Joãosinho Trinta revolucionou a estética dos desfiles das escolas de sambaArquivo / Agência O Dia
Evento celebra obra do carnavalesco Joãosinho Trinta, que completaria 90 anos nesta quinta
Debate na Lapa com personalidades, amigos e pesquisadores homenageia legado do artista
Rio – Considerado um dos maiores carnavalescos de todos os tempos, Joãosinho Trinta (1933 – 2011) completaria 90 anos nesta quinta-feira (23). Para celebrar a data, pesquisadores, amigos e ex-companheiros de trabalho vão se reunir em um debate para sobre a obra e o legado do artista. O evento acontecerá na sede do grupo teatral Tá na Rua, na Lapa, região central do Rio, às 18h30, com entrada aberta ao público.
Com o tema "Joãosinho 90: sonhos e memórias do Rei Mendigo", o encontro contará com as participações da porta-bandeira Selminha Sorriso e do carnavalesco João Vitor Araújo, ambos da Beija-Flor; de Roberto Monteiro e Luciano Costa, que trabalharam com João; e da sobrinha-neta e historiadora Nataraj Trinta.
O escritor e pesquisador de carnaval, Leonardo Antan, que vai mediar a conversa, ressalta a importância do evento como forma de manter viva a memória do artista, especialmente para as gerações mais novas.
"Sua produção artística chegou a milhares de pessoas e mobilizou a sociedade como um todo. É um trabalho absolutamente original, inovador e provocador, completamente crítico também. Através de seus desfiles, ele discutia temas fundamentais da sociedade e da política de seu tempo", exalta Leonardo.
O evento acontecerá na Avenida Mem de Sá 35, Lapa. A escolha do local resgata a conexão entre o fundador do Tá na Rua, Amir Haddad, com a obra do carnavalesco. Foi o diretor quem coreografou e ensaiou a icônica "ala de mendigos" no enredo "Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia", apresentado em 1989 pela Beija-Flor. Na Sapucaí, a encenação impressionou o público e se tornou um marco da teatralização da folia.
Trajetória
João Clemente Jorge Trinta nasceu em São Luís, no Maranhão e se mudou para o Rio de Janeiro para ser bailarino na década de 1960. A partir dos anos 1970, começou a escrever sua história como carnavalesco, revolucionando a estética dos desfiles das escolas de samba. Foi campeão a frente do Salgueiro, da Beija-Flor e Viradouro. Passou, ainda, pela Grande Rio e Vila Isabel. Participou, também, de diversos espetáculos teatrais, criando cenários, adereços e figurinos.
Um de seus desfiles mais marcantes aconteceu em 1989, quando surpreendeu o público ao levar uma réplica do Cristo Redentor como mendigo. Depois de uma ação da igreja católica, a imagem foi proibida pela Justiça e teve que desfilar coberta por um plástico preto. Indignado com a censura, Joãosinho Trinta colocou um cartaz na alegoria com os dizeres: "mesmo proibido, olhai por nós". No dia da apuração, a escola terminou como vice-campeã, perdendo o título para a Imperatriz.
Sua trajetória foi retratada no filme “Trinta”, de 2014, protagonizado pelo ator Matheus Nachtergaele. Outra importante homenagem recebida foi através da música "Reconvexo", de Caetano Veloso, lançada em 1989, que cita "Joãosinho Beija-Flor". Foi retratado, também, na peça "Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia", que ficou em cartaz em 2022 nos teatros Sesc Copacabana e Dulcina, no Centro do Rio.
Após enfrentar muitos problemas de saúde, o carnavalesco morreu em 2011, aos 78 anos, em decorrência de pneumonia e infecção generalizada.
*Reportagem do estagiário João Pedro Bellizzi, sob supervisão de Raphael Perucci
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