Tony RamosGlobo / Débora Santiago

Rio - Tony Ramos, de 76 anos, é uma das estrelas da novela "Dona de Mim", que estreia nesta segunda-feira (28), na faixa das 19h, na TV Globo. Na história, o ator interpreta Abel, herdeiro e atual presidente da fábrica de lingerie Boaz. Filho de Rosa (Suely Franco), ele precisou abandonar a paixão pelas artes em nome da empresa fundada pelo pai, o que incomoda seu irmão Jaques (Marcello Novaes).
Casado com Filipa (Cláudia Abreu), o empresário tem quatro filhos: Samuel (Juan Paiva), Davi (Rafa Vitti) e Ayla (Bel Lima), frutos do seu primeiro casamento, e a pequena Sofia (Elis Cabral), que foi registrada como filha após uma cobrança de uma dívida de vida que tinha com Ellen (Camila Pitanga), antiga funcionária da Boaz, que tem uma doença terminal. 
Na entrevista, Tony conta de onde vem seu entusiasmo para o trabalho, dá detalhes da relação com atores novatos e relembra o problema de saúde que teve ano passado, um hematoma subdural - sangramento entre o cérebro e o crânio. Por conta disso, ele passou por duas cirurgias na cabeça em maio de 2024. 
Conte um pouco sobre seu personagem Abel?

Rresumir um personagem com essa complexidade é complicado. A Rosane (Svartman, autora) foi criando a partir do capítulo 1 surpresas que o próprio elenco vai descobrindo. Ele é um homem apegado a essa família, ele adora os filhos. No primeiro casamento, ele teve filhos biológicos, só que ele vai se casar novamente, anos depois.

Como é o casamento com a Filipa?
Em seis meses ele conhece a Filipa, uma artista performática, eles se apaixonam e ela dá um gás na vida dele que ele jamais imaginaria. Nesse tempo, eles se conhecem e se casam.

Todo mundo que trabalha com você se impressiona com sua vitalidade e disposição. De onde vem tanta disposição após mais de 60 anos de carreira?

Vem de dentro de mim. Acho que é o prazer do trabalho. Desde a TV Tupi quando comecei com TV ao vivo, vem dos sonhos, que nunca abdiquei deles, vem das lembranças dos anos difíceis. Essa ressonância com meu nome foi fruto do trabalho. Eu nunca acreditei no sucesso, sabendo que ele está na minha cara, porém ele está ali e o fracasso também está do lado. Sempre acreditei no trabalho.
E como você lida com o inesperado da vida?
As surpresas da vida, como, por exemplo, com a saúde, no ano passado, nada disso me abate. 45 dias depois que o Dr. Paulo Niemeyer me operou, ele me deu alta e voltei com a minha peça, com a Denise Fraga, terminei um filme com a Lilia Cabral, comecei outro com a Susana Vieira. Continuei com a peça, e em outubro, eu estava jantando com o diretor e a Rosane, eles me convidando para a novela, contando a história. Antes da sobremesa eu disse: 'já estou dentro'. Sou movido ao trabalho, pela minha casa, pela minha família e o amor da minha vida que é a minha companheira (Lidiane Barbosa). É isso que me move.
Como é a sensação de atuar com esse elenco mais jovem da novela?

Vejo como reaprender também, porque, com eles, acreditem ou não, eu aprendo muita coisa, até o palavreado. Aprendo com o Juan (Paiva), aprendo com o Rafa (Vitti), nossos bastidores são maravilhosos com a Bel que faz a minha filha. Há um convívio de afeto. É difícil explicar, afeto não se explica, vai para a tela porque você sente. Gosto de um ambiente harmonioso, de um ambiente que falemos cada um o que sente, de um ambiente com muito ensaio. Tanto que chego, já pego os meninos e falo: 'Molecada, passar texto, vambora'. Eles amam. O Juan é um ator muito movido pelo trabalho, mas não se engane com o Rafa. Ele é muito engraçado, com um espírito muito solto, mas é de uma disciplina, ele sabe todo texto, estão sempre com tudo decorado. Não sou melhor que eles, sou mais vivido que eles. Tenho uma experiência maior, então troco com eles coisas que não sabia, fico ouvindo o palavreado, não que eu tenha que repetir, mas isso é um bálsamo novo.

E como é atuar com a pequena Elis Cabral, de apenas 7 anos, que faz a sua filha Sofia?
Trabalhar com essa criança é uma revelação. A Elis é uma atriz vocacionada. Não devo falar para não induzir vocês... A coisa mais bonitinha ela gravando uma externa, numa cena que é o aniversário da personagem dela. No meio da cena, o Pedro, um dos nossos diretores, disse que ia refazer e ela perguntou: 'Por que? Não ficou bom?' E ele disse que iria pegar de outro ângulo. Ela é espontânea. E a criança com a mãe e o pai presentes, quem ficam alimentando a fantasia dessa profissão mirim para ela. E nós também, tratamos ela como criança, isso que é fundamental.

Onde você colocaria o Abel nas prateleiras dos seus personagens?

Complicado, são mais de 50 novelas, estou entrando agora com esse personagem Abel. O personagem de número 148 da minha vida, entre cinema, teatro e televisão. Não são 18, nem 14, mas ele está ali naquela prateleira ao lado de 'Terra e Paixão', por exemplo. Personagens a gente não elege o melhor... Claro que sei quais tiveram mais sucesso, eu não sou uma pessoa desantenada, mas às vezes aqueles que não tiveram tanto sucesso, tiveram o mesmo peso e importância na minha carreira.