Ludmilla é destaque no pagode com o projeto NumaniceDivulgação

Rio - Presente em quase todas as confraternizações, um dos gêneros musicais mais queridinhos dos brasileiros tem um dia para chamar de seu. Neste sábado (18), é comemorado o Dia do Pagode. O ritmo é um velho amigo do carioca, mas, recentemente, tem atraído a atenção de artistas de outros estilos, como Ludmilla, que lançou o projeto "Numanice" em 2021, e rapidamente se tornou um sucesso.
"Com certeza, é um dos maiores projetos da minha carreira, e eu nunca imaginei que tomaria essa proporção toda. Olha, eu sempre acreditei no poder da música em unir as pessoas, de levar alegria e representatividade. Mas ver o 'Numanice' se tornar esse case de sucesso é uma emoção que não dá nem para explicar. Quando comecei minha carreira, eu tinha sonhos gigantes. E ver tudo isso se concretizar, a galera se identificando com a minha música, dançando, curtindo, é uma realização que não tem preço. E fazemos todos esses projetos com muita verdade e autenticidade. Porque faz parte da nossa essência", diz.
Originalmente do funk carioca, a cantora relembra como surgiu a ideia de entrar também para o pagode com o "Numanice", que já acumula 3,5 bilhões de streams nas plataformas digitais. "Todo mundo sabe que eu gosto muito de festa. E lá em casa sempre rolavam resenhas com muito samba. Eu cresci ouvindo os clássicos, cantando e dançando, curtindo essa energia única. Até que mostrei para os meus fãs um vídeo de uma festinha onde eu cantava alguns pagodes. E eles começaram a pedir um EP com essas músicas. Então, fiz um desafio: se eu vencesse um prêmio, eu gravaria. Acabei ganhando o troféu e tive que cumprir a promessa. E deu no que deu", conta.
Sábado é dia de...
Por falar em festa, de acordo com dados do Spotify analisados nos últimos quatro anos, sábado é o dia em que os usuários da plataforma musical mais ouviram pagode, seguido de domingo e sexta-feira, assim como o pico de consumo acontece todos os anos no Natal e Ano Novo. O editor de música do serviço de streaming, Rodrigo Azevedo, explica a relação da confraternização como fio-condutor do gênero.
"Tem se tornado cada vez mais a forma de se celebrar. O pico de consumo da semana do pagode é sempre no fim de semana. Você pega os charts [gráficos] do fim de semana, sempre vão ter mais faixas de pagode bem posicionadas do que em uma quarta-feira, que é um dia no meio. Então, por ser uma forma de curtir e festejar, Natal e Ano Novo também não ficam de fora dessa. São momentos que você geralmente se reúne, seja com sua família ou amigo, se você faz um churrasco, uma festa, o pagode acaba entrando como um dos principais gêneros de sonorização", relata.
Ascensão do pagode
Ainda de acordo com o levantamento do Spotify, de 2020 a 2023, o pagode teve um grande crescimento em audiência no Brasil, com 86% de aumento em ouvintes e 109% em buscas. Rodrigo acredita que os "lables", grandes eventos que caíram no gosto do público, podem ser a razão desse movimento. "Tem algumas outras coisas acontecendo, mas exemplo de artistas como a própria Ludmilla fazendo 'labels' de pagode. Ela tem o 'Numanice', o Léo Santana lançou esse ano o 'Paggodin'... Isso tudo em cima do 'Tardezinha', que o Thiaguinho criou há alguns anos, é um grande case de sucesso e a gente tem visto isso acontecer cada vez mais", explica.
Com esse sucesso incontestável, além de Ludmilla e Léo Santana, diversos artistas de outros gêneros tem apostado em projetos no pagode, como Gloria Groove, Luísa Sonza, Anitta, Matheus Fernandes e Ana Castela. "Eu acho que tem vários artistas cada vez mais no pagode por dois motivos: um porque é um gênero em ascensão, está gerando consumo. Obviamente tem trazido números que são interessantes para todos. Querendo ou não, isso é uma nova linha de receita para esses artistas que estavam acostumados a fazer só shows para seus gêneros principais, agora também estão fazendo outros formatos", aponta o editor de música do Spotify.
