Por karilayn.areias

Rio - Acostumado com o cinema, Julio Andrade diz que pisa em ovos quando o assunto é trabalhar para a TV. A falta de afinidade com a telinha, porém, não atrapalha. Os números, inclusive, mostram que esse é o lugar dele. A estreia de ‘Sob Pressão’, em que o ator interpreta o cirurgião Evandro, por exemplo, garantiu à Globo a maior audiência de uma série às terças em quatro anos — 28 pontos de média em São Paulo e 31 no Rio.

Julio Andrade caracterizado como o cirurgião EvandroDivulgação

“Esse desafio de encarar um lugar que, para mim, é difícil, me seduziu”, conta o artista, que já havia vivido o personagem no cinema, mas agora o encarou de um jeito novo. “Essa série é metade novela, metade cinema. Tem a urgência da novela e o cuidado do cinema. Esse lugar me interessou bastante”, diz.

Além da dificuldade de dar vida ao cirurgião em uma série para a TV aberta, Julio conta que, assim como Marjorie Estiano, acompanhou a rotina de médicos de um hospital público para compor o personagem, que não admite perder um paciente em seu plantão. O resultado do laboratório ele nem precisa dizer, pois o olhar de revolta já demonstra.

“Depois dessa experiência, estou muito indignado. O Brasil está doente e essa questão dos hospitais é só uma parcela de tudo o que está acontecendo”, dispara o artista, que emenda: “As pessoas estão doentes porque elas não têm trabalho, não têm saúde, não têm nada. A gente precisa cuidar dessa ferida aberta que é o Brasil.”

Embora não seja médico, de feridas Julio entende. Os meses que passou gravando em um centro cirúrgico, para ele, tiveram o efeito de verdadeiras aulas de primeiros socorros. “Eu nunca gostei de sangue, tinha até pavor de olhar, mas vestido de um personagem eu consegui lidar com as situações que eu não conseguiria na vida normal”, conta, sem medo de precisar mostrar o que aprendeu.

“Se alguém cair aqui, eu corro para socorrer (risos)”, brinca ele, levando a sério a rotina de seu personagem, que não se permite parar para comer enquanto olha para os corredores do hospital e encontra pacientes em estado grave.

“Tivemos pouco tempo para gravar e a pressão não ficou só no nome da série (risos). Eu não tinha tempo nem pra tomar café. Emagreci e ia pouco ao banheiro. Não tem jeito, você acaba levando a história do personagem para a sua vida, né?”, revela.

Em relação aos médicos, Julio conta que mudou a sua visão. Agora, o ator os considera heróis sem capa. “Eu já os admirava por seguirem uma profissão que trabalha entre a vida e a morte, mas quando você vivencia, ainda que seja na ficção, pelo menos um pouquinho da rotina desses caras, você fica sem palavras. E é assim que me sinto agora”, diz. 

Reportagem de Bárbara Saryne, Diário de S.Paulo/Agência O DIA

Você pode gostar