Nany People

Rio - A energia de Nany People é admirável. Aos 58 anos, a artista gravou uma participação na novela "Fuzuê", é uma das juradas do "Caldeirão do Mion", ambos da TV Globo, está no elenco da nova temporada de "Vai que Cola", do Multishow, e, após a estreia do espetáculo "Nany é Pop" no Rio, nesta terça-feira, no Teatro Claro Mais, em Copacabana, na Zona Sul, se apresenta no Centro Cultural Theophilo Massad, em Angra dos Reis, nesta quarta. Em entrevista ao DIA, a artista fala sobre a motivação de escrever, dirigir e protagonizar o musical que aborda o amor, em suas mais diversas situações.
"Sempre achei que a audição é o melhor sentido para registrar as memórias, sejam elas afetivas, emotivas e até gustativas. Então, quando você lembra o momento que viveu, você vai se lembrar do cheiro, do sabor da comida, de bebida, de cor, de roupa... Vai lembrar de tudo. E o amor… Me veio um insight um dia que eu pensei: a vida sem amor, não tem sabor. O gesto sem amor, não tem valor. A reza sem amor, não tem louvor, seja em que estado for, o amor causa furor, porque o amor é o único sentimento que vai legitimar a nossa passagem por aqui e quando você transforma isso em música, se torna inesquecível", acredita.
E é exatamente o amor que move a humorista. "Sou movida 90% pelo amor e 10% por, vamos dizer, curiosidades. Então 90% é o amor que me move sim, amor pelo que eu faço, amor pelo meu trabalho, que é a coisa que eu mais centralizei na minha vida. Abri mão de muitas coisas da minha vida em função do meu amor pelo teatro. Eu abri mão de vida pessoal, eu abri mão, muitas vezes, de vida emocional. Eu abri mão de vida social… Porque eu sou muito focada. Sou muito determinada com o meu trabalho. Eu adoro, acho que eu me casei com o palco, como diz o meu biógrafo", desabafa.
Neste trabalho, a mineira se reencontra com a música. Ao entoar canções do repertório, como "Os Amantes", de Luiz Ayrão; "Tigresa", de Caetano Veloso; "Coração de Papel", de Sergio Reis, ela se emociona ao recordar momentos de sua vida e trajetória profissional.
"Costumo dizer sempre e vou morrer falando que a música me levou para o palco, o palco me levou para o teatro e o teatro me trouxe para a vida. Conto para todo mundo que começou (sua história com a música) com 4 anos, numa quermesse. E as pessoas ficam encantadas de ver como minha história com a música vem de longa data. Embora eu tenha ficado afastada um tempo, o reencontro com a música me fez muito bem. Quando eu vou cantar, passa um filme exatamente de quando eu conheci a música, de como essa música chegou na minha vida, quando me tocou. É muito emocionante, as pessoas se comovem junto", revela. 
Além de se emocionar, o público também dá boas risadas e reflete com algumas histórias que Nany divide no palco. "Levo algumas aventuras minhas, coisas que eu vivenciei, coisas de estar apaixonado demais… De repente você pensa: como é que eu pude mergulhar em alguém tão raso? E a gente mergulha em gente rasa às vezes, mas depois que passa é que você vê... Mas é bom, falo com as pessoas sobre muitos foras que já levei, desilusões que tive, que é muito bom também levar um cata cavaco de vez em quando, até para a gente acordar pra vida. Então divido muitas coisas". 
Gente como a gente, a humorista conta que já fez loucuras por amor. "Já fiz! Quem não fez loucura por amor não sabe o que é pagar mico, né? A gente faz loucura de comprar passagem cara para poder ir na outra cidade para dar um pega em quem você está a fim e voltar no voo seguinte. Já fiz isso! Dar pega no aeroporto e voltar. É necessidade, vontade de estar ouvindo, sabe? De repente me deu essa louca vontade de estar com você! E eu tinha que ir, e fui. E voltava correndo para fazer evento em São Paulo ainda! Já fiz muita loucura por amor. Já dei presente e ele nem merecia. Já celebrei muito", diverte-se.
Para quem quiser conferir o "Nany é Pop", a artista se apresenta no Teatro Bangu Shopping, na Zona Oeste do Rio, na sexta; no Teatro Sesi Firjan Caxias, em Duque de Caxias, na Baixada, no próximo sábado; e no Rio Retrô Comedy Club, na Barra da Tijuca, domingo. 
Um "Fuzuê" 
Após surgir nos primeiros capítulos de "Fuzuê" com curadora de uma exposição, Nany People voltará à trama em uma nova participação especial. "Eu já gravei três dias, e vou gravar mais um agora. Eu adoro. É muito bom fazer participação, mas a participação te deixa numa situação: você está, mas não pertence. Você grava aquele momento, mas você não tem noção do andamento da história, é diferente de você fazer a novela como um todo, que você participa do começo, do andamento, da concepção, da ideia da novela, tudo isso. Mas estou muito feliz, sou muito bem recebida pelo elenco, os núcleos que eu tenho participado estão muito bem", diz ela. "Na última novela que eu fiz, que foi 'Quanto mais vida, melhor', eu comecei fazendo uma participação e acabou virando um personagem fixo, que foi a Madame Lu. Nessa pode acontecer o mesmo...", sugere. 
Caldeirão com Mion 
Com um histórico como jurada que vem lá dos anos 90, com passagem pelo "Programa do Ratinho", do SBT, e "Cante Se Puder", da Record TV, Nany volta ao ofício do "Caldeirão do Mion", da TV Globo. "Ser jurado é muito bom, porque eu já fui jurada muitas vezes e costumo dizer que só sobe no pódio quem desafia a gravidade", opina ela, que manda um recado para os internautas que criticam o "Caldeirola". 
"O programa tem uma uma reciprocidade muito boa, uma recepção muito boa e é engraçado que às vezes a internet, como é terra de ninguém, fala assim: 'ai, esse programa é chato, eu prefiro 'Sobe o som'. Mas é de gosto pessoal. Eu digo mais… O 'Caldeirola' é um dos poucos programas de jurados em que muitos calouros só podem mostrar seu trabalho ali. Nós não temos mais programas de calouros hoje em dia. Nós temos o Ratinho, o Raul Gil, e temos o 'Caldeirola'. E é maravilhoso! Aquela bagunça organizada e o carisma do Mion é maravilhoso. Você vê gente fazer coisas de A a Z. E é o que eu digo: a arte sempre salva! Eu acho uma benção poder fazer o 'Cadeirola', e agradeço todo dia, toda gravação". 
Vai que Cola 
Intérprete de Agnes na nova temporada do "Vai que Cola", a artista celebra mais um trabalho no humorístico e exalta os parceiros do elenco. "Já dizia Paulo Autran: O teatro é a arte do ator, TV é do patrocinador, e cinema do diretor. Mas no caso do humor, é o humor que escolhe a gente. A gente é escolhido pelo humor. E é uma benção participar pela terceira vez, é a terceira temporada do 'Vai que Cola' que eu estou. Eu fiz a nove, a 10 e a 11. Fui recebida de braços abertos. O elenco é uma família realmente. Eles são muito geniais comigo, são corteses, amorosos. E fiz novos amigos também. Adoro, me belisco para fingir costume e amo mesmo".
Apontada como nova 'Odete Roitman'
Recentemente, o Aguinaldo Silva cogitou o nome de Nany para interpretar Odete Roitman, personagem vivida por Beatriz Segall, caso uma nova versão da novela "Vale Tudo", da TV Globo, fosse realizada. A artista revela que ficou surpresa com a declaração do autor e conta se aceitaria o convite para o papel. 

