Neguinho da Beija-Flor no título de 2025 pela Beija-Flor, que marcou sei último desfile como voz da escolaReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Neguinho da Beija-Flor foi a voz de todos os títulos da escola; relembre
Por duas oportunidades, além de cantar, ele também foi o autor da letra do samba
Rio – Após o 15º título da Beija-Flor na elite do Carnaval do Rio de Janeiro, conquistado nesta quarta-feira (5), Neguinho da Beija-Flor, de 75 anos, voltou a afirmar o que já era de conhecimento público: este foi seu último ano como voz oficial da escola de Nilópolis após meio século de desfiles. Mas o que muitos não sabiam é que as 14 conquistas anteriores tiveram o sambista como intérprete – na primeira, ele também foi o compositor.
Nascido em Nova Iguaçu, também na Baixada Fluminense, Luiz Antônio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes chegou à escola de Nilópolis nos anos 1970 após convite de Cabana (1924-1986), compositor e um dos fundadores da agremiação, para substituir o titular da época, Bira Quininho, falecido havia pouco.
Em 1976, ele se juntou a Laíla (1943-2021) – ex-diretor de carnaval da escola e homenageado no enredo campeão de 2025 – e ao carnavalesco Joãosinho Trinta (1933-2011), já bicampeão pelo Salgueiro. O trio foi fundamental para o primeiro título da Beija-Flor, conquistado naquele mesmo ano, com o enredo 'Sonhar com rei dá leão', sobre o jogo do bicho. Na ocasião, além de 'puxar' o samba, Neguinho ainda assinou a autoria – feito que repetiu em 1983.
Nos dois anos seguintes, a escola da Baixada Fluminense foi novamente campeã, conquistando um tri até então inédito e impactando uma hegemonia que tinha como protagonistas Portela, Mangueira, Salgueiro e Império Serrano.
Depois, ao longo de cinco décadas, foram mais 12 títulos, sempre com a sua voz inconfundível.
Confira a lista completa abaixo:
- "Sonhar com rei dá leão" (1976)
- "Vovó e o rei da Saturnália na corte egipciana" (1977)
- "A criação do mundo na tradição nagô" (1978)
- "O sol da meia-noite, uma viagem ao país das maravilhas" (1980)
- "A grande constelação das estrelas negras" (1983)
- "O mundo místico dos Caruanas nas águas do patu-anu" (1998)
- "O povo conta a sua história: saco vazio não para em pé, a mão que faz a guerra, faz a paz" (2003)
- "Manõa, Manaus, Amazônia, terra santa: alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz" (2004)
- "O vento corta as terras dos pampas. Em nome do pai, do filho e do espírito guarani, sete povos na fé e na dor… sete missões de amor" (2005)
- "Áfricas – do berço real à corte brasiliana" (2007)
- "Macapaba: equinócio solar, viagens fantásticas ao meio do mundo" (2008)
- "A simplicidade de um rei" (2011)
- "Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade" (2015)
- "Monstro é aquele que não sabe amar (os filhos abandonados da pátria que os pariu)" (2018)
- "Laíla de todos os santos, Laíla de todos os sambas" (2025)
Aposentadoria
Após a conquista mais recente, o sambista – dono do inconfundível 'Olha a Beija-Flor aí, gente. Chora cavaco' – demonstrou orgulho de sua trajetória como intérprete em todos os títulos até hoje: "Entrei campeão e estou me aposentando campeão".
Questionado se a emoção pelo 15º troféu o poderia demover da decisão de se retirar como intérprete, o artista foi direto: “Estou aposentado. Com chave de ouro, graças a Deus”, comemorou ele, com a voz ainda embargada.
Nas redes sociais, a Beija-Flor homenageou Neguinho logo pós a conquista: "50 anos sendo a voz oficial da Beija-Flor e uma eternidade pela frente. Muito obrigado, Neguinho da Beija Flor".
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.