O ator Demerson D'Álvaro deu vida ao orixá Exu no desfile da Grande Rio Gabriel Monteiro / DIVULGAÇÃO
“2022 foi um divisor de águas na minha vida. Mudou tudo. Entrei na Avenida e não era conhecido, e depois que passei pessoas do mundo inteiro sabiam meu nome, falavam comigo. Pessoas do mundo do teatro, da moda, da televisão. Fiz filmes, séries, fiz muitos trabalhos. Mas descobri que do mesmo modo que a gente atrai aqueles olhares de admiração, felicidade, atrai também os de desprezo, inveja, cobiça”, disse Demerson.
Apesar do sucesso em outros campos, no ambiente do Carnaval a valorização não veio como o ator esperava. O sucesso do ano anterior rendeu sondagens e convites de outras escolas do Rio e de outras estados. Ele preferiu seguir na Grande Rio, mas pouco antes do desfile de 2023 veio a notícia que acabou com seu Carnaval.
“Faltando 15 dias para o desfile, o coreógrafo chegou para mim e disse que eu estava fora. Que não sairia mais na Comissão de Frente, que seria uma espécie de reserva. Aquilo acabou comigo. A diretoria me colocou de destaque de chão. Não era minha vontade, mas tive de acatar, pois eu era pago”, afirmou.
Para Demerson, o motivo para a dispensa tão em cima da hora era cristalino: “Um preto de comunidade chamando tanta atenção não é bem visto. Fui o primeiro preto de uma comisso de frente a furar a bolha, chamar atenção em um ambiente dominado por gente branca. Ao mesmo tempo, eu comecei a questionar essa diferenciação. Coreógrafos das escolas costumam ganhar 500 mil, 700 mil para fazer um carnaval. Para fazer o Exu eu ganhei R$ 5 mil. Outros ganharam bem menos”, revelou.
Em um ano onde nove das 12 escolas do Grupo Especial irão apresentar enredos com a temática Afro, Demerson questiona a diversidade com relação aos que estão cuidando da realização destes carnavais.
“Temos nove escolas com enredos afros desenvolvidos por pessoas brancas. A verdade é que esse ambiente é de muita panela, dos amigos dos amigos. Tem gente preta pronta para fazer Carnaval. Por exemplo, a Betânia Gomes, grande coreografa, professora de ballet nos Estados Unidos. Ela quer fazer comissão de frente e não encontra espaço, porque é um ambiente dominado pelo pessoal branco e do Theatro Municipal”, afirma com veemência.

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