Dolly Alderton é a autora de ’Oi, Sumido’Joanna Bongard
Autora de 'Oi, Sumido' conta os motivos que a levaram a escrever sobre ghosting: 'É um enredo muito bom'
A inglesa Dolly Alderton vem fazendo sucesso no Brasil com seus livros sobre romance, amizades, família e relacionamentos: 'Acho as relações entre as pessoas a parte mais interessante de suas vidas'
Rio - As redes sociais e a internet mudaram a forma como as pessoas se relacionam. Um fenômeno que não é novo, mas que se tornou muito mais comum nos tempos atuais é o ghosting, que é o que acontece quando uma pessoa simplesmente desaparece da vida da outra, sem explicações, para não ter que terminar um relacionamento. É isso que a autora inglesa Dolly Alderton, de 35 anos, retrata em seu novo livro, "Oi, Sumido" (Ed. Intrínseca), que chegou ao Brasil em março.
Na trama, Nina Dean é uma mulher de 32 anos que está solteira há dois. Quando finalmente se vê pronta para namorar novamente, ela resolve entrar em um aplicativo de relacionamentos. Lá, conhece Max, um homem aparentemente perfeito. Em pouco tempo, os dois se tornam um casal. O problema é que um belo dia, depois de dizer “eu te amo” pela primeira vez, Max desaparece e para de responder às suas mensagens.
Dolly conta que decidiu escrever sobre o assunto ao perceber que uma grande parte de suas amigas tinham sido vítimas de ghosting. "Estava acontecendo com todas as minhas amigas solteiras. Era algo tão comum, acontecia toda hora. Sou muito interessada nos relacionamentos interpessoais e no que acontece em determinados estágios da vida, quais experiências em comum todos temos, e uma delas era que todas as mulheres que eu conhecia haviam sido vítimas de ghosting. Então, eu queria saber por que isso estava acontecendo. Quais são os efeitos psicológicos, as diferenças entre os gêneros, por que homens fazem mais ghosting que as mulheres? E, claro, eu quase não pude resistir porque também é um enredo muito bom, um mistério, mantém a história muito interessante", explica.
"Qualquer um que já passou por isso sabe que é muito traumático, mas não posso negar que também é excitante. Você não sabe pra onde a pessoa foi. Ela está morta? Fingiu a própria morte? Foi morar fora do país, quem sabe? Então, achei que daria uma história excitante", completa a autora, que revela que também já levou um "perdido".
"Claro, que sim. Eu já fui vítima de ghosting umas quatro vezes. E é muito interessante pra mim pensar 'por que isso continua acontecendo?'. Não aconteceu desde que eu escrevi 'Oi, Sumido', acho que nenhum homem ousaria fazer isso comigo agora que escrevi um romance sobre o assunto", dispara aos risos.
Questionada sobre como lidar com o sumiço repentino e sem explicação de um namorado, Dolly diz que sua opinião é polêmica. "As pessoas costumam discordar comigo nesse ponto. Pessoalmente, eu acho que você tem que continuar indo atrás, perseguir a pessoa que está fazendo ghosting (até ela dar um motivo para o sumiço). Desaparecer é um jeito muito eficaz de encerrar uma relação. Não é muito gentil, mas faz sentido. Quem gosta de ter uma DR? É o pior tipo de conversa que você pode ter. As três piores coisas que você pode dizer para uma pessoa são: 'alguém morreu', 'você está demitido' ou 'eu não quero mais estar com você'. Podemos todos concordar que não é uma conversa legal de se ter. Então eu entendo a vontade de apenas não ter essa conversa, torna tudo muito mais fácil para a pessoa que quer terminar a relação. Mas deixa tudo muito confuso, estranho e angustiante para quem foi deixado sem explicação".
'Tudo o Que Eu Sei Sobre o Amor'
Antes de "Oi, Sumido", Dolly Alderton se tornou uma autora best-seller por seu livro de memórias, "Tudo o Que Eu Sei Sobre o Amor", que também foi publicado no Brasil pela Intrínseca, em 2022. Dolly conta que publicar um livro de memórias foi uma experiência bastante intensa.
"É muito difícil emocionalmente, é muita exposição. Você se sente muito vulnerável, muito autoconsciente, além de ter que gerenciar as emoções, a privacidade, e o orgulho das pessoas sobre quem você está escrevendo. É preciso exercitar uma sensibilidade extrema, a não ser que você queira perder todo mundo que você ama", analisa.
"Eu não tinha ideia de como seria difícil namorar novamente depois de escrever 'Tudo o Que Eu Sei Sobre o Amor'. Não poderia prever que escreveria o livro e os homens se sentiram intimidados por mim e que eles iriam temer que eu escrevesse sobre eles. Para ser honesta, eu não conseguia mais fazer ninguém ter um encontro comigo ou me beijar por um longo tempo depois que escrevi aquele livro", diverte-se a autora.
"É por isso que é difícil (escrever memórias), mas é o meu jeito natural de escrever. É uma vergonha que eu não queria mais fazer isso, porque eu não consigo aguentar as consequências. Talvez um dia eu seja corajosa o bastante para escrever um livro de memórias novamente. Eu ainda escrevo um diário, apenas para mim, porque é uma inclinação muito natural. Um romance é muito mais fácil, emocionalmente, de escrever. Mas planejar um romance tecnicamente, os personagens, é mais difícil".
Amizade e relacionamentos
Um assunto frequente nos livros de Dolly Alderton é a amizade, principalmente entre mulheres. A autora revela que este é um de seus assuntos preferidos e tenta sempre mostrar que os relacionamentos amorosos não são centro da vida das mulheres. "Eu acho as relações entre as pessoas a parte mais interessante de suas vidas. Então, é sobre isso que eu gosto de escrever. Romance, amigos, família e, pra mim, as relações mais significativas e que me formaram são as amizades com as mulheres da minha vida. Eu também me sinto política sobre isso, já que ainda há um espaço especial (na sociedade) para as relações amorosas, isso parece sempre ser o objetivo para nós mulheres. Então, eu me sinto muito animada de escrever sobre amizade, esse outro tipo de amor nas nossas vidas".
Novo livro
Em breve os fãs poderão contar com uma nova história escrita por Dolly Alderton. Seu novo livro sai em novembro, mas ainda não há data de publicação no Brasil. "Meu novo romance sai em novembro. Acho que ainda não foi vendido para o Brasil. Mas o que eu posso dizer é que é sobre términos, corações partidos, e é diferente de tudo que eu já fiz antes porque temos um homem como narrador", avisa.
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