Por karilayn.areias

Rio - Em 2009, Lucimara Parisi pediu demissão da Globo após 50 anos na emissora - no rádio e na TV. De acordo com ela, não houve nenhum problema pontual para que colocasse um ponto final na parceria comFausto Silva que já durava 30 anos. Mas também não havia mais satisfação em trabalhar no programa. "A gente sempre brigou, a gente brigava todos os dias. Ele falava uma coisa, eu falava outra. Era tudo normal. Não teve discussão, não teve nada. Eu tomei uma atitude: não queria mais passar por algumas coisas. As pessoas acham que eu fui demitida da Globo, mas saí porque quis. Eles chegaram a falar: 'Você pode escolher outro programa', mas não merecia ficar na geladeira. Falei que preferia deixar a empresa. Ninguém acreditou, nem eu. Na época, não tinha nada em vista", lembra Lucimara ao iG.

Luciamara ParisiiG

A ex-coordenadora do "Domingão do Faustão" nos recebe para um bate-papo em sua propriedade de 2.500m², em um condomínio da Granja Viana, na Grande São Paulo, e trata de explicar que prefere não dar tanta importância ao assunto do passado. "As pessoas queriam uma mudança no 'Domingão', uma renovação, é normal. Mas eu prefiro quando falam: 'vamos arrumar umas novas caras?', e você entende que isso está acontecendo. Na mesma época, saíram a Adriana Colin e o Caçulinha. Passou. O importante é que gosto do Fausto e tenho certeza que ele me quer bem também. Faz muito tempo que não nos falamos mas o sentimento ainda existe. O tempo é o remédio para tudo", resume ela, que é madrinha de casamento do apresentador com Luciana Cardoso e também contou com ele entre os padrinhos de seu casamento com Alexandre Viturino, há dez anos. Mãe de dois filhos do primeiro casamento e duas filhas adotivas, Lucimara quis ser mãe novamente após a união e adotou Gabriel, atualmente com 7 anos.

Ida para o SBT

Quando Lucimara deixou a Globo, a jornalista de formação não tinha nenhum trabalho em mente e aceitou o convite de Carlos Alberto de Nóbrega para se apresentar no humorístico "A Praça É Nossa", no SBT.Silvio Santos ficou sabendo da presença dela nos corredores da emissor e a convidou para fazer uma participação no "Jogo dos Pontinhos". "Conheço o Silvio desde antes de ele pensar em ser dono de emissora e ele tem muita liberdade para brincar comigo. No dia dessa gravação, o Ratinho estava lá e me chamou para trabalhar com ele. Desde então, estou lá", narrou ela. "O SBT é como dizem, o lugar de gente feliz, sou muito feliz lá, as pessoas são bacanas. Tem problema como em todo lugar, às vezes não tem verba para isso nem para aquilo. A gente até ri, mas o grande desafio está aí. Quando você não tem recurso e vê a coisa acontecer e o ibope subir, não tem preço".

Apesar das dimensões do imóvel de Lucimara, a simplicidade se destaca em todos os ambientes: café de coador, bolo quentinho recém-saído do forno, muitas plantas e animais estão ao redor dela. "Foi essa maneira simples de lidar com a vida que me encantou também no Ratinho. Sempre fui louca para trabalhar com ele. Ele é muito minha cara, popular. O Ratinho é uma das raras pessoas da televisão que não têm farsa. Nos demos bem logo de cara. Além disso, o considero o maior comunicador da América Latina", conta a apresentadora, que divide o palco com o colega há quase quatro anos.

Danilo Gentili

Para enfrentar as dificuldades, o tempo de televisão é um aliado de Lucimara no dia a dia e ela garante que consegue "quase tudo" que inventa para o palco de Ratinho. Em uma dessas tentativas, ela ligou para a Band e solicitou a liberação de Danilo Gentili, que na época apresentava o "Agora É Tarde". "Fico contente de ter participado da ida dele para o SBT. Eu o convidei para participar do 'Programa do Ratinho' e ele se entusiasmou muito. Foi a partir daí que começaram as negociações", revela. O tempo, ela explica, também trouxe sabedoria para lidar com os profissionais nos bastidores. "No meio televisivo, dá para ter amigos, mas é muito pouco. O ego é uma coisa que precisa ser trabalhado. É preciso orar muito para desapegar. Eu tenho essa sabedoria, estou sempre botando panos quentes nas intriguinhas de bastidores, domando o ego de alguém. Quando existe alguma briga entre duas pessoas, chego e falo: 'olha, ele está arrependido do que fez, ele curte você'. É mentira, a pessoa não me disse nada, é só para entrosar, quebrar aquela coisa de fofoca e ver todos em paz. Esse é meu jeito".

Boca suja

Segundo Lucimara, os desafios de um programa entrar ao vivo vão além das questões com os funcionários. "Todo dia tem um acidente na Rodovia Anhanguera (onde fica o SBT) e tem um convidado que atrasa. Aí, grito: 'Caralhô!' E corro para botar alguém no lugar. Também tem coisa que a gente acha que o público vai gostar e a gente percebe que não está bom no medidor do Ibope minuto a minuto. Se está feia a coisa, a gente arranca do palco e bota outra coisa. Mas é exatamente isso que é sensacional no que faço e é por isso que, apesar de tudo, continuo", diz ela, assumindo seu lado "boca suja" que os telespectadores não conhecem. "Um dia desses uns dez cinegrafistas estavam nos corredores e me viram passar. Imediatamente, eles gritaram: 'Caralhô'. Esse é meu sobrenome lá. Na Globo também era".

Bunda dá audiência

Lucimara iniciou a carreira como atriz de radionovelas e produtora de Osmar Santos na Rádio Nacional, que depois se transformou em rádio Globo, no final da década de 1940. Segundo ela, naquela época a programação era mais voltada para a família, o que tem sido dispensado atualmente na televisão. "Às vezes, tem alguma coisa mais ousada no 'Programa do Ratinho', mas não tem vulgaridade como na novela, com gente transando às 21h, nem no 'Pânico', com bunda pra lá e pra cá. Acho que está tudo ruim na TV. Você também acha?", questiona à repórter, analisando também a quantidade de bailarinas no palco do "Domingão". No período em que trabalhou no dominical global, Lucimara presenciou o início da carreira deSabrina Sato no balé. "Ela era essa simpatia que ainda é hoje, só um pouco mais tímida. Como ela, todas as bailarinas se destacam pela beleza, pela bondade. No momento, acho que tem bailarina demais, acho um exagero. Elas não conseguem nem dançar: deu um passo para lá, bateu (levanta e abre os braços). Não sei o que foi essa neura, mas sei que bailarina dá audiência. Bunda de fora sempre dá audiência. É o país da bunda, do futebol e dos corruptos", finaliza.

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