A atriz Léa Garcia, aos 90 anos, está lançando sua biografia Divulgação

Uma das grandes damas da dramaturgia brasileira, que este ano completou 90 anos, sendo 70 deles dedicados à carreira como atriz. Essa é Léa Garcia, uma das artistas mais marcantes do teatro e da TV brasileira. Carioca, atuou em dezenas de peças, longas, curtas-metragens e novelas. Símbolo do protagonismo da mulher negra na cultura e na arte, ela lança essa semana um olhar sobre a sua história, a sua biografia, o livro “Entre Mira, Serafina, Rosa e Tia Neguita: a trajetória e o protagonismo de Léa Garcia”, de Julio Claudio da Silva.
“O livro reverencia, comemora e fala sobre a minha trajetória na vida e na arte. Conheci o autor, o professor Júlio Cláudio da Silva, quando ele escreveu o livro sobre a Ruth de Souza. Um tempo depois ele foi ao Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões e eu estava lá, pois era diretora artística. Ele tinha uma vontade muito grande de escrever também um livro falando sobre a minha história e foi muito bom. Estou muito feliz com essa homenagem”, destaca Léa.
Ainda jovem Léa sonhava em ser escritora, foi incentivada a subir nos palcos pelo dramaturgo Abdias Nascimento. Sua primeira peça foi Rapsódia Nedra, em 1952, encenada pelo Teatro Experimental Negro. Um dos espetáculos de destaque no início da trajetória profissional foi Orfeu da Conceição (1956), de Vinicius de Moraes. A estreia na TV foi na TV Tupi, na década de 1950.
Com expressão e olhar marcantes, a atriz protagonizou uma das mais conhecidas antagonistas da televisão brasileira: a escravizada Rosa, em Escrava Isaura, uma das novelas mais reprisadas da teledramaturgia e exibida em mais de oitenta países. A atriz tornou-se conhecida internacionalmente com a atuação em seu primeiro filme, Orfeu do Carnaval, em 1959, dirigido por Marcel Camus.
“Minha trajetória até aqui foi uma luta muito grande, com muita resistência e muita vontade de vencer. Eu iniciei a carreira de atriz no teatro e segui minha carreira solo, por meio de convites e reconhecimentos da minha atuação enquanto atriz em televisão, cinema e teatro. E foi muito gratificante porque eu tive sorte, fiz trabalhos relevantes e com resultados que chegaram de uma forma positiva até os dias de hoje”, explica a artista.
Atualmente, a artista segue na ativa arrancando aplausos do público e elogios da crítica. Em 2022 percorreu os palcos do Rio de Janeiro e de São Paulo, com a peça A Vida Não é Justa, dividindo a cena com Emiliano Queiroz. Está no elenco do filme O Pai da Rita, que estreou em 2022 e grava a terceira temporada de Arcanjo Renegado, da Globoplay.
“Tenho recebido várias homenagens e todas elas são muito agradáveis. Sempre me senti bastante homenageada e dessa vez também estou me sentindo muito sensibilizada. E espero que isso não esteja acontecendo como o canto do cisne, né? (risos). Porque eu pretendo continuar e trabalhar mais por uns dez anos se possível! Inclusive eu já tinha falado que gostaria que essas homenagens fossem feitas quando eu realmente completasse um século. Porque um século é para ser comemorado! Mas, de qualquer forma, eu agradeço a todos que reconhecem o meu trabalho, que reconhecem a minha trajetória”, explica Léa.
Foi em Escrava Isaura que ela viveu seu grande desafio na pele da vilã Rosa. Apesar da consagração e do reconhecimento do público e da crítica, o papel também lhe rendeu alguns problemas. A atriz chegou a sofrer violência física de pessoas que não conseguiam separar a personagem da vida real.
“Minha personagem em Escrava Isaura eu considero um cartão de visitas, né? Em relação aos trabalhos que fiz e por ter sido em televisão, aconteceu uma divulgação muito grande nos lares e na vivência das pessoas. Mas eu considero todos os meus trabalhos muito importantes. Não tenho preferência assim tão acentuada por nenhum deles, todos compuseram a minha profissão e fazem parte da minha trajetória artística”, lembra a atriz.