Tuiuti leva para avenida passistas travestis de projeto social: 'Há anos corpos trans são silenciados'

Rio - Vinte passistas trans do projeto social 'Transcidadania no Samba' se juntam a grandes personalidades travestis do Brasil no desfile da Paraíso do Tuiuti, na noite desta quarta-feira (4). Apostando em um tom sarcástico e popular, a escola de São Cristóvão vai desfilar a realidade de mulheres trans através dos séculos na Sapucaí. Com o enredo 'Quem tem medo de Xica Manicongo?', a Tuiuti conta a história da primeira travesti não indígena documentada do Brasil e como sua transcestralidade segue guiando e protegendo esse grupo.

Bruna Benevides, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), disse que este era um sonho individual e que agora se tornou coletivo. "Quando o convite chegou, eu vi ali a possibilidade de realizar um sonho meu antigo, afinal, eu nunca desfilei. Mas depois vimos que esse era um sonho coletivo. São 150 travestis desfilando hoje. Estamos escrevendo e vivendo a história", disse a presidente emocionada.

Bruna esteve à frente do projeto que preparou, por seis meses, 20 passistas trans para desfilar em uma das alas do Tuiuti. Entre elas está a Fernanda Campos, de 34 anos. Pisando pela primeira vez na Sapucaí, ela reforçou a importância de ter corpos trans em um desfile.

"É muito importante esse momento. Há muitos anos os corpos trans são silenciados. A história da Chica não era conhecida. No exterior estamos sendo muito atacados. Estar aqui hoje nos empodera, mostra que existimos", diz Fernanda.

Serena da Silva, de 44 anos, já desfilou outras vezes, mas este momento será muito mais importante. "Eu acho que era uma história que poderia já ter sido contada em outros carnavais. A sociedade está tendo uma outra visão nossa. Curtindo o nosso samba. Antes éramos marginalizados e hoje se abre um leque", comemora Serena.

As passistas atravessam a avenida representando Eloína dos Leopardos, travesti que foi a primeira rainha de bateria do Carnaval, na década de 1970, e homenageada dentro do enredo de 2025 da agremiação.

Além das passistas trans, a escola também traz entre os componentes outras grandes personalidades, como a cantora trans Pepita, que vem na segunda alegoria do desfile representando a passagem de Xica na Bahia, no período colonial brasileiro

Políticas e ativistas também desfilam, como Érika Hilton, deputada federal (Psol-SP); Duda Salabert, deputada federal (PDT-MG); Amanda Paschoal, vereadora (Psol-SP); Dani Balbi, deputada estadual (PC do B-RJ); e Jovanna Baby, fundadora do Movimento Trans Nacional e presidenta da Fonatrans (Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros).