diferentes, eles tem quatro anos de diferença. A Lara tem uma personalidade completamente diferente do Otto, por exemplo. Sinto que tenho um talento para isso, sempre gostei de criança. Com crianças sempre me conectei. Vamos dizer que me viro bem", diz ele, que se diverte com a possibilidade de ter um novo filho. "Não, pelo amor de Deus, acho que dois já é o suficiente".
Planos de show
Junior fala sobre seus planos em relação a rodar o país com shows. "Acho que cada fase é uma fase. É um processo. Pretendo tocar nos lugares que me couberem. Onde eu achar que está proporcional ao momento da minha carreira. Tenho consciência que é o início, apesar de ter mais de 30 anos de carreira, acho que é um processo gradativo. Quero o público que me quiser. De verdade, estou muito contente de fazer um som que está baseado na verdade, que estou me sentindo representado. Consegui me traduzir. O resto é consequência. Já tenho um público que nunca me abandonou. Acho que vai ser a primeira galera a consumir e estou de braços abertos pra todo mundo".