"Mas tem uma coisa que eu acho que talvez seja a raiz de tudo que é quase um efeito nostálgico, quase todos nós crescemos escutando pagode nos anos 90 e agora esses artistas estão tentando voltar com essa identificação que passaram dos seus pais quando eram crianças e agora traz esse sentimento de 'retorno ao lar'", conclui.
Apesar de ser um verdadeiro case de sucesso com "Numanice", Ludmilla ressalta que não pretende migrar 100% para o gênero. "O pagode tem um lugar especial no meu coração, é um gênero que me permite mostrar minha essência, minha verdade, minhas raízes, mas também têm outros estilos que fazem parte do meu DNA musical como o pop, o R&B, o funk... A Ludmilla nasceu do funk. Minha primeira música de trabalho foi 'Fala Mal de Mim', que exalta o funk carioca. E eu gosto de poder transitar por todos esses estilos", declara.
A cantora, por sua vez, dá spoilers do que os fãs podem esperar do projeto de pagode para os próximos anos. "Eu e o meu time estamos trabalhando duro, cuidando de cada detalhe para levar o melhor evento para a galera. O 'Numanice' é mais do que um projeto musical, é uma família, é uma experiência, é uma conexão com o público que é única. Eu não posso dar muito spoiler, mas vem muita coisa boa por aí. Aguardem", avisa. 
Mulheres no pagode
O gênero que antes era predominantemente masculino, tem cada vez mais grandes vozes femininas. E se antes não era tão comum, agora, as mulheres estão assumindo gradativamente espaços dentro do pagode e conquistando uma legião de fãs.
"Eu acho que principalmente Ludmilla, Marvvila, todas essas artistas que conseguiram espaços e são respeitadas dentro do meio, incentivam outras artistas como Thaís Macedo, Gica, Andressa Hayalla, a fazerem pagode também e todas elas estão conquistando seu espaço dentro da cena", opina Rodrigo.
"E uma coisa que eu acho importante que está dentro do gênero é porque 61% de artistas femininas cresceram dentro do pagode nos últimos quatro anos. Então, comparando a homens isso era 43%. E é bom porque traz outras narrativas para dentro do gênero, né? Então, você não tem só a visão do homem sobre amor, você também tem a visão das mulheres sobre amor, sobre festa... Acaba trazendo uma nova audiência, não só a feminina, mas agora todo mundo precisa ouvir também as mulheres", relata.
Sobre ser um dos destaques do pagode atualmente, sendo mulher, Ludmilla afirma: "É uma honra. Se hoje eu estou aqui, é porque antes de mim teve Dona Ivone Lara, Leci Brandão, Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes e muitas outras. Ser uma mulher de sucesso no pagode é quebrar barreiras, é abrir caminho para outras mulheres que também têm talento e que merecem ter seu lugar e reconhecimento. Mostrar que nós também podemos brilhar, em um meio onde a maioria são homens, é simplesmente incrível. O pagode é para todo mundo, independentemente de gênero".
A artista, então, dá um conselho para as mulheres que querem começar no gênero. "Vá em frente com toda a sua força e autenticidade. Não deixe ninguém te dizer que você não pode. Acredite no seu talento, na sua voz, no seu brilho único. Nosso lugar é onde a gente quiser", ressalta.
Vale destacar que Ludmilla é a única mulher a integrar a lista dos queridinhos do pagode, que também traz nomes como Thiaguinho, Péricles, Belo e o grupo Menos É Mais. Este último não esconde a alegria de estar no topo da lista dos 10 mais ouvidos do gênero. "A gente sabe que todo esse resultado. Na verdade, é consequência de muita gente que está torcendo pelo nosso trabalho, que está escutando Menos é Mais. A gente é grato por todas essas pessoas terem aparecido na nossa vida", celebra Gustavo Goes, um dos integrantes do grupo.
"E é muito importante para o nosso segmento, eu acho, ter cada vez mais artistas despontando, não só o Menos é Mais, mas artistas que vão realmente puxar essa curva de consumo lá para o alto porque isso só fortalece o segmento, isso abre portas também para que novos grupos venham a aparecer e a gente fica muito feliz com tudo isso", declara.