Laíze Câmara integra o elenco da novela Guerreiros do SolDivulgação/Carlos Sales

Rio - Laíze Câmara, de 33 anos, é uma das apostas de "Guerreiros do Sol", nova trama original do Globoplay. No folhetim, a atriz dá vida a personagem Francisca, uma prostituta astuta do sertão baiano das décadas de 1920 e 1930, que transita entre diferentes núcleos. A produção de 45 capítulos é livremente inspirada na vida de Lampião e Maria Bonita, e de muitos outros casais de cangaceiros. 
A artista entrou para a trama após enfrentar testes. "O Thiago Valente, que faz parte da direção e já conhecia meu trabalho, me indicou para a equipe de elenco. A partir disso, me sondaram para fazer alguns testes e acabei passando por três etapas até ser aprovada", recorda.
Para a construção da personagem, Laíze trabalhou prosódia com a preparadora da novela e teve ajuda de um amigo pessoal, que é do sertão do Cariri. "Estudei bastante sobre a vivência das mulheres, o contexto histórico e simbólico. O Jerry Kariri me ajudou muito com a embocadura e com a musicalidade dessa fala mais rústica e ao mesmo tempo carregada de poesia. Fui me conectando com o universo da personagem por outras vias também: música, imagem, corpo… um mergulho mesmo", diz. 
A atriz também se aprofundou no contexto histórico do sertão nordestino. "A mulher daquela época vivia com pouquíssimos direitos, quase nenhuma autonomia. Precisei esvaziar tudo que eu sou hoje e tentar imaginar como seria existir em um tempo tão diferente. Fui buscando os pontos em comum, porque o resto era ausência de voz, de afeto, de escolha. Nesse silêncio, fui encontrando a Francisca, que resiste como pode, que sente muito mais do que demonstra, e que carrega no corpo uma história coletiva", explica. 
A influência do cangaço moldou a personalidade de Francisca, deixando em evidência sua complexidade. "Ela é uma mulher que aprende a negociar o próprio corpo, o próprio silêncio, a própria existência. O que mais me pegou foi essa rebeldia silenciosa que ela carrega. Ela observa tudo, fala pouco, sente muito. É uma personagem que lida com o mundo de forma prática, mas que tem uma força interna absurda".
Na história, a atriz forma par romântico com Gustavo Machado, seu namorado na vida real, e conta como equilibra a relação amorosa com o trabalho. "A gente sabe separar bem o que é pessoal e o que é profissional, e isso nos dá liberdade em cena. Já existe uma confiança, que vira base segura para explorar, ousar, testar caminhos. Descobrir que a gente ia contracenar junto foi muito gostoso. Construir o romance da Francisca com o Novaes foi descobrir outra camada dessa relação, totalmente diferente da nossa. E isso foi o mais bonito", destaca. 
Com um elenco multifacetado, a produção tem sido motivo de alegria para Laíze. "O elenco é super diverso, com trajetórias e linguagens muito diferentes. Tive experiências muito marcantes com colegas que admiro profundamente. O Irandhir Santos, por exemplo, é um ator que me inspira demais. Ele entra no set já conectado, não desmonta, não se dispersa. Ele é presença pura, intensidade pura. Me identifiquei muito com esse jeito de trabalhar". 
"Guerreiros do Sol" marca o retorno da artista para uma novela da TV Globo desde a participação em "A Força do Querer" (2017), quando também foi dirigida por Rogério Gomes. "Voltar a trabalhar com ele foi uma alegria. É um diretor com visão de todo, sabe onde quer chegar e já vai montando esse quebra-cabeça enquanto dirige. É alguém que enxerga o ator como parte de uma composição maior e sabe extrair o melhor de cada um. Isso dá segurança e liberdade na mesma medida", elogia. 
Com mais da metade da trama disponível no Globoplay, a atriz externa o que espera que os telespectadores absorvam dessa história. "Que enxergue naquelas figuras do sertão não só um retrato do passado, mas também espelhos do presente. Porque tem muito da gente ali. Tem dor, tem amor, tem sobrevivência, tem beleza. E tem resistência. Que seja também um convite para olhar para nossa própria origem, pro que a gente carrega, mesmo sem perceber."
Universo Infantil 
Como diretora, o trabalho mais recente de Laíze Câmara é na direção e roteiro do documentário que mostra a trajetória de 30 anos do Palavra Cantada, formada pela dupla Sandra Peres e Paulo Tatit, referência no trabalho para o público infantil.
"Eu amo música. Tem muito som dentro na minha cabeça. Quando surgiu a chance de dirigir esse documentário, eu entendi que não era só um trabalho, era um encontro com a minha própria infância, com a infância de tanta gente. E também com uma dupla que tem uma trajetória muito genuína, que toca direto no coração de quem tá se formando no mundo. A Palavra Cantada, para mim, um jeito de ver a infância com respeito, poesia e inteligência", afirma. 
A artista fala sobre a imersão no universo do Palavra Cantada e a participação em outra gravação com o projeto. "Me envolvi de corpo inteiro e acabei criando vínculos afetivos muito fortes. A Sandra e o Paulo são artistas de uma escuta rara, de sensibilidade profunda. O processo de filmagem foi cheio de risos, lágrimas, descobertas. Quis fazer um filme que tivesse a mesma textura do que eles criam: lúdico, intenso e comovente. Em agosto, a gente vai filmar um grande show deles, no Rio de Janeiro", adianta.
A expectativa de Laíze é que o trabalho ganhe espaço em uma plataforma de streaming. "A história da Sandra e do Paulo é de entrega, de insistência. E poder mostrar isso ao mundo é uma honra. Agora é só esperar o momento em que tudo estiver finalizado, com o corte pronto, e eu possa finalmente respirar e aguardar por esse grande lançamento".