Ingrid Gaigher está brilhando na novela das 21h Reprodução / Instagram

Rio - Ingrid Gaigher, de 34 anos, conquistou o público como Lucimar na nova versão de "Vale Tudo", da TV Globo. Mãe de Jorginho (Rafael Fuchs), fruto do breve relacionamento com Vasco (Thiago Martins), a faxineira falastrona e cheia de opinião virou fenômeno após uma cena sobre pensão alimentícia para o filho via aplicativo. A sequência gerou impacto fora da ficção, com aumento de 300% no uso da plataforma da Defensoria Pública. Inspirada em mulheres da própria família, a artista carioca mistura humor e crítica social na composição da personagem, interpretada por Maria Gladys, na versão original do folhetim, exibido em 1988. 

- Qual foi sua principal inspiração para compor o jeito da Lucimar?
Essa energia da Lucimar vive na minha mãe. Quando eu era criança, lembro da minha mãe sendo como Lucimar, amorosa, porém cortante e prática. Minha mãe tem esse jeitão que herdou da mãe dela, minha avó, que era cozinheira, criou minha mãe sozinha e tinha essa personalidade forte, uma forma de falar cortante.
- Você tem uma Lucimar na sua vida? Alguém que cuida da sua casa?
Não tenho ninguém que cuide da minha casa, mas na casa da minha avó paterna, tem a Marilena. Ela é exatamente a Lucimar, desbocada, corajosa, super talentosa e muito engraçada. Inclusive, de vez em quando, ela me conta histórias dela, como uma vez em que deu uma vassourada em alguém, ou quando não levou desaforo para casa. Ela manda e desmanda na casa da minha avó e sempre tem um contra-argumento. Ela, com certeza, faz parte do processo de criação da Lucimar.
- Como foi conversar com mães solo e pessoas criadas sem pai para compor a personagem? Te marcou alguma história em especial?
Foi fundamental para o trabalho acontecer. Conversei com algumas mães, mas a que me marcou foi uma mãe que é de Natal, tem uma filha de 2 anos, e o pai só viu a menina por chamada de vídeo duas vezes, e ela compartilhou o esforço que foi legalizar o pedido de pensão e chegar num acordo, e o quanto ela quer que o pai conviva com a criança. O genitor processou ela por danos morais porque ela desabafa na internet sobre o dia a dia como mãe solo, sem citar o nome dele, mas ainda assim ele se sentiu com coragem de abrir um processo contra ela, e ela ainda teve que arcar com os custos disso. Realmente, é uma cultura de sobrecarga das mães que precisa acabar.
- Você chegou a trocar ideia com Maria Gladys, que fez a Lucimar na versão original? Que tipo de troca ou mensagem você gostaria de ter com ela?
Não consegui encontrar com ela, mas minha mãe encontrou, sim. Gladys me desejou boa sorte, enviou parabéns e disse que torce pela nova geração. Achei muito generoso da parte dela. Gostaria muito de saber sobre o processo dela na criação de texto junto ao Gilberto Braga, porque Lucimar é um personagem que tem muita personalidade. Acredito que tem muito de Gladys nela.
- A Lucimar trabalha com limpeza, mas já disse que sonha em cantar e dançar. Você, que é cantora, sonha em mostrar essas facetas na novela?
Seria maravilhoso se o sonho da Lucimar se concretizasse! Claro que poder dançar e cantar, expressões artísticas que são meu trabalho há muitos anos, seria maravilhoso, ainda mais nesse contexto, num personagem que merece realizar seus sonhos por representar a trajetória de tantas mulheres que não podem sonhar. Mostrar minha versatilidade, é mostrar de maneira artística que somos múltiplos! Eu adoraria se isso fosse possível na novela, com certeza.
- A Lucimar virou um fenômeno entre o público, principalmente após a cena do pedido de pensão para o filho via aplicativo. Você esperava esse impacto tão grande?
Esperava que tivesse muita identificação, mas sinceramente, não esperava essa proporção e nem essa rapidez. Foi um número de pessoas muito alto num espaço de tempo muito curto. Isso só mostra o poder da arte e das novelas no Brasil! Venho recebido mensagens pelas redes sociais, na rua, nos ciclos de amizade, como mulheres que se encorajaram a ir atrás de seus direitos, a buscar redes de apoio, e também como se sentem identificadas com o humor dela. É uma personagem com apelo popular muito forte!
- O que mais te desafia no dia a dia de gravação de "Vale Tudo"? E o que mais te diverte?
Minha caracterização para virar Lucimar nos dias de gravação é uma rotina que demanda bastante tempo. Cabelo com apliques, cílios, tudo leva 1h30 para ficar pronto. Mas o que me diverte são meus amigos de elenco. A gente não consegue fazer diferente, sempre estamos nos divertindo no dia a dia, com muito assunto ou até em cena mesmo. Temos que nos concentrar bastante, porque já chegamos ao ponto de termos vontade de rir de nós mesmos.
- A Lucimar adora uma fofoquinha. E você? É do tipo que quer saber de tudo ou prefere ficar na sua?
Gosto da fofoca, claro. Quem não gosta?! Mas sou mais discreta que a Lucimar, que fala sem filtro sobre o que ela viu e ouviu, acreditando que levar adiante não é um problema. Fofoca é o esporte do brasileiro, né? Nesse aspecto, eu sou diferente da Lucimar.
- A personagem caiu nas graças do público por dizer o que pensa, sem filtros. Você é assim também na vida real ou prefere guardar para você?
Falo o que penso como a Lucimar, mas tento usar palavras que sejam mais polidas. Ela fala assim como pensa. Penso um pouco mais sobre o que vou dizer, mas acho esse aspecto superpositivo. Falar o que talvez todo mundo tenha medo de dizer e ninguém diz, fazendo uma política que muitas vezes, não contribui.
- Assim como na novela, já teve que dar uma "vassourada" em alguém pra se impor?
Eu já tive, sim, que me impor de maneira mais consistente, principalmente com homens, para afirmar que podem pensar o que quiser, precisam me respeitar, assim como respeito a todos, independentemente de qualquer coisa. Muitas vezes, a vassourada tem que vir sim, ainda mais sendo mulher.