"Eu acordei num domingo com um mundo atrás de mim porque o Sr. Aguinaldo Silva fez essa celebração no Facebook dele. É evidente… Que atriz não ficaria lisonjeada de ver o autor de uma obra — que é o único autor que está vivo, inclusive — falar que se tivesse que reescrever a obra, você seria a atriz indicada para o papel principal? Foi lisonja, foi carinho, foi gratidão, foi surpresa e emoção. E que Deus ajude, né, que os deuses do teatro, da TV, nos ajudem. Se isso acontecesse, seria um desafio muito grande e seria histórico. Antológico! Eu poder dar vida a um papel que é tão pragmático, tão contestado, tão amado e tão divertido ao mesmo tempo. Que fala coisas por aí que, hoje em dia, ia ser muito complicado falar tudo o que ela dizia né? Mas eu adoraria o desafio, amaria", admite.

Respeitada por todos
Reconhecida e respeitada, não só pela comunidade LGBTQIAPN+, Nany atribuiu o prestígio à postura que tem em relação à vida. "Muitas vezes, a gente fala coisas que não agradam a todo mundo. A gente não pode agradar a gregos e troianos. E eu sou uma pessoa que não bato palma para maluco, eu não fico tirando o chapéu para quem não merece, eu não queimo vela com o defunto errado. Eu acho que para celebrar a missa, a alma tem que merecer. Então faça por merecer, entendeu? Eu sou essa pessoa. E é muito comum hoje em dia, a moda do 'é legal com todo mundo'. Eu só sou legal com quem merece. Eu sou uma pessoa muito coesa, eu procuro ter esse discernimento, porque foi assim que eu fiz em toda a minha vida. Eu sou uma pessoa que sempre ouvia as verdades de todo mundo e foi ouvindo as verdades que eu melhorei o meu jeito de ser e melhorei até meu histórico de vida", afirma.

"Então, agradeço a Deus por isso, por esse respeito, por essa conotação que as pessoas têm comigo de pararem para me ouvir, respeitar o que eu falo, muitas vezes até não indo a favor. Tem uma série de opiniões sobre a comunidade LGBTQIAPN+ que eu sou contestada, mas é o que eu penso, é o que eu sou, e é o que me faz ser quem eu sou. Faz parte do meu histórico de vida, eu acho que respeito a gente não impõe, a gente conquista. Eu procuro conquistar isso diariamente com o meu trabalho, nas atitudes, na minha postura na vida. Eu agradeço muito a isso", conclui.